Considerado por muito tempo como
o pior diretor do mundo, os filmes de Ed Wood são lembrados por sua tosqueira,
uso de imagens de arquivo e narrativas insólitas. Ele é uma figura singular no
cinema dos EUA, vivendo às margens dessa indústria a despeito de seu desejo de
ser parte dela. Talvez seja essa vida de pária que atraiu Tim Burton, sempre
interessado em personagens solitários ou excluídos, a contar a história do
diretor em Ed Wood, lançado em 1994.
Cinema nas bordas
A narrativa é toda filmada em
preto e branco, acompanhando Ed (Johnny Depp) desde seus esforços para filmar
seu primeiro longa-metragem, Glen or
Glenda (1953), passando por sua amizade com o ator Bela Lugosi (Martin
Landau), suas tentativas de se estabelecer na indústria e a culminância de sua
carreira em Plan 9 From Outer Space (1959),
produção que lhe deu fama, ou melhor, infâmia internacional.
Primeiro longa-metragem do
diretor Pat Boonnitipat, a produção tailandesa Como Ganhar Milhões Antes que a Avó Morra parte de uma premissa
inusitada para contar uma afetuosa história sobre família, luto e legado. Às
vezes é um pouco previsível, mas tem charme e emoção o suficiente para nos
manter interessados.
Esquema afetivo
A narrativa é centrada em M (Putthipong
Assaratanakul), um jovem sem perspectiva de futuro que passa seu tempo com
jogos online. Ele vê a prima Mui (Tontawan Tantivejakul) tomar conta de um tio
idoso e saltar para a prioridade em seu testamento, ficando com a casa dele
quando ele morre. Percebendo como a herança permitiu que a prima subisse na
vida, M enxerga a notícia que sua avó, Amah (Usha Seamkhum), está com câncer e
provavelmente só tem um ano de vida, como uma possibilidade de ganhar a
preferência da avó e ficar no topo das prioridades por herança.
Um dos gêneros mais marcantes do
cinema hollywoodiano, o faroeste foi marcado durante muito tempo por ideais
tradicionais de masculinidade. Para sobreviver nos ermos do oeste selvagem seus
protagonistas eram homens duros, brutos e violentos que não tinham muito tempo
para ternura ou falar sobre sentimentos. A produção brasileira Oeste Outra Vez remete ao faroeste
justamente para pensar a respeito de masculinidade e como certos padrões de
comportamento podem ser destrutivos para os próprios homens.
Todo mundo tem problemas sentimentais
A trama se passa no interior de
Goiás e acompanha Totó (Ângelo Antônio). Ele foi deixado pela mulher que amava
e que o trocou por Durval (Babu Santana). Totó e Durval brigam, com Totó saindo
machucado e jurando vingança. Ele contrata um jagunço para matar Durval e o
atentado dá errado. A esse ponto Durval contrata uma dupla de matadores para
dar cabo de Totó e seu jagunço que fugiram para áreas ainda mais remotas para
se esconderem.
A minissérie Sereias é um novelão. Digo isso não em um sentido perjorativo, já
que sua abordagem novelesca, cheia de excessos e histrionismos é parte do que a
torna divertida, no entanto, sei que muita gente não se atrai por esse tipo de
produto. Por isso aviso logo que se algo com uma pegada novelesca não é a sua
praia, você talvez não se atraia pela série. Aviso que o texto contem SPOILERS
da série.
O canto da sereia
A trama é centrada em Devon
(Meghann Fahy), uma mulher que abriu mão de muita coisa na vida para cuidar da
irmã mais nova depois do falecimento da mãe e agora tem que cuidar do pai que
está em estado avançado de demência. Não conseguindo lidar sozinha com a
responsabilidade, ela tenta contato com a irmã mais nova, Simone (Milly
Alcock), que a ignora. Devon decide então ir até onde a irmã está, uma luxuosa
casa de veraneio em uma ilha habitada por ricaços na qual Simone trabalha como
assistente pessoal de Michaela (Julianne Moore), a esposa filantropa do
bilionário Peter Kell (Kevin Bacon). Lá vê uma estranha relação de
co-dependência entre Michaela e Simone, decidindo tirar a irmã dali, mas logo a
própria Devon é puxada para a órbita de Michaela.
