segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Crítica - Horas de Desespero

Análise Horas de Desespero

Review Horas de Desespero
O título nacional deste Horas de Desespero (No Escape no original) dá a impressão de ser um daqueles "filmes B" de suspense que são repetidos à exaustão nas madrugadas de sábado no Super Cine da Globo e, bem, é exatamente isso.

No filme acompanhamos o engenheiro Jack (Owen Wilson) é transferido de seu trabalho para um novo cargo na Ásia e leva a família junto. Chegando lá, além de precisarem lidar com a mudança, a família é pega de surpresa quando um golpe de estado explode no país e o hotel em que eles estão é tomado por revolucionários que começam a executar todos os presentes. Assim, começam uma corrida desesperada não apenas para fugirem do hotel, mas para saírem do país.

A primeira coisa que salta aos olhos é modo como tal país é representado, primeiro porque nunca é especificado se estamos na Indonésia, Camboja, Laos, Tailândia ou qualquer outro país da região, provavelmente porque os realizadores acharam que era tudo igual e não fazia diferença (e também para não despertar reações negativas de nenhum desses países, já que certamente visam a distribuição internacional). Além disso, durante a primeira meia hora o filme irá fazer questão de mostrar quanto o país é atrasado, pouco desenvolvido e sua população é composta por um bando de primitivos incultos que são atrasados até nas suas referências culturais ao mundo ocidental, como o motorista que é fã de Kenny Rogers.

O hotel, que deveria ser de luxo, é cheio de problemas, a luz, o telefone e a televisão não funcionam e ainda por cima a televisão é um velho aparelho, daqueles com tubo de imagem e os personagens ainda ressaltam em suas falas o quanto aquele lugar é atrasado e subdesenvolvido. Eu imagino que a ideia seria mostrar como a nova casa deles é diferente de seu lugar de origem, mas existem outros modos de construir essas oposições que não implicam em inferiorizar toda uma região do planeta.

Ainda por cima o casal de protagonistas é completamente incapaz de falar qualquer palavra no idioma local, o que não deixa de demonstrar uma certa postura colonialista, já que o sujeito iria passar um bom tempo trabalhando ali. Não estou dizendo que ele teria de fazer um curso para ser fluente no idioma (até porque a empresa não ia esperar até que ele fizesse), mas que pelo menos falasse um "por favor", "obrigado" ou "onde é a banca de revista", podiam botar o personagem para andar com um daqueles guias de viagem com frases prontas, mas não, é um boçal que acha que todo mundo tem obrigação de saber inglês para falar com ele.

Além disso os revolucionários jamais falam ou tratam do que querem ou suas motivações, quando abrem a boca é apenas para fazer ameaças de morte nada mais. A única explicação sobre o que está acontecendo vem de outro personagem branco e anglófono que é interpretado pelo ex-James Bond Pierce Brosnan. Por mais que a descrição do personagem tente trazer alguma humanidade aos revolucionários, essas pessoas permanecem completamente bestializadas pelo resto do filme, se comportando apenas como monstros sanguinários. Sendo assim, o fato de se passar durante uma revolução em um país asiático torna-se completamente irrelevante para trama, os revolucionários poderiam facilmente ser substituídos por zumbis, alienígenas, lobisomens ou qualquer outro monstro ou criatura que não iria fazer nenhuma diferença.

Dito isto, o filme consegue, de fato, ser eficiente em criar uma atmosfera de perigo constante e tensão em muitos momentos, em especial todo o segmento inicial do hotel e o momento em que Jack e uma de suas filhas são pegos pelos revolucionários. A questão é que para cada bom momento tem outro de revirar os olhos. Um exemplo é quando Jack e a família andam pelas ruas com o rosto coberto e um dos revolucionários percebe os olhos ocidentais do personagem, mas, de modo inexplicável, os deixa ir sem muita explicação, quando facilmente poderia tê-lo desmascarado e deixado a turba furiosa cuidar deles. Outro é o pífio clímax quando chegam na fronteira do país e o exército vizinho ameaça atirar neles, mas permite que todos atravessem sem problemas, nunca explicitando o motivo da mudança de atitude dos militares.

Owen Wilson surpreende ao deixar de lado sua tradicional persona relaxada (principalmente depois de um trabalho pavoroso no péssimo Para o que Der e Vier) para assumir uma postura mais séria, sendo bastante eficiente em convocar a urgência e desespero de um pai de família querendo levar sua família para um lugar seguro. Pierce Brosnan também convence como um veterano e desencantado agente britânico, mas ele é mais um dispositivo de roteiro, aparecendo do nada sempre que os protagonistas parecem sem saída, do que um personagem plenamente realizado. Por outro lado, Lake Bell fica presa a um papel vazio como a esposa de Jack, se limitando apenas a seguir os comandos do marido durante noventa por cento da fita.

Horas de Desespero desperdiça um bom elenco com personagens superficiais em uma trama sem brilho, além de uma visão de mundo retrógrada que acaba por não fazer valer os poucos bons momentos de tensão.

Nota: 4/10

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