Talvez por eu ter visto ainda
garoto, mas Um Maluco no Golfe (1996)sempre me pareceu uma das comédias mais
legalzinhas do Adam Sandler. Com o tempo o comediante foi entregando produções
mais preguiçosas e que repetiam um tipo de humor que ficou datado. Fui para
este Um Maluco no Golfe 2 sem saber o
que esperar. Poderia ser um caminho de Sandler retornar a uma de suas melhores
comédias, no entanto, poderia ser também só mais uma repetição cansada visando
a nostalgia do espectador.
Bolas ao ar
A trama se passa décadas depois
do primeiro filme. Happy (Adam Sandler) perdeu a esposa, Virginia (Julie Bowen)
em um trágico acidente de golfe e abandonou o esporte. Agora ele cria seus
cinco filhos sozinhos, mas seus problemas com álcool o fazem perder a casa e se
atolar em dívidas. Quando sua filha caçula, Vienna (Sunny Sandler, filha de
Adam), passa na seleção para uma escola de balé na França, Happy decide voltar
ao golfe para pagar os estudos da filha.
Em Amores Materialistas a diretora Celine Song tenta expandir algumas
ideias sobre relacionamentos amorosos que trabalhou no excelente Vidas Passadas (2023). Lá ela
desconstruía a ideia de que existe uma alma gêmea para cada pessoa, pensando
que essa noção de pessoa ideal tem muito a ver com oportunidade e conveniência.
Aqui em Amores Materialistas ela
pondera sobre a natureza transacional dos relacionamentos.
Material girl
A narrativa gira em torno de Lucy
(Dakota Jonhson), que trabalha numa agência de relacionamentos voltada para
clientes de alta classe. Seu trabalho consiste em encontrar os pares ideais
para seus clientes, homens e mulheres, que buscam alguém para casar. Em seu cotidiano
ela pesa preferências de cada um, nível de renda e o que cada cliente exige de
um par ideal. É um trabalho que pensa em relacionamentos quase como produtos,
nos quais alguém busca um objeto com certas características e ela procura outra
pessoa que se encaixe nas exigências e que cumpra as da outra pessoa. No
casamento de uma cliente, Lucy conhece Harry (Pedro Pascal), um rico e charmoso
investidor que reúne a beleza e dinheiro que ela espera de um par. Lucy também se
reencontra com seu ex, John (Chris Evans), um ator de teatro cuja carreira
nunca decolou e ainda vive de pequenos bicos mesmo próximo dos quarenta anos de
idade. Apesar de não ter nada de material a oferecer, Lucy tem uma forte
conexão afetiva com John e constantemente desabafa com ele.
A primeira cena do filme, com um
homem das cavernas se aproximando de uma mulher levando flores e ferramentas
feitas de osso e ela cede aos avanços do homem. É uma cena que ilustra como
relacionamentos podem se construir a partir do interesse no que a outra pessoa
tem a lhe oferecer, seja conforto material, status social que vem de riqueza ou
aparência física, seja do prazer sexual que a outra pessoa lhe dá. Casamentos,
afinal, são contratos e como qualquer contrato depende do interesse de ambas as
partes. Esse componente materialista e até mesmo primitivo dos relacionamentos
se verifica no presente nas reuniões que Lucy tem com os clientes nas quais
homens e mulheres elencam o que buscam no parceiro, desde faixa de renda,
passando por idade, altura ou medidas do corpo. Lucy encara tudo com um
pragmatismo extremo, indagando aos clientes que elementos eles estariam
dispostos a abrir mão na busca por um par e quais não são negociáveis, partindo
da ideia de que nos relacionamos com alguém na medida em que percebemos que a
outra pessoa nos agrega valor, mesmo que seja um valor sentimental, intangível.
Assim, ela é colocada em um
triângulo amoroso no qual suas convicções serão testadas. De um lado Harry é
tudo que sua mente materialista sempre desejou, ele atende a todos os seus
critérios e ela os dele, já que ele é tão pragmático em sua visão de
relacionamentos quanto ela. Por outro lado, John é alguém que está sempre
presente, alguém que ela sabe que pode depender para suporte emocional e que
consegue saber que Lucy não está bem pelas mínimas nuances de voz ou rosto.