Dirigido por Paul Schrader, Oh, Canadá é sobre como nenhum registro
é capaz de dar conta de um indivíduo. Tentar contar a história de alguém envolve
escolhas, envolve fabulação, e nesse processo o sujeito é transformado em um
ser de linguagem, um personagem, que por mais que se tente nunca refletirá
completamente a complexidade de uma pessoa real. É uma análise de como se constrói
um discurso mitificado sobre alguém e as fissuras nesse discurso, embora nem
chegue a executar suas ideias com a contundência que acredita estar exercendo.
Multidões dentro de si
A narrativa adapta o romance Foregone, de Russell Banks, e é centrada
em Leo Fife (Richard Gere), um renomado documentarista que nos anos 60 teria
fugido dos Estados Unidos para o Canadá por se recusar a servir na Guerra do
Vietnã. Agora, com um câncer em estado avançado, ele aceita falar para o documentário
que um antigo estudante, Malcolm (Michael Imperioli), está fazendo a seu
respeito. Ao longo da conversa, Leo revisita sua juventude (na qual passa a ser
interpretado por Jacob Elordi) e, sabendo que seus dias estão contados, reconta
sem reservas a sua vida, oferecendo um olhar sobre si que vai além da visão
construída de um cineasta engajado.
Em um mundo pós apocalíptico em
que os recursos são escassos e há um grande controle populacional por parte do
governo, qualquer casal que deseje ter filhos precisa se submeter a um processo
no qual são avaliados por alguns dias para analisar se eles tem condições de
criar filhos. A Avaliação parte desse
conceito para pensar sobre relacionamentos afetivos, controle populacional e
totalitarismo estatal.
Teste despadronizado
A narrativa foca no casal Mia
(Elizabeth Olsen) e Aaryan (Himesh Patel), dois cientistas que se submetem ao
processo de avaliação para tentarem ter um filho. Eles são avaliados por
Virginia (Alicia Vikander) que irá ficar com eles por sete dias observando
diferentes aspectos da vida do casal para determinar se eles estariam aptos a
terem filhos ou não. De início Virginia age de forma bastante protocolar,
perguntando sobre o trabalho do casal ou a relação deles, mas a partir do
segundo dia, os testes passam a ser menos ortodoxos, incluindo Virginia se
comportando como criança para testar as reações deles ou tentando seduzi-los.
Estrelado por Vince Vaughn, Nonnas é aquele tipo de “filme conforto”
que a gente sabe que é extremamente clichê, não tem nada que nos instigue ou
desafie enquanto espectadores, mas apreciamos pela familiaridade e pela emoção
genuína que oferece dentro de um esquema já conhecido de narrativa sobre
relações familiares e realização de sonhos.
Comida de vó
A narrativa se baseia em uma
história real e é centrada em Joe (Vince Vaughn). Depois de perder a mãe, Joe
tenta se reconectar com a memória dela refazendo suas antigas receitas. Daí ele
tem a ideia de usar o dinheiro que sua mãe lhe deixou para abrir um restaurante
focado em celebrar essa comida italiana caseira, trazendo “nonas” italianas
para cozinharem com ele. Assim ele recruta um time formado por Gia (Susan
Sarandon), Teresa (Talia Shire, a eterna Adrian da franquia Rocky), Antonella (Brenda Vaccaro) e
Roberta (Lorraine Bracco).
Apesar de boas cozinheiras, a
personalidade forte dessas senhoras as coloca em conflito, criando problemas no
restaurante. As dificuldades também vem do lado financeiro, já que Joe não tem
muita experiência com negócios e mesmo com o auxílio do melhor amigo, Bruno
(Joe Manganiello), as contas do restaurante não fecham. É tudo bem típico desse
tipo de história, sendo bem previsível que as senhoras irão eventualmente
dialogar e perceber as dificuldades que cada uma teve que superar e vão
cooperar umas com as outras.
O que conquista é o peso
emocional que cada uma das atrizes consegue dar a suas personagens, nos fazendo
sentir como elas são um produto de tudo com que tiveram de lidar ao longo de
suas trajetórias e no senso verdadeiro de amizade que se desenvolve entre elas.
