quinta-feira, 30 de julho de 2015

Crítica - D.U.F.F

 
D.U.F.F é mais um filme adolescente sobre alguém deslocado que tenta se encaixar na rígida e cruel hierarquia social do ensino médio. Não é um retrato mordaz desse universo como Meninas Malvadas (2004), tampouco tem o cinismo e a ironia de A Mentira (2010), mas é suficientemente esperto e carismático para funcionar.
 
Acompanhamos Bianca (Mae Whitman), uma adolescente que é amiga de duas das garotas mais populares da escola, mas que não é tão atraente ou popular quanto elas. Sua vida muda quando o atleta Wesley (Robbie Amell) lhe diz que ela é uma DUFF, sigla para Designated Ugly Fat Friend, algo como "Amiga gorda e feia obrigatória" em português. Basicamente é aquele amigo esquisito (não necessariamente gordo ou feio) que é usado pelos demais para parecem mais bonitas e facilitar a aproximação com outras pessoas, uma espécie de "escada" do grupo. Ao saber disso, Bianca decide que não que mais ser uma D.U.F.F e pede que Wesley lhe ajude a ser como uma das garotas bonitas e populares e conquistar o garoto por quem é apaixonada, Toby (Nick Eversman).

A narrativa toca nos mesmos temas de busca por identidade e auto-aceitação que boa parte da ficção adolescente explora, como o recente Cidades de Papel, além de explorar os conflitos já familiares, como a busca por um par na formatura, o bullying (ou ciber bullying nesse caso) e até o já tradicional momento em que a protagonista parece estar prestes a conseguir a pessoa de seus sonhos apenas para se dar conta de que gosta realmente de seu melhor amigo.

Não há nada de exatamente novo e surpreendente, embora aqui e ali evite de cair no lugar comum, a exemplo da decisão de não vilanizar as amigas de Bianca como patricinhas dissimuladas e mostrar as garotas como verdadeiras amigas com razões genuínas para gostarem de Bianca e que não se importam com rótulos. Nesse sentido, o principal acerto da história é no modo em tratar como os dispositivos digitais estão completamente integrados à vida dos adolescentes e são uma extensão de suas identidades, com caixas de texto e hashtags pipocando na tela a todo momento, como se estivéssemos em algum ambiente virtual, tanto que quando Bianca decide se afastar das amigas temos uma engraçada cena envolvendo as três com seus celulares enquanto descurtem e excluem as redes sociais umas das outras. Por outro lado, a tentativa do filme em abordar a questão do bullying virtual e suas consequências também é interessante, mas o tema acaba não recebendo a cuidado devido e é resolvido muito rápido e muito fácil quando uma das amigas de Bianca, que convenientemente é uma hábil hacker, tira o vídeo ofensivo do ar.

Outro grande trunfo é a dupla principal do filme, especialmente Robbie Amell, já que fazer alguém tão estúpido e cafajeste não soar aborrecido ou caricato não é tão fácil quanto parece e requer uma certa competência, além de uma boa dose de carisma. Claro que ele acaba revelando ser algo mais que isso conforme o filme avança, mas se ele não tivesse conseguido atrair nosso interesse já de início, a virada do personagem não convenceria. Já Mae Whitman trabalha bem a "esquisitice", por assim dizer, que a distancia dos colegas, bem como o charme e carisma que nem ela mesma parece saber que tem. A atriz também é eficiente em mostrar como o bullying e as fofocas podem abalar até mesmo alguém confiante e despreocupada com opiniões alheias como Bianca. Além da dupla, alguns coadjuvantes roubam a cena, como a mãe dela (Allison Jenney), seu professor de jornalismo (Ken Jeong) e o diretor da escola (Romany Malco), que geram momentos engraçados sempre que aparecem.

D.U.F.F pode não ser tão inovador quanto se considera ser, mas ainda assim é uma comédia bem interessante sobre aceitar quem somos e não se conformar com os rótulos dos outros.

Nota: 6/10

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