Johnson, Pascal e Evans formam um trio charmoso, com Evans e Pascal dotando
seus personagens de uma medida de vulnerabilidade emocional que ajuda a dar aos
dois personagens mais camadas. A dinâmica que o trio de atores estabelece entre
si torna crível o dilema da protagonista mesmo quando o texto deixa pistas
muito explícitas a respeito de quem ela irá escolher.
Relações abusivas
O principal problema do filme nem
é a previsibilidade do triângulo amoroso, já que Evans e Pascal são
pretendentes atraentes e carismáticos o bastante para manter nosso interesse,
mas a maneira desajeitada com a qual a narrativa insere uma subtrama de abuso
sexual envolvendo Sophie (Zoe Winters), uma das clientes de Lucy. A primeira
coisa que chama atenção é o modo pouco crível pelo qual a situação é
construída. Lógico, Lucy ou qualquer pessoa da empresa não tem como ter certeza
total que os homens que participam do serviço não são agressores em potencial,
mas considerando que é um serviço para pessoas de alta classe e os tempos em
que estamos vivendo é difícil crer que a empresa de Lucy não possua qualquer
protocolo para lidar com isso, como um botão de pânico ou um serviço de
emergência.
Também incomoda que toda a trama
de Sophie não discuta o abuso, a falta de punição para os homens que cometem
isso ou outras variáveis sociais da questão. O abuso de sofrido pela personagem
existe apenas para avançar a história de Lucy, já que a violência que Sophie
passa e o confronto entre ela e Lucy lembram a protagonista dos perigos de
tratar pessoas como objetos. O abuso de Sophie é um mero motivador para Lucy
repensar suas convicções e as escolhas que faz em relação a John e Harry,
lembrando que por mais transacional que um relacionamento seja, é difícil
funcionar ou durar sem alguma medida de afeto.
O clímax é igualmente pouco
crível, já que é difícil de acreditar que Sophie não tinham mais ninguém para
ligar além de Lucy, mesmo tendo aberto um processo contra a empresa dela. Sim,
ela pode ser uma pessoa tão focada na carreira que não tem amigas, mas se ela é
essa figura bem sucedida ela provavelmente teria uma colega de trabalho, uma
secretária, uma estagiária, alguém que pudesse chamar. Do jeito que está tudo
soa forçado para fazer a redenção de Lucy, mesmo que o texto não a tenha feito
merecer essa redenção.
Assim, a diretora Celine Song
continua a trazer reflexões instigantes sobre a natureza dos relacionamentos,
pensando em sua dimensão de transação a partir de um romance que se sustenta
pelo charme de seu trio principal, já que a trama tropeça em algumas escolhas
problemáticas.
O diretor Wes Anderson se tornou
famoso por seu estilo peculiar facilmente identificável e que a essa altura já
foi bastante parodiado. Em O Esquema
Fenício ele continua a exercitar seu jeito particular de conduzir tramas
permeadas por personagens excêntricos, mas dessa vez soa como uma repetição de
ideias que ele já fez antes.
Bilionário em fuga
A narrativa acompanha Zsa-zsa
Korda (Benício Del Toro), um excêntrico e ardiloso bilionário que desenvolveu
um esquema para enriquecer com um grande projeto de infraestrutura em um país
remoto. Seus planos, porém, o tornam alvo de governos ao redor do mundo que tem
interesses na região. Assim, Korda é constantemente alvo de tentativas de
assassinato. Temendo que seus inimigos o peguem, Korda entra em contato com
Liesl (Mia Threapleton, filha de Kate Winslet), sua filha mais velha de quem
está afastado há anos. Liesl quer ser freira, mas Korda a convence a viajar com
ele e ser a herdeira de seus empreendimentos caso ele sucumba aos ataques dos
inimigos. Dessa forma, os dois viajam pelo país remoto tentando convencer os
investidores de Korda a honrarem o esquema ao mesmo tempo em que tentam reparar
o relacionamento problemático entre eles.
