quarta-feira, 2 de maio de 2018

Crítica - Tudo Que Quero




Tudo Que Quero é centrado em Wendy (Dakota Fanning), uma jovem autista e fã de Star Trek que foge de sua cuidadora para poder participar de uma competição de roteiros para o próximo filme da franquia Star Trek. O sumiço de Wendy deixa a sua responsável, Scottie (Toni Colette), e sua irmã, Audrey (Alice Eve), que correm para tentar encontrá-la. Wendy, no entanto, vai aos poucos aprendendo a se cuidar sozinha e a superar as dificuldades que encontra pelo caminho.

A estrutura narrativa é a de um road movie na qual os encontros que Wendy vivencia ao longo de sua jornada são o que move ou cria obstáculos para sua jornada. Os obstáculos e encontros, por sinal, são bem previsíveis, incluindo o momento em que ela é roubada, outro no qual o caixa de uma loja de conveniência tenta tirar vantagem dela ou quando ela se machuca e vai parar em um hospital. Tudo é milimetricamente pensado para evidenciar o despreparo dela para o mundo e as dificuldades experimentadas por pessoas autistas em lidar com as pessoas sem sair muito do traçado que se espera desse tipo de filme.

O grande acerto reside no modo como o diretor Ben Lewin escolhe não pesar a mão no sofrimento da protagonista. Seria fácil transformar a viagem de Wendy em um enorme dramalhão no qual cada obstáculo e cada momento em que ela é enganada fosse uma oportunidade de fazer o público chorar, mas Lewin se recusa a recorrer a esse sentimentalismo fácil. Ao invés disso, confere uma leveza, um tom quase onírico e até picaresco (com uma heroína marginalizada enfrentando uma sociedade corrompida e cheia de vícios) à viagem da protagonista. Claro, a trama não perde de vista o quanto certas coisas são difíceis para Wendy, mas o modo como ela explora o mundo é abordado sob um certo viés de encantamento por suas descobertas.

Dakota Fanning entrega uma performance que transmite de modo bastante sincero os problemas de sociabilidade de sua protagonista, tanto através de sua fala resignada e baixa como por sua linguagem corporal, sempre evitando contato visual com seus interlocutores ou aproximação física. Apesar do comprometimento de Fanning com seu papel, Wendy não chega a ser plenamente desenvolvida, principalmente a relação complicada entre ela e a irmã, que é explorada quase que inteiramente através de diálogos expositivos. Os melhores momentos da personagem são aqueles em que o texto constrói analogias entre ela e o personagem Spock de Star Trek, ambos com dificuldade de compreender os próprios sentimentos e os dos outros. O elenco coadjuvante é competente, mas não tem muito a fazer exceto por parecerem preocupadas ou dar alguma explicação sobre o estado de Wendy, o melhor acaba sendo o policial falante de klingon interpretado por Patton Oswalt.

Tudo Que Quero compensa sua estrutura previsível e excessivamente didática por conta do tom excêntrico que o diretor confere à narrativa e pelo trabalho de Dakota Fanning.


Nota: 6/10


Trailer

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