sexta-feira, 3 de março de 2023

Crítica – Excluídos

 

Análise Crítica – Excluídos

Produção da Netflix, Excluídos tenta falar sobre desigualdade racial e preconceito na Inglaterra a partir de uma trama de suspense. É uma narrativa sobre alienação e assimilação, sobre pertencimento e exclusão, orgulho de ser quem é e ódio de si mesmo. Não são ideias simples e nem sempre as coisas são conduzidas com o cuidado que deveriam, mas a produção não deixa de apresentar provocações envolventes.

A trama é protagonizada por Neve (Ashley Madkwe) uma mulher negra que vive com o marido branco e os dois filhos em um idílico subúrbio britânico. Ela tem a vida que sempre desejou, trabalhando como vice-diretora em uma escola de elite e sendo respeitada em sua comunidade. Sua vida cuidadosamente construída, porém, começa a ser perturbada quando um casal de irmãos negros começa a aparecer em seu bairro, interagir com sua família e dizer que tem informações sobre seu passado.

De certa forma, o arco do filme é mostrar como uma elite branca só aceita pessoas negras quando elas se permitem serem assimiladas. Neve, por exemplo, não se permite ser vista sem sua peruca de cabelos lisos e seu tom de pele mais claro permite que ela chame menos atenção entre os brancos. Para ser vista como igual ela precisa parecer igual. Essa noção também está presente no diálogo entre Neve e o marido, Ian (Justin Salinger), no qual Ian exibe uma breve hesitação na voz ao dizer que aceitaria criar os filhos retintos de Neve de um relacionamento anterior.

Nesse sentido, para além das questões de aculturação e como a retórica dominante faz a pessoa ter problemas de autoestima por não ter a aparência considerada ideal, o filme também lida com temas de colorismo. Se as ideias de preconceito, exclusão e aculturação recebem ao menos algum grau de discussão, o tema do colorismo acaba ficando subjacente demais não é abordado com o cuidado necessário, como fez o ótimo Identidade (2021)

Outro problema é que o clímax deixa de lado boa parte dessas ideias para virar um típico suspense de invasão doméstica com uma família sendo aterrorizada por invasores. Se o casal de irmãos tinha uma motivação compreensível para se colocar na vida de Neve, o roteiro trabalha ativamente para não nos permitir ter empatia por eles já que eles parecem dispostos desde o início a aterrorizar a vida e a família da protagonista. Funcionaria melhor se eles se aproximassem de modo mais ingênuo e então depois de rechaçados por Neve, fossem agir de modo mais agressivo. Felizmente o desfecho nos lembra quem é o verdadeiro vilão da história, evidenciando como o desejo de se encaixar a qualquer custo ao invés de enfrentar a realidade de quem é ou as consequências de seus atos de exclusão são a força maligna por trás dessa trama. O individualismo que só busca uma ascensão social em nível pessoal ao invés de tentar mudar o sistema em busca de uma transformação coletiva.

Excluídos nem sempre dá conta de suas ideias sobre preconceito, exclusão e colorismo, mas sua hábil condução do suspense e da tensão, além de um bom desfecho, fazem valer a experiência.

 

Nota: 6/10


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