É também um retrato bem sincero e afetuoso de comunidades de ítalo-descendentes
(diferente de estereótipos presentes em filmes como Amor em Little Italy) e de como o ato de cozinhar não tem apenas a
ver com comer e sim com um senso de comunidade e afeto. Como alguém que vem de
uma família de descendentes de italianos, acompanhar um ambiente de cozinha
repleto de senhoras italianas idosas berrando umas com as outras me fez sentir
em casa.
Empreendedorismo performático
O arco de Joe e os desafios do
restaurante, bem como sua tentativa de se reaproximar de sua antiga paixão de
infância, Olivia (Linda Cardellini), por outro lado, é bem menos interessante.
A trama romântica com Olivia se desenvolve de maneira muito fácil e sem muito
drama. Já a narrativa do restaurante segue a fórmula desse tipo de história de
superação, fazendo parecer que tudo é uma questão de força de vontade a
acreditar no próprio negócio, como isso por si só fizesse qualquer obstáculo
sumir.
Não importa qual o problema que
apareça, ele vai ser rapidamente resolvido por algum deus ex machina do roteiro como que conjurado pelo simples fato de
que Joe quer que o negócio dê certo. Em muitos casos a própria narrativa deixa
explícito que Joe sequer sabe o mínimo de como gerir um restaurante (incluindo
conhecimento de códigos ou regulamentos) e faz parecer que esses problemas são
culpa dos outros e não do sujeito que não se preparou para gerir um negócio que
abriu por vontade própria.
Felizmente, o elenco de atrizes
veteranas dá suficiente alma e coração a Nonnas
que a produção consegue trazer o conforto de um almoço de domingo na casa da
avó mesmo que seja uma refeição que já consumimos inúmeras vezes.
Lançado em 2011 e dirigido por Nanni
Moretti, Temos Papa (Habemus Papam no original)reflete sobre o peso de ocupar um cargo
tão poderoso e influente como o de Papa. O filme traz consigo uma tentativa de
lembrar que por mais solene que seja o processo de eleição de um novo pontífice,
aqueles envolvidos e o próprio escolhido são pessoas com seus próprios problemas
dúvidas e inseguranças.
Papa em pânico
A trama começa com o falecimento do
atual Papa e a necessidade de um conclave para eleger um novo líder da Igreja
Católica. Durante a eleição o cardeal Melville (Michel Piccoli) é escolhido
como Papa apesar de não estar entre os mais cotados. No momento em que ele está
prestes a ser apresentado ao mundo, no entanto, o novo Papa tem um ataque de pânico
e não consegue sair na sacada. Sem um novo papa, o processo do conclave não é
concluído e os cardeais são obrigados a continuarem isolados.
Dirigido por Ryan Coogler (responsável por Pantera Negra, Creed e Fruitvale Station), Pecadores lembra um pouco Um Drink no Inferno (1996) ao contar a
história de um grupo de pessoas presas em um bar na beira da estrada tomado por
vampiros enquanto eles tentam sobreviver até o amanhecer. As semelhanças, no
entanto, ficam só na premissa básica, já que Pecadores tem questões bem diferentes de como pensa os vampiros e
nas relações entre seus personagens.
A voz suprema do blues
A narrativa se passa nos Estados
Unidos da década de 1930. Os gêmeros Fumaça e Fuligem (ambos Michael B. Jordan)
retornam para sua pequena cidade no Mississipi para abrirem um clube de blues
usando o dinheiro que ganharam dos gângsteres de Chicago. Eles recrutam o primo
Sammie (Miles Catton) para tocar no clube por conta do talento do garoto,
apesar do pai de Sammie, um pastor de igreja não querer que ele se envolva com
música que não seja gospel. A música tocada por Sammie é tão poderosa que é
capaz de acessar o mundo espiritual e chama a atenção do vampiro Remmick (Jack
O’Connell), que decide atacar o local para devorar Sammie e absorver seu poder.
