quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Crítica – Buscando...


Análise Crítica – Buscando...


Review – Buscando...
Fui assistir Buscando... achando que seria mais um desses filmes que usa o formato de ser contado pela tela de um computador para disfarçar uma narrativa inócua, personagens desinteressantes e produção tosca tal qual Amizade Desfeita (2015). O que encontrei, no entanto, foi um competente suspense que tem muito a dizer sobre nosso comportamento online.

A narrativa segue David (John Cho), um pai viúvo que se distanciou da filha, Margot (Michelle La) depois da morte da esposa. Quando Margot desaparece misteriosamente, David resolve checar o computador da filha para buscar informações que possam ajudar na investigação policial liderada pela detetive Vick (Debra Messing). Aos poucos, David vai descobrindo que sabia muito pouco sobre a vida da filha.

O começo conta toda a vida de Margot desde a infância usando quase que exclusivamente meios visuais, com vídeos, e-mails e postagens em redes sociais para narrar a relação da garota com o pai. O filme mostra como os computadores se tornaram praticamente extensões das nossas mentes, servindo de repositórios da nossa memória (com fotos e vídeos), do nosso cotidiano (através das agendas), círculos de convivência (através de redes sociais) ou dos nossos pensamentos, principalmente pelo modo como os personagens digitam algo e depois apagam, denotando a hesitação e incerteza deles. O interessante é que o filme concebe esse panóptico do mundo digital como uma espécie de paradoxo: apesar de todos poderem ver e ser vistos por todo mundo, ninguém realmente olha um para o outro.

David e Margot estão conectados o tempo inteiro e se falam constantemente por mensagens e ainda assim David descobre que sabe muito pouco sobre quem a filha é ou quais eram seus interesses durante o período em que desapareceu. Do mesmo modo, apesar de ter centenas de amigos em redes sociais, Margot não tem nenhuma amizade real e não é próxima de ninguém.

A progressão da trama também revela como o meio virtual permite que as pessoas assumam uma conduta contrária ao mundo real apenas para angariar likes, views e compartilhamentos. Isso fica claro pela mudança de postura dos colegas de Margot, que no início, quando David entra em contato com eles, falam que não tinham muito contato com ela e depois quando a mídia começa a noticiar o caso de Margot todos fazem vídeos chorosos se dizendo grandes amigos da garota desaparecida e dizendo estar sentindo falta dela.

Como acontece com muitos outros “filmes de dispositivo”, a narrativa acaba um pouco presa demais ao próprio formato e começa a fazer malabarismos para tentar manter a história dentro do formato, como recorrer a câmeras da polícia para mostrar a confissão de alguém, o que não faz muito sentido. Se tudo é visto da tela de David, como ele teve acesso a isso? O filme poderia mostrar ele abrindo um email de algum policial encarregado, mas isso não acontece, o vídeo simplesmente pula na tela sem muita explicação. Outro problema é que o filme mostra a comoção ao redor do caso e fóruns de internet esquadrinhando cada reportagem a respeito, mas ainda assim só David percebe a foto que liga o principal suspeito e a polícia sendo que ela aparecia nos primeiros resultados de busca.

Apesar desses problemas, a trama é eficiente o bastante no manejo da intriga para nos manter em estado de tensão durante boa parte da projeção. Assim, Buscando... vai além de ser um mero “filme de dispositivo”, construindo um envolvente suspense que reflete sobre a desconexão causada por toda a conectividade à nossa volta.


Nota: 8/10


Trailer

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