segunda-feira, 29 de maio de 2017

Crítica - Inseparáveis

Análise Inseparáveis


Review Inseparáveis
Certos filmes são tão universais em sua temática e conteúdo que você consegue se identificar com ele independente de onde ele esse passa e de onde você esteja. Esse foi o caso de Intocáveis (2011) filme francês que alcançou sucesso ao redor do mundo ao contar a amizade de um homem tetraplégico com seu cuidador, um imigrante argelino. Os temas de superação, amizade e enfrentamento de preconceitos eram elementos que qualquer um no globo, e não apenas os franceses, podiam se identificar e certamente essa capacidade de falar para tantas pessoas está relacionada com o sucesso que obteve. Assim sendo, a ideia de um remake não faz muito sentido, já que não só é um filme relativamente recente, como também é tão universal que não há muito a acrescentar simplesmente transpondo-a para outro país. Ainda assim, é o que este argentino Inseparáveis tenta fazer, sem mencionar que há também um remake hollywoodiano sendo feito a ser estrelado por Bryan Cranston.

A trama é a mesma do original francês, mas se passando na Argentina. O milionário tetraplégico Felipe (Oscar Martínez) precisa de um cuidador e acaba contratando o pouco experiente Tito (Rodrigo De La Serna, de Diários de Motocicleta) para a função. Obviamente os dois desenvolvem uma grande amizade, aprendem muito um com outro tal qual o original e praticamente todos os outros filmes já feitos sobre amizades improváveis.

Muitas cenas são praticamente recriações das do original francês ao ponto em que o filme simplesmente pede o sentido de existir, afinal se é para fazer a mesma coisa, para quê fazer um novo filme? Nos pontos em que desvia simplesmente não funciona. Em parte porque o filme nunca dá uma razão crível para Felipe ter escolhido contratar Tito no lugar de todos os outros e o encontro entre os dois parece acontecer por pura necessidade do roteiro.

A narrativa ainda segue uma estrutura bem previsível de colocar uma situação em que Tito comete um erro ou se desentende com o patrão e segui-la com outra na qual tudo se acerta entre eles. Assim, qualquer conflito ou tensão é diluído porque sabemos que será resolvido imediatamente depois de ter acontecido, sem sequer dar espaço para os eventos repercutirem. Investe também em algumas situações clichê, como a cena em que um sujeito cansa de esperar que seu interesse romântico apareça para o encontro e vá embora achando que tomou bolo apenas para que ela chegue segundos depois dele já ter ido embora, fazendo-a pensar que foi ele quem lhe deixou esperando.

Apesar do filme querer fazer de Tito um sujeito espontâneo e divertido, na maioria das vezes ele soa como um sujeito desprezível e desagradável, em especial pelas tentativas de criar humor, que na maioria das vezes se resumem a colocá-lo para falar palavrões ou assediar as outras funcionárias da casa de Felipe. O cúmulo disso é a cena em que ele beija à força a assistente do chefe e a joga em cima da cama contra a vontade dela e tudo é enquadrado pelo filme como uma piada porque, claro, assédio é realmente muito engraçado (só que não).

O pior de tudo é quando a trama tenta explicar o motivo dela não querer nada com ele. Qualquer pessoa com o mínimo de bom senso imaginaria que é pela maneira inconveniente com a qual ele a aborda, mas não é isso que acontece. Ela o recusa apenas por ser lésbica e a conduta de Tito não é posta em questão em momento algum. É apenas quando descobre a sexualidade da colega de trabalho que ele cessa seus avanços, como se essa fosse a única razão possível e plausível para recusá-lo e que ele provavelmente não deixaria de tentar se impor para ela caso as razões fossem outras. A única subtrama que rende alguns momentos engraçados são as incursões entre Felipe e Tito pelo mundo da pintura, mas é muito pouco para fazer a experiência valer a pena.

Inseparáveis acaba sendo uma recriação pálida do original francês, preguiçosamente reciclando cenas e diálogos, mas esvaziado-os de carisma e calor humano. Ao invés disso opta por um humor rasteiro e bastante questionável que na maioria das vezes irrita mais do que faz rir.


Nota: 2/10

Trailer

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