Nunca fui muito de acompanhar
séries médicas. No máximo acompanhei algumas temporadas de House por conta de sua estrutura de mistério e investigação que
remetia a uma dinâmica de histórias do Sherlock Holmes. The Pitt, no entanto, chamou minha atenção pela sua forma de contar
a história, acompanhando um plantão de emergência em tempo real, com cada
episódio cobrindo uma hora de plantão. O resultado é algo que soa como uma
mistura de Plantão Médico com 24 Horas, mas acaba sendo mais do que
uma mera combinação de elementos conhecidos.
Sob pressão
A série acompanha um turno do
plantão de emergência de um hospital em Pittsburgh que é liderado pelo Dr.
Michael “Robby” Robinavitch (Noah Wyle, veterano da série Plantão Médico). Robby comanda a equipe formada por médicos,
enfermeiros, residentes e estudantes de medicina, lidando não só com a urgência
de casos complicados, mas com os recursos limitados do hospital.
Não me lembro de outra produção
brasileira antes deste O Deserto de Akin
que tenha explorado o programa Mais Médicos e a vinda de médicos cubanos para o
Brasil. Apesar de ter sido um assunto que tomou a esfera pública por um bom
tempo, não tenho lembrança de muitas outras produções brasileiras sobre o tema.
Deserto particular
A trama é centrada em Akin
(Reynier Morales), um médico cubano trabalhando no interior do Espírito Santo
que vai aos poucos se conectando ao local e é afetado pela mudança no programa
e no governo brasileiro depois de 2018. Ele não tem muitas amizades fora do
trabalho, tendo em Érica (Ana Flávia Cavalcante) sua única conexão afetiva.
Logo a dupla também agrega Sérgio (Guga Patriota), cozinheiro pernambucano que,
assim como Akin, se sente solitário e deslocado no local.
O tabu em volta do aborto muitas
vezes reduz a discussão em torno dele como uma discussão meramente de cunho
moral. Isso impede que o problema seja visto como uma questão de saúde pública
ou que se discuta outras facetas do problema. Nesse sentido, a produção
pernambucana Ainda Não é Amanhã traz
uma reflexão mais ampla sobre o tema ao pensar no ambiente inseguro que a
proibição do aborto cria para as mulheres.
Alternativas limitadas
A narrativa é protagonizada por
Janaína (Mayara Santos), uma jovem que mora com a mãe e a avó na periferia de
Recife. Janaína é uma aplicada estudante de direito e namora com Jefferson
(Mário Victor), que vive de fazer entregas com sua bicicleta. Quando Janaína
descobre estar grávida de Jefferson ela começa a ver seus prospectos de futuro
diminuírem e começa a analisar as opções limitadas que tem para resolver a
questão.
Chegando em sua terceira
temporada, a série de antologia The White
Lotus encontra aqui suas tramas menos interessantes. Muito se falou da cadência
lenta deste terceiro ano, mas a verdade é que a série sempre desenvolveu seus
conflitos em um cozimento lento. As tensões se construíam de maneira deliberada
em pequenos gestos, falas sutis que iam se acumulando até estourarem em
conflitos. Não é esse o problema real do terceiro ano. O que torna a temporada
mais recente inferior às demais é que a maioria dos conflitos ou desdobramentos
termina soando superficial, mal construída ou uma repetição de outras
temporadas.
Ilha da fantasia
A temporada se passa na Tailândia
e apresenta um novo grupo de hóspedes como o trio de amigas Kate (Leslie Bibb),
Laurie (Carrie Coon) e Jacklyn (Michelle Monaghan) que estão em uma viagem para
curtir, mas acabam desenterrando antigos ressentimentos. Rick (Walton Goggins)
chega com a namorada Chelsea (Aimee Lou Wood, de Sex Education), mas esconde dela que está lá para uma vingança
pessoal. O rico empresário Timothy Ratliff (Jason Isaacs) está com sua família,
a esposa dondoca Victoria (Parker Posey), os filhos Saxon (Patrick Schwarzenegger)
e Lochlan (Sam Nivola), e a filha Piper (Sarah Catherine Hook). Retornando da
primeira temporada está Belinda (Natasha Rothwell) que vai para a Tailândia
aprender novas técnicas de massagem, mas reencontra figuras do passado.
