quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Crítica – O Hobbit: A Desolação de Smaug

Quando falei sobre O Hobbit: Uma Jornada Inesperada mencionei como estava temeroso que a opção por dividir o curto romance de J. R. R. Tolkien em três filmes poderia resultar em produtos inchados que não justificariam sua longa duração ou a opção por três filmes e é esse o principal problema deste segundo filme.
A trama continua  a acompanhar Bilbo (Martin Freeman) e a companhia de anões liderada por Thorin Escudo de Carvalho (Richard Armitage) para chegar à Montanha Solitária e reaver o tesouro dos anões tomado pelo dragão Smaug (Benedict Cumberbatch). Enquanto isso, um velho inimigo parece ganhar cada vez mais poder e mago Gandalf (Ian McKellen) e se afasta dos companheiros para investigar o misterioso Necromante (também com a voz de Benedict Cumberbatch).
O filme não demora tanto para engrenar como seu antecessor, sendo menos lento e mais recheado de ação. O longa também se apresenta mais coeso e menos difuso ao usar a questão da ganância e cobiça como eixo temático, unindo assim os arcos dos diferentes personagens presos a um desejo a algo que não podem ou não devem ter, vemos isso na afeição proibida de Legolas (Orlando Bloom) pela elfa Tauriel (Evangeline Lily), a ligação crescente entre Bilbo e o Um Anel, a cobiça do corrupto prefeito (Stephen Fry) da Cidade do Lago e a crescente obsessão de Thorin em reaver seu tesouro, que o deixa cada vez mais teimoso e cego ao que ocorre ao seu redor, algo que poderá ser sua ruína.

Sob este aspecto, neste segundo capítulo temos um pouco mais de espaço para os personagens se desenvolverem. Vemos Bilbo ganhar mais confiança como aventureiro ao mesmo tempo em que cai cada vez mais sob o julgo do Anel, presenciamos como a crescente teimosia e orgulho de Thorin lhe custa possíveis aliados e como Balin (Ken Stott) se torna cada vez mais preocupado com ele, tentando trazer de volta a sua consciência. Os demais anões continuam sem muito aprofundamento e algumas tentativas de dar mais espaço a alguns deles acabam soando desnecessárias como a tentativa de construir um romance entre Kili (Aidan Turner) e Tauriel.
As cenas de ação são bastante empolgantes e muito bem realizadas, em especial a sequência dos barris que mais uma vez mostra Legolas eliminando dezenas de orcs de maneiras inacreditavelmente estilosas. Fica o destaque também para o clímax envolvendo Smaug, provavelmente o dragão mais majestoso e impressionante a aparecer nas telas em muito tempo. A naturalidade de seus movimentos e o nível de realismo de suas texturas e escamas é de saltar os olhos, mas nada disso valeria sem a voz poderosa e imponente de Benedict Cumberbatch, uma qualidade que mencionei ao falar do ator em Além da Escuridão: Star Trek, ao dublar a criatura.
O problema é mesmo o fato de ser uma trilogia feita a partir de uma obra que caberia tranquilamente em um filme e assim a presença de muitos elementos, tanto os criados originalmente para o filme quanto os já presentes no livro, parece ocorrer apenas para inchar mais o filme e justificar essa trilogia. Algumas subtramas como o envenenamento de um dos anões, o já citado romance entre Kili e Tauriel, a presença dos orcs na Cidade do Lago e até mesmo todo o segmento (este sim tirado do livro) com o transmorfo Beorn (Mikael Persbrandt) poderiam ser removidos tranquilamente sem causar danos à trama e melhorando o ritmo. Já as cenas envolvendo o passado de Bard (Luke Evans) e sua tentativa de preparar a Cidade do Lago para a vinda de Smaug poderiam ficar para o terceiro filme.
Aqui também percebemos a incômoda “síndrome de capítulo do meio” que falei também quando tratei de Jogos Vorazes: Em Chamas, já que o fim aberto sem trazer qualquer tipo de resolução pode ser frustrante para muitos. Por mais que seja previsível e que saibamos que ele encerrará deixando muito a ser resolvido no próximo, a sensação de ter a história interrompida bem no meio do clímax acaba sendo incômoda.
O Hobbit: A Desolação de Smaug é uma continuação mais movimentada, empolgante e bem resolvida que o anterior, embora continue sofrendo com o fato de ser um material excessivamente inchado e dilatado para preencher três filmes ao invés de apenas um.
Nota: 7/10

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