segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Crítica – Good Girls: 4ª Temporada

 

Análise Crítica – Good Girls: 4ª Temporada

Review – Good Girls: 4ª Temporada
O terceiro ano de Good Girls melhorava o desenvolvimento do trio principal e apontava rumos interessantes para a série, ainda que não reparasse os principais problemas. Este quarto ano, lamentavelmente o último por conta do inesperado cancelamento da série, não tem os méritos do anterior e volta a cair nas mesmas inconsistências e tramas pouco convincentes.

A narrativa segue onde o ano anterior parou, com Beth (Christina Hendricks) mais uma vez na mira de agentes federais. Pressionada, ela faz um acordo para entregar Rio (Manny Montana) e quem quer que esteja acima dele, mas Rio também pressiona Beth com provas contra ela. Assim, Beth precisa manobrar entre Rio e os federais para salvar a si mesma, a família, Annie (Mae Whitman) e Ruby (Retta).

O principal problema continua a ser a inconsistência das personagens. Beth é extremamente ardilosa, capaz enganar Rio e os federais, isto é até o roteiro decidir que ela não é e colocá-la para agir como uma completa imbecil. Isso fica evidente quando ela vai na casa de Rio com uma escuta e ao desconfiar que Rio sabe que ela está gravando tudo, ela tenta se livrar da escuta. Apesar de entrar no banheiro, ela não pensa em dar descarga no dispositivo ou mesmo enfiá-lo no fundo de uma lixeira, mas tenta esconder o aparelho atrás de uma pilha de livros onde qualquer um, mesmo acidentalmente conseguiria encontrar. O mesmo acontece com o plano dela de juntar dinheiro e fugir para outro estado. Ora, Dean (Matthew Lillard) está em liberdade condicional e é monitorado pelo governo, quanto tempo ela acha que conseguiria fugir com quatro crianças e um marido procurado? É um plano ingênuo e insustentável a longo prazo.

A trama tenta construir Beth como uma criminosa nata, alguém que passou a gostar e sente prazer nessas atividades ilegais, algo semelhante ao Walter White de Breaking Bad, no entanto é difícil comprar essa perspectiva quando ela constantemente age como uma idiota incapaz de entender a severidade das situações em que se envolve. Por outro lado, o conflito entre ela e Dean, que se ressente cada vez mais com a esposa por ser usado como peão e bode expiatório em seus esquemas é algo coerente com a jornada do personagem até aqui, principalmente quando flashbacks nos mostram como ele foi dedicado a Beth desde a juventude. O ressentimento de Dean acaba sendo fomentado pelo grupo de pais do bairro com o qual ele se envolve, uma mistura de esquema pirâmide e autoajuda, embora a reviravolta de que aqueles homens eram, na verdade, sujeitos frustrados, medíocres e descontentes com as próprias esposas seja relativamente previsível.

Outro acerto é aprofundar Rio, que sempre foi uma figura distante e misteriosa, mas que aqui tem o passado revelado. Os flashbacks do personagem mostram a relação conflituosa que ele tem com o primo/irmão Nick (Ignacio Serricchio) que se tornou um poderoso político em Detroit. A trama constrói as décadas de conflito conforme Nick construiu uma carreira e imagem respeitável em cima dos crimes de Rio, que evidentemente ressente de ter que se esconder nas sombras enquanto o parente colhe os benefícios e reconhecimento.

A trama de Beth entrando para a política reforça as ideias das temporadas anteriores de que o sucesso nos Estados Unidos é inalcançável para quem já não tem dinheiro, sendo quase impossível ascender socialmente sem recorrer ao crime. O retrato pintado pela série, não só aqui, mas desde o seu ano de estreia, é de uma sociedade profundamente desigual cujas estruturas são feitas para manter esses status quo.

Não é apenas Beth, porém, que é atrapalha por tramas inconsistentes, já que o mesmo acontece com Annie e Ruby. A narrativa envolvendo Annie se apaixonar por um sem-teto é desinteressante, enquanto que os problemas domésticos de Ruby nem sempre convencem. Incomoda inclusive que ela continue mancando por conta do tiro na perna que levou enquanto que Dean ou Rio que já formam baleados de maneira mais grave, se recuperaram sem problemas e não exibem qualquer sequela. O conflito entre Ruby e Stan (Reno Wilson) por conta da lealdade de Ruby a Beth tem vários problemas de execução.

O primeiro é que essa raiva de Stan não é devidamente construída, ele simplesmente acorda um dia e decide que Beth é a razão de todos os problemas deles. Diferente de Dean, cujo ressentimento com Beth vem aos poucos, Stan revela isso sem a devida preparação. A ação faz Stan soar hipócrita, já que ele e a família se beneficiaram desses esquemas o tempo todo (a filha dele só está viva por conta disso) e o próprio Stan já abraçou uma vida de crime. As ações dele e toda essa subtrama fazem Ruby soar como uma idiota passiva, como se ela tivesse sido forçada ou se submetido a Beth, quando, na verdade foi fruto das decisões da própria Ruby.

Seria fácil comprar a conduta de Stan se o texto enquadrasse isso como o orgulho ferido de ver Beth sendo mais capaz de resolver os problemas de sua família do que ele próprio, mas isso nunca acontece. O modo como Ruby estupidamente põe a perder o esquema que ela e o marido tinham de bolsas falsas também é um exemplo de como a trama deliberadamente “emburrece” as personagens em determinados momentos apenas para forçar crises.

O final carece de um senso de conclusão, já que obviamente não foi pensado para ser o desfecho da série e todos contavam com um quinto ano para concluir a narrativa. O final de Beth até pode funcionar como definitivo para a personagem, mas o mesmo não acontece com Annie e Ruby, cujas tramas terminam em ganchos para conflitos que seriam desenvolvidos em uma temporada posterior.

Nesse sentido é difícil verdadeiramente avaliar esse quarto e último ano por ele não ter sido construído como tal. É um final que não serve como final, embora esse não seja seu único problema e a série, mesmo depois de se recuperar em um bacana terceiro ano, tenha novamente se entregado a conflitos forçados e ações pouco convincentes que não aproveitam o entrosamento do elenco ou os pontos fortes da premissa.

 

Nota: 5/10


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