sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Crítica - Dragon Quest Heroes



Depois de dar o tratamento Dynasty Warriors à franquia Zelda em Hyrule Warriors, a desenvolvedora Omega Force agora se volta para levar a série de RPGs Dragon Quest ao seu estilo de combates massivos e cheios de ação com este Dragon Quest Heroes: The World Tree's Woe and the Blight Below (sim o título é tudo isso).

A história acompanha personagens novos à franquia, Luceus e Aurora, cavaleiros à serviço do também inédito Rei Doric. Quando uma calamidade toma o reino e torna os monstros amigáveis em inimigos, eles precisam viajar pelo globo para restaurar a mítica árvore Yggdrasil, encontrando ao longo da jornada personagens clássicos dos diferentes episódios da franquia, transportados acidentalmente para este mundo devido à calamidade que assola o mundo. É uma narrativa bem tradicional de luz contra trevas, bastante parecida com a maioria dos RPGs japoneses, mas funciona por causa do carisma dos personagens e das divertidas interações entre eles, principalmente para os fãs de longa data da franquia.

A dublagem ajuda a conferir personalidade a esta trama genérica e as vozes contribuem a dar individualidade a cada um deles, das gírias cockney faladas por Yangus, ao sotaque russo de Kiryl e a sutil fala indiana de Maya. Igualmente carismático é o design do mestre Akira Toriyama (criador de Dragon Ball), que concebe criaturas monstruosas e por vezes adoráveis ao mesmo tempo que atualiza os visuais dos protagonistas de outrora. Suas criações para a franquia Dragon Quest nunca pareceram tão vívidas e detalhadas quanto aqui. Os cenários, normalmente o ponto fraco dos Dynasty Warriors por serem bem genéricos, apresentam-se aqui com mais personalidade, oferecendo ambientes variados como cidades, florestas e desertos, alguns exibem até perigos e obstáculos ambientais como lava ou areia movediça. Não são exatamente de encher os olhos como os modelos de personagem, mas também não são completamente esquecíveis.

Como em qualquer game da Omega Force, o foco é a ação hack and slash com centenas de inimigos aparecendo na tela e com os personagens exibindo poderes capazes de dizimar dezenas de oponentes ao mesmo tempo. Diferente do que acontece em Dynasty Warriors, cujas missões envolvem o controle de territórios eliminando generais inimigos, aqui elas envolvem a constante eliminação de portais chamados Maws, ocorrências responsáveis por transportar os monstros ao mundo, assim o combate é menos um cabo de guerra territorial e mais uma constante corrida para "apagar incêndios". Com diferentes combos e habilidades, cada personagem é único e possui um estilo muito particular. É possível se dar bem apertando loucamente os botões se estiver usando alguém como Luceus, mas alguém como Isla exige timing preciso se o jogador quiser ser eficiente com seu bumerangue.

Em batalha o jogador forma um grupo com quatro personagens e poder alternar o controle livremente entre os membros do grupo, enquanto os outros três são controlados pelo computador. De início fiquei preocupado com capacidade da IA em acompanhar a ação, já que nas primeiras missões os vi parados muitas vezes enquanto despachava sozinho os monstros, no entanto, conforme as criaturas se tornam mais numerosas ao ponto que não é possível dar conta delas sozinho, a IA entra em ação com competência, sendo perfeitamente capaz de cuidar de si e do grupo. O único problema é que não é possível dar comandos aos personagens do computador, já que seria bastante útil poder mandar alguém para um determinado lugar do mapa ou manter alguém parado proteger um ponto específico.

Como em qualquer RPG, é importante saber montar um grupo equilibrado, cujas habilidades se complementam, de modo a ser bem sucedido no combate. Encher o grupo de personagens com características similares pode até funcionar no início, mas conforme se avança pelas cerca de quarenta ou cinquenta horas necessárias para terminar a campanha e as missões secundárias, a variação tática se torna mais importante. Também remetendo às suas origens de RPG, os personagens sobem de nível e ganham pontos de habilidade que o jogador precisa distribuir para melhorar os poderes e atributos dos personagens. O recurso da alquimia, constantemente presente na franquia, também aparece, permitido ao jogador coletar materiais dos monstros derrotados para criar equipamentos.

Nas batalhas os personagens também podem contar com a ocasional ajuda de monstros, que podem ser convocados ao combate ao coletar medalhas chamadas Monster Medals de inimigos derrotados. Alguns monstros atuam como sentinelas, patrulhando a área próxima ao local enquanto que outros apenas executam um ataque e somem logo depois. O recurso traz um tempero mais tático e estratégico às batalhas, já que o uso preciso dos monstros tem potencial para mudar os rumos de uma batalha ou levá-la ao fracasso caso não sejam bem manejados.

Apesar dos objetivos serem quase sempre os mesmos (eliminar todos os monstros ou defender alguma coisa), o combate nunca se torna enfadonho graças à refinada e veloz mecânica de combate, a ampla variedade de inimigos, as diferentes habilidades de cada personagem e ao aumento gradual (mas nunca abusivo) da dificuldade, incluindo a presença de alguns chefes opcionais pós-campanha que exigem amplo domínio das mecânicas do jogo para se obter sucesso. A única coisa que realmente incomoda é a total ausência de multiplayer, local ou online, já que a única coisa mais divertida que dizimar hordas de monstros sozinho, seria fazer isso ao lado de amigos.

Como resultado, Dragon Quest Heroes é beneficiado por um combate veloz, variado e com leves camadas de estratégia, cujos personagens carismáticos compensam pela trama derivativa, embora esse aspecto seja mais apreciado por quem tem algum conhecimento prévio do universo de Dragon Quest.

Nota: 8/10

Obs: O texto foi feito a partir da versão de PS4 do game, que também está disponível para PS3 e PC.

Trailer:

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