Comédia é inversão da ordem, é
subverter expectativas. Se você sabe exatamente o que vai acontecer em uma
piada ou situação cômica é difícil rir porque não houve essa quebra. A
previsibilidade sabota o humor. Isso é bem visível neste Família, Pero no Mucho estrelado por Leandro Hassum, que se apoia
em estereótipos manjados sobre argentinos para tentar fazer rir.
Entrando numa Fria
A trama é protagonizada por
Otávio (Leandro Hassum), cuja filha, Mariana (Julia Svaccina), está para
conseguir uma bolsa para estudar música na Europa, mas Otávio não aprova que a
filha vá para longe e a deixe sozinho cuidando do restaurante da família. Eles
brigam, mas ela vai mesmo assim. Anos depois, já formada, Mariana retorna e
traz consigo a novidade de que irá casar com um rapaz que conheceu na Europa. O
jovem, no entanto, não é europeu, mas argentino e Mariana organiza uma viagem
de sua família para Bariloche para conhecer a família do noivo. Logicamente
Otávio não aprova a união e isso causará muitas confusões.
Quem viveu o final dos anos 90 se
lembra do pânico sobre o bug do milênio. O temor de que quando os sistemas de
computadores fizessem a passagem do 99 para o 00 do 2000 geraria uma pane nos
sistemas que poderia causar uma série de problemas. O filme Y2K: O Bug do Milênio tenta falar desse
medo em uma trama que mistura terror e comédia, mas não sai bem sucedido nesses
esforços.
Rebelião das máquinas
A narrativa é centrada em Eli
(Jaeden Martell) que junto com o melhor amigo Danny (Julian Dennison) pensam em
como pegar garotas na festa de ano novo da escola que vai marcar a virada para
o ano 2000. Eli pensa em se aproximar de Laura (Rachel Zegler), a garota
popular por quem é apaixonado, mas assim que chega a meia-noite os computadores
ganham autonomia e começam a matar pessoas. Agora eles precisam sobreviver.
É curioso como às vezes ideias
similares são produzidas quase que ao mesmo tempo em Hollywood. Meses atrás a
Amazon lançou G20, filme que trazia
Viola Davis como presidente enfrentando uma ameaça terrorista. Agora, a mesma Amazon
lança outro filme com líderes mundiais partindo para a ação neste Chefes de Estado.
Relacionamento especial
Assim como G20, a trama de Chefes de
Estado é muito idiota e não se preocupa muito em ser crível ou realista. A
diferença é que aqui ao invés de se levar à sério como G20fez, o filme tem plena consciência de sua idiotice e assume o
compromisso com a diversão sem noção. O filme acompanha Will (John Cena), astro
de cinema recém eleito presidente dos Estados Unidos, e Sam (Idris Elba),
primeiro ministro britânico. Quando os dois são atacados em uma viagem
diplomática, precisam se unir para sobreviver a despeito de suas personalidades
conflitantes e desvendar quem está por trás da conspiração. Ao longo do
percurso eles terão ajuda da agente Noel (Priyanka Chopra).
É impressionante como quase nada
funciona neste Shadow Force: Sentença de
Morte, misto de ação com comédia romântica que tenta fazer tanta coisa ao
mesmo tempo, misturando diferentes gêneros e propostas estéticas ou narrativas
que nada consegue operar conjuntamente com coesão. A impressão que fica é a de
um filme que parece brigar consigo mesmo o tempo todo.
Conflito interior
A trama acompanha o casal de
mercenários Issac (Omar Sy) e Kyrah (Kerry Washington). No passado eles
serviram juntos da Shadow Force, divisão secreta que realizada missões de
assassinato. Quando eles se apaixonaram e tiveram um filho decidiram abandonar
a divisão, mas isso os colocou na mira do líder, o ardiloso Jack Cinder (Mark Strong).
Eles vivem separados, com Issac cuidando do filho do casal, enquanto Kyrah caça
os remanescentes do grupo que estão atrás deles. As coisas mudam quando Issac
impede um assalto à banco, atraindo atenção da mídia e fazendo seu rosto
circular na mídia, chamando atenção de quem os caçava, obrigando ele e Kyrah a
se reunirem e eliminarem a ameaça de uma vez por todas.
