quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Smash Ultimate está morto! Longa vida a Smash Ultimate! - Reflexões Boêmias

Smash Ultimate está morto! Longa vida a Smash Ultimate! - Reflexões Boêmias 

Na última terça, 05 de outubro, Masashiro Sakurai anunciou Sora, de Kingdom Hearts, o último personagem de DLC do segundo passe de temporada de Super Smash Bros Ultimate. O diretor já tinha revelado que não haveria uma terceira temporada de personagens adicionais e que uma vez encerrada a segunda temporada, todo o desenvolvimento do jogo seria encerrado. Pode parecer melancólico estarmos diante do fim do desenvolvimento de um jogo tão querido, mas isso não significa um desfecho amargo. Pelo contrário, eu diria que a franquia Smash Bros está hoje em sua era de ouro.

Meses atrás me lembro de ouvir o youtuber especializado em jogos de luta Maximilian Dood falar algo similar e aquilo ficou na minha cabeça. Dificilmente teremos outro Smash como foi Ultimate. Foi uma expansão nunca vista na franquia, que começou como uma celebração dos personagens da Nintendo, mas em seu terceiro jogo, Super Smash Bros Brawl para Wii, começou a adicionar personagens de outras desenvolvedoras como Sonic e Solid Snake. Isso se ampliou um pouco na versão para WiiU anos depois que surpreendeu ao trazer personagens como Pac-Man e DLCs como Ryu de Street Fighter e Cloud de Final Fantasy VII, mas não tinha mais outros como Solid Snake.

A impressão é que cada jogo rodaria entre novos personagens de outras desenvolvedoras, já que problemas de licenciamento desses personagens que não fossem da Nintendo impediria que eles fossem usados perenemente. Por isso foi tão surpreendente quando a Nintendo anunciou que Super Smash Bros Ultimate traria todos os personagens que apareceram nas versões anteriores, mesmo os de outras desenvolvedoras isso parecia por si só um grande feito. Somando os personagens originais da nova versão, que também trazia adições como Ken de Street Fighter ou Simon Belmont de Castlevania, o jogo já nasceu como uma edição histórica. Não era apenas mais um game de luta com ícones da Nintendo, era uma celebração dos grandes ícones da cultura gamer.

Esse sentimento foi amplificado ainda no início da primeira onda de DLCs, começando por Joker de Persona 5, um jogo que sequer estava em um console da Nintendo na época (isso só mudaria com o lançamento de Persona 5 Strikers). A introdução de um personagem que não estava conectado a nenhum lançamento para a gigante japonesa dava a impressão de que tudo valia em Smash Ultimate, que qualquer personagem, de qualquer jogo, de qualquer desenvolvedora poderia aparecer se fosse popular o bastante. Isso foi sedimentado com a chegada de Banjo, um personagem cujas primeiras aparições foram em aparelhos da Nintendo, mas que hoje pertence à Microsoft. Que Sakurai e sua equipe tenham conseguido negociar com um competidor direto e trazer um personagem para seu jogo já era um feito incrível.

Mais uma vez tínhamos a impressão de que qualquer coisa era possível. Cada novo anúncio era cercado de um hype enorme, conforme as pessoas começavam a imaginar quem viria a seguir. Dante de Devil May Cry? Crash Bandicoot? O Doom Slayer? Bubsy? Goku de Dragon Ball Z? Com o histórico que Ultimate construiu em torno de si nenhuma dessas apostas parecia absurda, qualquer uma delas era possível. Ao longo de seus três anos de suporte da Nintendo, Super Smash Bros Ultimate permitiu que os jogadores vivessem fantasias e fanfics de ver Ryu, Terry (de Fatal Fury e The King of Fighters) e Kazuya (de Tekken) trocando sopapos. Cloud e Sephiroth duelando em meio a Hyrule ou Simon Belmont usando suas armas de caçar demônios contra pokémons.

Cada um desses personagens era adaptado às mecânicas do jogo com muita reverência e afeto por Sakurai e sua equipe, mantendo as identidades e as mecânicas de seus jogos originais, como o fato do Steve de Minecraft ser capaz de escavar materiais ao longo da partida ou Terry usar os famosos Desperation Moves quando sua energia fica muito baixa. Se você jogou com um desses personagens em seus games originais, você vai intuitivamente ter uma mínima noção do que fazer com eles em Smash. A inserção deles não era meramente para arrancar dinheiro dos fãs, mas uma maneira de celebrar o que torna cada um desses personagens especial.

Por isso a introdução de Sora soa como um desfecho apropriado, literalmente usando sua Keyblade para fechar o portal de uma era de Smash. Ele próprio fruto de um crossover improvável entre Final Fantasy e Disney, certamente deve ter sido um dos personagens mais difíceis de conseguir, já que era necessário aprovação da Disney e da Square-Enix. Poucas pessoas conseguiriam navegar por tanta burocracia corporativa como Sakurai conseguiu ao longo desses quase seis anos de Super Smash Bros Ultimate (o desenvolvimento do jogo teria começado em 2015), mas a equipe se superava a cada novo anúncio. Claro, nem todos os personagens me atraiam (não tenho interesse nenhum em Minecraft, por exemplo), mas para cada um que não me despertava reação vinha outro que jogava minha empolgação às alturas, como Terry ou Sephiroth.

É justamente por conta dessas complicadas negociações que não creio que um outro Smash possa ter um plantel de personagens tão amplo ou que a muitos desses personagens retornarão em próximos games na franquia. Com absurdos 89 lutadores e mais 100 estágios (fora os Spirits, Assist Trophies e outros elementos) Super Smash Bros Ultimate é um marco que dificilmente será repetido. Claro, certamente a Nintendo fará outros jogos dessa franquia e que próximas versões podem ter gameplay ou netcode melhor, mas em termos de quantidade e variedade é pouco provável que consigam repetir o feito.

Super Smash Bros Ultimate é daqueles jogos que será lembrado mesmo décadas depois do lançamento como um dos pontos altos (e talvez O ponto alto) da franquia. Imagino que irá acontecer com ele algo parecido ao que acontece com títulos como Marvel vs Capcom 2 ou Dragon Ball Z Budokai Tenkaichi 3, jogos tão massivos que suas respectivas desenvolvedoras nunca conseguiram entregar algo parecido e até hoje os fãs pedem remakes, remasters ou relançamentos.

É justamente por ter alcançado esse patamar de que tudo é possível e ter criado um espaço que congrega tantos elementos da cultura gamer que o fim de Super Smash Bros Ultimate representa uma espécie de ponto culminante ou uma era de ouro para a franquia e tão cedo não será esquecido.

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