quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Crítica – Pray Away

 

Análise Crítica – Pray Away

Review – Pray Away
Já faz um tempo que se fala sobre o problema das chamadas “terapias de conversão” tratamentos fundamentados em um misto de religião e pseudociência que prometem mudar a sexualidade de uma pessoa para fazê-la se adequar a padrões heteronormativos. Em termos mais simples, é a chamada “cura gay”, sendo que ser gay sequer é considerado doença por entidades internacionais da área de saúde mental, então são métodos baseados em puro preconceito.

O documentário é centrado nos testemunhos de ex-lideranças da Exodus, uma das principais entidades que promoviam a terapia de conversão. Esses antigos líderes eram supostos “curados” que se tornaram porta-vozes da entidade, mas com o tempo viram que apenas estavam se submetendo (e submetendo outros) a tortura psicológica.

A narrativa faz um panorama histórico desses tipos de tratamento, mostrando como esses métodos iniciaram no final da década de 1970, surfando na onda de pânico que havia no período por conta do alastramento da AIDS. Aproveitando o medo de membros da comunidade LGBTQIA+ em se contaminarem com a doença, alguns grupos religiosos começaram a “vender” tratamentos baseados em oração e estudos da bíblia que prometiam fazer as pessoas mudarem e muita gente, com medo da AIDS, embarcou. Com o tempo essas entidades ganharam força e poder político, inclusive junto a legisladores e passaram a fazer lobby para bloquear leis de direitos civis para a população LGBTQIA+.

A trama se apoia quase que inteiramente em testemunhos e imagens de arquivo, mostrando como os personagens do filme costumavam defender esses tratamentos e com eles no presente narrando as consequências do tratamento em si mesmos. São testemunhos fortes, que narram atos de automutilação e ideação suicida por não conseguirem suprimir o desejo sexual conforme o tratamento prometia. Isso fazia essas vítimas acharem que estavam além de qualquer ajuda, que eram casos perdidos e eram consumidos por uma vergonha e culpa forçadamente incutidas nele.

Pelo teor do que é narrado, não recomendo que ninguém que não esteja se sentindo bem mentalmente assista o longa, mas para todos os outros é um material importante e necessário para se compreender o dano que esses tratamentos causam na vida das pessoas que se submetem (ou são submetidas) a ele. O teor da denúncia é suficiente para impactar mesmo quando o filme é estruturalmente apoiado nos elementos mais manjados de documentário (entrevistas e arquivos) sem nada de muito criativo ou envolvente na maneira como a trama é apresentada.

Além das ex-lideranças do Exodus o documentário também segue um sujeito que se diz “ex-transgênero” e que lidera um grupo recente que promove terapias de conversão. A produção, no entanto, nunca confronta o entrevistado com as críticas feitas aos métodos que ele emprega e esse personagem só está no filme para que a montagem o contraponha com as falas dos ex-Exodus que revelam como grupos assim sempre existirão enquanto a homofobia for presente em nossa sociedade.

Mesmo sendo bem convencional em termos de estilo documental, Pray Away vale pela força dos relatos dos sobreviventes da “terapia de conversão” e serve como alerta sobre a necessidade de agir contra esses pseudotratamentos abusivos.

 

Nota: 7/10


Trailer

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