sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Crítica - Iconoclasts



Eu me interessei por Iconoclasts desde que vi as primeiras informações sobre o jogo. Ele se vendia como um jogo de aventura estilo Metroid e estética 16 bits, mas o resultado final não é uma mera reciclagem de elementos familiares que necessita de nostalgia para funcionar. Iconoclasts é um afiado game que combina aventura, puzzles e combate com uma narrativa muito mais interessante do que se espera de um jogo assim e uma bela estética de pixel art que enche o mundo de personalidade. Um feito impressionante considerando que o desenvolver Joakim Sandberg fez o jogo inteiro sozinho ao longo de dez anos.

A trama se passa em um universo governado por uma ditadura teocrática na qual o governo determina a ocupação de cada pessoa. A protagonista é Robin, uma garota que quer ser mecânica, mas isso a coloca em rota de colisão com o regime, já que tecnologia é considerada algo sagrado e a profissão é altamente regulada. Essa premissa tradicional de uma jovem contra um império cruel é usada para criar personagens bem interessantes, cada um com seu próprio arco dramático abordando os traumas e inadequações de viver sobre um regime repressor. Ao longo do avanço da trama há um senso real de crescimento nesses personagens conforme os eventos vivenciados os afetam e eles se desenvolvem de modo bastante crível. Além disso há também espaço para humor e a presença de figuras excêntricas que rendem momentos bem divertidos em virtude dos diálogos sagazes, ajudando a conferir certa leveza e evitando que tudo se torne sisudo demais.


Visualmente encantador de olhar, a pixel art concebida por Sandberg cria um mundo cheio de cores vibrantes, paisagens insólitas e ambientes cheios de personalidade. Cada área explorada no jogo tem um tema próprio e é visualmente singular em relação ao restante daquele universo. Os personagens são bem expressivos, sendo possível compreender como eles se sentem apenas por sua linguagem corporal, principalmente Robin que é a típica protagonista silenciosa. Além disso alguns personagens tem tiques bem específicos, como o hábito da agente Black em colocar os dedos nas têmporas quando se irrita, que ajuda a tornar os personagens em sujeitos únicos.

Controlar Robin, seja em termos de movimentação e exploração ou de combate, é extremamente preciso, algo importante considerando que muitos puzzles e chefões requerem um timing bem específico para superá-los. Confesso que me surpreendi o quanto os puzzles testaram meu raciocínio e domínio das mecânicas de jogo, já que ultimamente não me sentia desafiado por boa parte de jogos desse estilo. Não chegam no nível de dificuldade de puzzles como os de The Witness ou The Swapper, mas ainda assim são muito bem engendrados.

O combate envolve correr e atirar, com Robin usando sua arma atordoante e chave inglesa contra os inimigos e as batalhas contra os gigantescos chefões remetem a embates caóticos de games como Metal Slug ou Gunstar Heroes. Os chefões testam tanto seus reflexos quanto a sua inteligência, quase como pequenos e velozes quebra-cabeças, e dando uma inesperada complexidade tática a esses embates. Ao longo de seu avanço Robin adquire munições diferentes para sua arma e chave inglesa que impactam tanto o combate quanto a exploração.

Além desses upgrades que são necessários para a progressão do jogo, há também um sistema de melhorias denominado tweaks que permitem a Robin criar equipamentos usando os minerais coletados ao longo da exploração. Esses equipamentos oferecem alguns pequenos bônus no dano ou alcance da chave inglesa de Robin ou no tamanho da barra de oxigênio da protagonista quando ela está sob a água. São alterações bem pequenas para causarem um impacto significativo na jogabilidade, o que faz todo esse sistema de criação de itens soar como um grande desperdício, já que ele tinha potencial para oferecer uma gama maior de possibilidades estratégicas ao usuário.

Isso, no entanto, acaba sendo uma questão menor em um jogo cheio acertos. Iconoclasts consegue ser nostálgico sem ser uma mera repetição de elementos familiares, criando um mundo singular e vibrante, personagens carismáticos, narrativa envolvente e uma jogabilidade instigante com puzzles desafiadores.


Nota: 9/10


Obs: O jogo está disponível para PS4, PS Vita, Nintendo Switch e PC.

Trailer

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