Não esperava nada quando comecei
a assistir Improvisação Perigosa, mas
me surpreendi com uma comédia divertida que consegue aproveitar o potencial
absurdo da premissa que apresenta. A trama é centrada em Kat (Bryce Dallas
Howard), uma atriz vivendo em Londres cuja carreira não decolou e vive de dar
aulas de comédia de improviso. Marlon (Orlando Bloom) também é um ator cuja
carreira está estagnada e faz parte da turma de Kat. Hugh (Nick Mohammed) é um
sujeito tímido que entra na turma de Kat para aprender a socializar melhor. Os
três são recrutados pelo policial Billings (Sean Bean) para trabalharem em
operações disfarçadas, mas suas habilidades de improviso permitem que eles
consigam ir além da missão inicial.
Sendo um dos programas de
televisão mais longevos dos Estados Unidos, tendo completado 50 anos neste ano,
Saturday Night Live faz parte da
história da comédia e do entretenimento no país. Dirigido por Jason Reitman, Saturday Night: A Noite que Mudou a Comédia
tenta honrar o legado do programa ao narrar a origem do programa e como ele
marcou por fazer algo muito diferente da comédia televisiva de então.
Embalos de sábado à noite
A narrativa é centrada no
produtor Lorne Michaels (Gabriel LaBelle, de Os Fabelmans) e sua esposa Rosie Shuster (Rachel Sennott) horas
antes do primeiro Saturday Night ir
ao ar ao vivo. Lorne corre contra o tempo para ajeitar os últimos detalhes,
conciliar os egos dos membros dos elencos e roteiristas conforme lida com os
executivos da emissora e uma desconfiança de que esse programa enorme, ao vivo,
feito por comediantes desconhecidos, pode ser um grande fracasso.
Considerado por muito tempo como
o pior diretor do mundo, os filmes de Ed Wood são lembrados por sua tosqueira,
uso de imagens de arquivo e narrativas insólitas. Ele é uma figura singular no
cinema dos EUA, vivendo às margens dessa indústria a despeito de seu desejo de
ser parte dela. Talvez seja essa vida de pária que atraiu Tim Burton, sempre
interessado em personagens solitários ou excluídos, a contar a história do
diretor em Ed Wood, lançado em 1994.
Cinema nas bordas
A narrativa é toda filmada em
preto e branco, acompanhando Ed (Johnny Depp) desde seus esforços para filmar
seu primeiro longa-metragem, Glen or
Glenda (1953), passando por sua amizade com o ator Bela Lugosi (Martin
Landau), suas tentativas de se estabelecer na indústria e a culminância de sua
carreira em Plan 9 From Outer Space (1959),
produção que lhe deu fama, ou melhor, infâmia internacional.
Primeiro longa-metragem do
diretor Pat Boonnitipat, a produção tailandesa Como Ganhar Milhões Antes que a Avó Morra parte de uma premissa
inusitada para contar uma afetuosa história sobre família, luto e legado. Às
vezes é um pouco previsível, mas tem charme e emoção o suficiente para nos
manter interessados.
Esquema afetivo
A narrativa é centrada em M (Putthipong
Assaratanakul), um jovem sem perspectiva de futuro que passa seu tempo com
jogos online. Ele vê a prima Mui (Tontawan Tantivejakul) tomar conta de um tio
idoso e saltar para a prioridade em seu testamento, ficando com a casa dele
quando ele morre. Percebendo como a herança permitiu que a prima subisse na
vida, M enxerga a notícia que sua avó, Amah (Usha Seamkhum), está com câncer e
provavelmente só tem um ano de vida, como uma possibilidade de ganhar a
preferência da avó e ficar no topo das prioridades por herança.
Um dos gêneros mais marcantes do
cinema hollywoodiano, o faroeste foi marcado durante muito tempo por ideais
tradicionais de masculinidade. Para sobreviver nos ermos do oeste selvagem seus
protagonistas eram homens duros, brutos e violentos que não tinham muito tempo
para ternura ou falar sobre sentimentos. A produção brasileira Oeste Outra Vez remete ao faroeste
justamente para pensar a respeito de masculinidade e como certos padrões de
comportamento podem ser destrutivos para os próprios homens.
