terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Crítica – Jay & Silent Bob: Reboot


Análise Crítica – O Império Contra-Ataca: Reboot


Review – O Império Contra-Ataca: Reboot
Apesar de terem aparecido em todos os filmes de Kevin Smith desde sua estreia em O Balconista (1994), a dupla Jay e Silent Bob só foi ter um filme como protagonistas em O Império (do Besteirol) Contra-Ataca (2001). Agora, a dupla volta a protagonizar uma nova comédia neste Jay & Silent Bob: Reboot e fui assistir me ainda havia algo de interessante a ser dito sobre esses personagens ou todo o “humor nerd” do diretor Kevin Smith.

Sim, pois quando Smith surgiu na década de noventa, suas narrativas sobre amigos que vagam em lojas de conveniência e shoppings falando de quadrinhos e ficção-científica eram novidade. Ele falava com sinceridade e afeto sobre um tipo de pessoa que o cinema hollywoodiano sempre tratava numa chave de ridículo e havia um frescor nisso. Hoje, com a cultura nerd tomando o mainstream do pop, não há mais como dizer que Smith tem uma perspectiva única sobre este universo. Ao trazer a palavra “reboot” no título, imaginei que Smith poderia ter algo a dizer sobre a maneira como a cultura nerd foi apropriada pela indústria e é mais ou menos o que ele tenta fazer, embora não seja exatamente bem sucedido.

Na trama, Jay (Jason Mewes) e Silent Bob (Kevin Smith) são processados por um estúdio de hollywood pelos direitos dos nomes dos personagens e dos super-heróis inspirados por eles. A dupla descobre que um reboot de seus personagens de quadrinhos está sendo feito e parte para tentar impedir a realização do filme.

É, na prática, a mesma trama de O Império (do Besteirol) Contra-Ataca e o texto até reconhece isso com algumas piadas metalinguísticas, o problema é que essa e outras escolhas vão de encontro com a tentativa de criticar Hollywood. Em muitos momentos os personagens falam como a indústria usa a nostalgia como muleta afetiva por saber que as pessoas irão consumir só por terem boas memórias de um determinado personagem. Fala também da maneira cínica como a indústria muitas vezes usa a ideia de diversidade, refazendo antigas propriedades com um elenco mais diverso como se isso sozinho pudesse sustentar um filme.

Apesar de criticar todas essas coisas, Smith faz exatamente tudo que critica. Muitas cenas do filme não possuem qualquer outro propósito a não ser apelar para a nostalgia do espectador, conforme a dupla principal encontra personagens de outros filmes de Smith, como o momento em que o anjo Loki (Matt Damon) de Dogma (1999), a presença de Brodie de Barrados no Shopping (1995) ou a cena com os personagens de Procura-se Amy (1997). Todas elas existem basicamente para apelar para a nostalgia do público e poderiam ser removidas sem qualquer prejuízo para a trama (embora a piada de Ben Affleck envolvendo o nome Martha Wayne tenha me feito rir).

Do mesmo modo, Smith recicla as mesmas piadas e situações de O Império (do Besteirol) Contra-Ataca, mas agora com um elenco feminino multiétnico, já que a filha de Jay, Milly (Harley Quinn Smith, filha do diretor Kevin Smith), e um grupo de amigas dela acompanha a dupla de protagonistas em sua viagem. Desta maneira, Smith faz tudo que tenta criticar e não há humor metalinguístico que consiga salvá-lo das contradições em que se coloca. Afinal, seu filme é, de fato, um apelo à nostalgia de quem cresceu com seus filmes e que não tem muito a dizer aos não iniciados no cinema de Smith.

Mais que isso, o humor de Smith aqui parece parado no início dos anos 2000, quando ele ainda era uma voz singular ao fazer piada com a cultura nerd. Hoje, porém, em um contexto em que produtos como The Big Bang Theory ou Deadpool fazem sucesso zoando a cultura o universo geek, Smith é só mais uma voz na multidão sem nada que o consiga diferenciar de dezenas de outras pessoas fazendo esse tipo de coisa, mas ele conduz o filme como se ainda fosse uma voz singular e diferente.

Por outro lado, o desenvolvimento da relação entre Jay e Milly surpreende pela maneira crível e emotiva com a qual tudo é feito, usando o arco para mostrar como Jay amadureceu (ou tentou amadurecer) nos anos que passaram. Em geral continuações tardias, como Debi e Loide 2 (2014), mantem os personagens idênticos a como eram vinte anos atrás e isso torna difícil retornar a eles, já que nós mudamos nesse meio tempo. Aqui, Smith consegue mostrar como Jay pode amadurecer e ter uma relação saudável com a filha sem perder a essência do que ele e, sinceramente, eu não esperava me importar tanto com esse arco do filme.

De todo modo, Jay & Silent Bob: Reboot permanece uma comédia cheia de contradições, aderindo a todos os elementos da cultura pop atual que tenta criticar e se entregando a humor repetitivo e piadas referenciais que podiam soar bacanas vinte anos atrás, mas se tornaram lugar-comum na contemporaneidade.


Nota: 5/10


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