Todo mundo tem problemas sentimentais
A trama se passa no interior de
Goiás e acompanha Totó (Ângelo Antônio). Ele foi deixado pela mulher que amava
e que o trocou por Durval (Babu Santana). Totó e Durval brigam, com Totó saindo
machucado e jurando vingança. Ele contrata um jagunço para matar Durval e o
atentado dá errado. A esse ponto Durval contrata uma dupla de matadores para
dar cabo de Totó e seu jagunço que fugiram para áreas ainda mais remotas para
se esconderem.
Primeiro trabalho de Jesse
Armstrong depois de encerrar a aclamada série Succession, o longa-metragem Mountainhead
é praticamente o oposto de sua série e não digo isso como um elogio. Se Successionapresentava uma ácida sátira
das elites financeiras que através de sua riqueza e plataformas midiáticas
ditavam os rumos da sociedade ao mesmo tempo em que construía personagens
complexos que nos atraíam para seus dramas, mesmo que nós soubéssemos o quanto
são moralmente repulsivos, nada disso, porém, está presente aqui. O que
Armstrong entrega é uma tentativa de sátira desprovida de qualquer qualidade
mordaz e que se acomoda em apontar o óbvio sem refletir ou analisar nada.
Elite do atraso
A trama acompanha uma reunião de
quatro bilionários de tecnologia. Souper (Jason Schwartzman) traz os amigos
Randall (Steve Carell), Venis (Corey Michael Smith) e Jeff (Ramy Youssef) para passar
um final de semana em sua mansão na montanha. Ao longo do dia eles veem
instabilidade política e econômica tomarem o planeta conforme uma atualização
da IA criada por Venis permite fazer conteúdo quase que indistinto da
realidade, o que obviamente começa a ser usado para fins espúrios. O quarteto
começa a ver isso como uma oportunidade e passam a discutir maneiras de tomar
proveito da situação e ficarem ainda mais ricos.
A minissérie Sereias é um novelão. Digo isso não em um sentido perjorativo, já
que sua abordagem novelesca, cheia de excessos e histrionismos é parte do que a
torna divertida, no entanto, sei que muita gente não se atrai por esse tipo de
produto. Por isso aviso logo que se algo com uma pegada novelesca não é a sua
praia, você talvez não se atraia pela série. Aviso que o texto contem SPOILERS
da série.
O canto da sereia
A trama é centrada em Devon
(Meghann Fahy), uma mulher que abriu mão de muita coisa na vida para cuidar da
irmã mais nova depois do falecimento da mãe e agora tem que cuidar do pai que
está em estado avançado de demência. Não conseguindo lidar sozinha com a
responsabilidade, ela tenta contato com a irmã mais nova, Simone (Milly
Alcock), que a ignora. Devon decide então ir até onde a irmã está, uma luxuosa
casa de veraneio em uma ilha habitada por ricaços na qual Simone trabalha como
assistente pessoal de Michaela (Julianne Moore), a esposa filantropa do
bilionário Peter Kell (Kevin Bacon). Lá vê uma estranha relação de
co-dependência entre Michaela e Simone, decidindo tirar a irmã dali, mas logo a
própria Devon é puxada para a órbita de Michaela.
Uma das coisas mais engraçadas
que já li na internet foi o fio que o ator Paulo Vieira fez no finado Twitter
contando as histórias de sua família, em especial as desventuras de seu pai,
Luís, e o melhor amigo dele, Pablo. No longo fio, Paulo Vieira narrava como
Pablo e Luisão sempre se metiam em roubadas ao tentarem inventar novos
empreendimentos ou formas de economizar dinheiro.
Algumas situações eram tão
absurdas que eu só acreditava porque Vieira colocava fotos e vídeos nos
relatos. Eram coisas que pareciam ter saído diretamente de uma sitcom, então
não foi surpresa quando foi anunciado que Pablo
& Luisão viraria uma série. Por mais empolgado que estivesse, no
entanto, também estava receoso, já que a última vez que a Globoplay tentou
transformar um fio cômico de internet em série o resultado foi a péssima Eu, a Vó e a Boi(2019). Felizmente esse
não é o caso e Pablo & Luisão é
uma das melhores comédias dos últimos anos.
Há uma contradição fundamental
entre o regime estético e a narrativa de O
Estúdio. De um lado temos uma série de escolhas estéticas altamente
sofisticadas, com longos planos sequência conforme os personagens caminham em
sets de filmagem ou grandes eventos construindo um senso de constante movimento
e unidade espacial para as cenas. Por outro lado, por mais que haja uma encenação
cuidadosamente planejada que reflete bastante atenção na linguagem do cinema, a
série é fundamentalmente sobre um grupo de pessoas vulgares, estúpidas e que
podem até pensar que se importam com a arte, mas na prática produzem o mesmo
lixo corporativo de sempre.
Indústria caótica
Essa contradição não é um
equívoco ou uma escolha impensada. Na verdade soa como uma decisão bem
deliberada de construir um regime visual que tenta evocar como esses
personagens, em especial o chefe de estúdio Matt Remick (Seth Rogen), pensam
sobre si mesmos e faz o estilo chocar com a realidade estúpida do que eles de
fato são, desnudando de maneira ainda mais escancarada o cinismo, a estupidez e
a visão mercantilizada, utilitarista e imatura que eles tem do cinema enquanto
arte. A dissonância entre estética e narrativa é, na prática, uma maneira de
ilustrar a dissonância cognitiva de seu protagonista.
O ator Josh Hartnett tem
experimentado um retorno em sua carreira nos últimos anos, se encontrando novamente sob os holofotes a partir de produções como Oppenheimer(2023) ou Armadilha(2024) e
agora ganha uma oportunidade de estrelar um filme de ação neste Fight or Flight. É uma produção que
remete às comédias de ação ultraviolentas do início dos anos 2000 como Adrenalina (2006) e Mandando Bala (2007) embora aqui o filme não traga consigo nada de
muito marcante.
Voo perigoso
A trama acompanha Lucas Reyes
(Josh Hartnett), um ex-agente de inteligência que virou mercenário e vive na
clandestinidade, sendo caçado pelas autoridades dos Estados Unidos. Ele tem a
chance de limpar seu passado ao aceitar a missão de se infiltrar em um voo
transcontinental para localizar uma perigosa hacker e levá-la com vida aos EUA.
O problema é que o avião está cheio de mercenários contratados para matar a
pessoa que ele foi designado para proteger.
Estrelado por Vince Vaughn, Nonnas é aquele tipo de “filme conforto”
que a gente sabe que é extremamente clichê, não tem nada que nos instigue ou
desafie enquanto espectadores, mas apreciamos pela familiaridade e pela emoção
genuína que oferece dentro de um esquema já conhecido de narrativa sobre
relações familiares e realização de sonhos.
Comida de vó
A narrativa se baseia em uma
história real e é centrada em Joe (Vince Vaughn). Depois de perder a mãe, Joe
tenta se reconectar com a memória dela refazendo suas antigas receitas. Daí ele
tem a ideia de usar o dinheiro que sua mãe lhe deixou para abrir um restaurante
focado em celebrar essa comida italiana caseira, trazendo “nonas” italianas
para cozinharem com ele. Assim ele recruta um time formado por Gia (Susan
Sarandon), Teresa (Talia Shire, a eterna Adrian da franquia Rocky), Antonella (Brenda Vaccaro) e
Roberta (Lorraine Bracco).
Apesar de boas cozinheiras, a
personalidade forte dessas senhoras as coloca em conflito, criando problemas no
restaurante. As dificuldades também vem do lado financeiro, já que Joe não tem
muita experiência com negócios e mesmo com o auxílio do melhor amigo, Bruno
(Joe Manganiello), as contas do restaurante não fecham. É tudo bem típico desse
tipo de história, sendo bem previsível que as senhoras irão eventualmente
dialogar e perceber as dificuldades que cada uma teve que superar e vão
cooperar umas com as outras.
O que conquista é o peso
emocional que cada uma das atrizes consegue dar a suas personagens, nos fazendo
sentir como elas são um produto de tudo com que tiveram de lidar ao longo de
suas trajetórias e no senso verdadeiro de amizade que se desenvolve entre elas.
É também um retrato bem sincero e afetuoso de comunidades de ítalo-descendentes
(diferente de estereótipos presentes em filmes como Amor em Little Italy) e de como o ato de cozinhar não tem apenas a
ver com comer e sim com um senso de comunidade e afeto. Como alguém que vem de
uma família de descendentes de italianos, acompanhar um ambiente de cozinha
repleto de senhoras italianas idosas berrando umas com as outras me fez sentir
em casa.
Empreendedorismo performático
O arco de Joe e os desafios do
restaurante, bem como sua tentativa de se reaproximar de sua antiga paixão de
infância, Olivia (Linda Cardellini), por outro lado, é bem menos interessante.
A trama romântica com Olivia se desenvolve de maneira muito fácil e sem muito
drama. Já a narrativa do restaurante segue a fórmula desse tipo de história de
superação, fazendo parecer que tudo é uma questão de força de vontade a
acreditar no próprio negócio, como isso por si só fizesse qualquer obstáculo
sumir.
Não importa qual o problema que
apareça, ele vai ser rapidamente resolvido por algum deus ex machina do roteiro como que conjurado pelo simples fato de
que Joe quer que o negócio dê certo. Em muitos casos a própria narrativa deixa
explícito que Joe sequer sabe o mínimo de como gerir um restaurante (incluindo
conhecimento de códigos ou regulamentos) e faz parecer que esses problemas são
culpa dos outros e não do sujeito que não se preparou para gerir um negócio que
abriu por vontade própria.
Felizmente, o elenco de atrizes
veteranas dá suficiente alma e coração a Nonnas
que a produção consegue trazer o conforto de um almoço de domingo na casa da
avó mesmo que seja uma refeição que já consumimos inúmeras vezes.
Lançado em 2011 e dirigido por Nanni
Moretti, Temos Papa (Habemus Papam no original)reflete sobre o peso de ocupar um cargo
tão poderoso e influente como o de Papa. O filme traz consigo uma tentativa de
lembrar que por mais solene que seja o processo de eleição de um novo pontífice,
aqueles envolvidos e o próprio escolhido são pessoas com seus próprios problemas
dúvidas e inseguranças.
Papa em pânico
A trama começa com o falecimento do
atual Papa e a necessidade de um conclave para eleger um novo líder da Igreja
Católica. Durante a eleição o cardeal Melville (Michel Piccoli) é escolhido
como Papa apesar de não estar entre os mais cotados. No momento em que ele está
prestes a ser apresentado ao mundo, no entanto, o novo Papa tem um ataque de pânico
e não consegue sair na sacada. Sem um novo papa, o processo do conclave não é
concluído e os cardeais são obrigados a continuarem isolados.
Misturando comédia e thriller, a produção Um Pequeno Favor(2018) foi uma
divertida surpresa por conta da interessante dupla de protagonistas. Era, no
entanto, uma história que não pedia continuações e que provavelmente,
considerando o desfecho rocambolesco do filme, não teria muito a ganhar
expandindo a história. Ainda assim o filme recebeu uma sequência neste Outro Pequeno Favor e o resultado é
exatamente o que eu temia.
True crime suburbano
Depois dos eventos do primeiro
filme, Stephanie (Anna Kendrick) lançou um livro narrando toda sua experiência
que viveu com Emily e transformou seu canal sobre maternidade em um canal de true crime, embora não tenha obtido o
sucesso esperado. Tudo muda quando Emily (Blake Lively) reaparece em sua vida,
chamando Stephanie para seu casamento na Itália. De início Stephanie reluta,
mas aceita o convite quando Emily ameaça processá-la pelo uso indevido de seu
nome e imagem no livro. Chegando na Itália, Stephanie descobre que o noivo de
Emily, Dante (Michele Morrone), é membro de uma poderosa família mafiosa. As
coisas se complicam quando corpos começam a aparecer na festa de casamento.