Escolher viver de arte não
significa que a arte irá escolher você. Independente do talento é possível
amargar sucesso e anonimato por muito tempo e muita gente abandona essa busca
artística por conta de desilusões. Centro
Ilusão trata exatamente disso, do quanto o mundo da arte pode te mastigar e
cuspir de volta e de onde é possível encontrar ânimo para continuar.
Música errante
A narrativa acompanha dois músicos
que se conhecem na seleção para um laboratório musical. Kaio (Bruno Kunk) é um
jovem músico que vê no laboratório a chance de finalmente poder atuar
profissionalmente como músico ao invés de tocar na rua passando o chapéu. Tuca
(Fernando Catatau) é um homem de meia idade que a despeito do talento nunca
decolou como músico e vê no laboratório uma última chance. Enquanto aguardam o
resultado da seleção, ambos perambulam pelo centro de Fortaleza conversando
sobre suas experiências.
Depois de um interessante
primeiro longa em Fresh (2022), a
diretora Mimi Cave nos traz este Holland,
que tenta construir uma atmosfera de mistério e estranhamento, mas que termina
sendo mais uma história sobre como a idílica vida de classe média em uma
pequena cidadezinha estadunidense pode ser mais sombria do que parece. É uma
produção que atira em várias direções ao mesmo tempo e que não é certeira em
nenhuma, dependendo do carisma de Nicole Kidman para manter tudo coeso.
Perfeição artificial
A narrativa é protagonizada por
Nancy (Nicole Kidman), uma dona de casa na pequena cidade de Holland, um
lugarejo no interior dos Estados Unidos que tenta emular o estilo de vida na
Holanda. Ela tem uma vida aparentemente pacata ao lado do marido, Fred (Mathew
Macfadyen), e do filho, Harry (Jude Hill). Essa existência aparentemente
perfeita é maculada quando Nancy descobre papeis relativos as viagens de
trabalho do marido que provam que ele não ia para as cidades que dizia que ia.
Imediatamente Nancy começa a investigar os hábitos de Fred e alista o colega de
trabalho Dave (Gael Garcia Bernal) para ajudá-la. Ao curso da investigação os
dois se aproximam ao mesmo tempo em que descobrem coisas sombrias a respeito de
Fred.
Depois de três anos da excelente
primeira temporada, Ruptura finalmente
volta para seu segundo ano com uma trama que amplia os conflitos de seus
personagens e aprofunda a mitologia de seu universo, explorando mais o passado
da Lumon e do processo de ruptura.
Trabalho interno
Depois dos eventos do fim do
primeiro ano Mark (Adam Scott) volta a trabalhar refinando macrodados na Lumon.
Seu interno não sabe como voltou para lá nem o que aconteceu no mundo exterior
depois que conseguiram visitá-lo, mas sabe que sua esposa ainda está viva em
algum lugar na empresa e tenta encontrá-la com a ajuda dos colegas Irv (John
Turturro), Dylan (Zach Cherry) e Helly (Britt Lower), por quem está apaixonado.
A saída deles também impacta no modo como a Lumon lida com os funcionários que
passaram por ruptura, anunciando mudanças que supostamente vão melhorar a
qualidade de vida deles.
Um dos melhores filmes
biográficos que já assisti é Não Estou Lá
(2007), de Todd Haynes. É uma biografia do cantor Bob Dylan que não o cita
nominalmente e não usa sua música, mas trás vários segmentos em que atores e
atrizes diferentes interpretam personagens que representam as diferentes fases
da carreira e da vida de Dylan. É uma obra abrangente, que nos faz entender as
multidões que Dylan continha em si e tudo o que o movia. Por isso não fiquei
interessando quando soube desde Um
Completo Desconhecido, já que dificilmente ele estaria no mesmo patamar que
o filme de Haynes.
Registro mimético
A trama segue Bob Dylan (Timothee
Chalamet) desde sua chegada a Nova Iorque em 1961 até o lançamento de Like a Rolling Stone no qual ele se
distancia de boa parte de seus padrinhos artísticos da música folk. É uma biografia que mais está
interessada em narrar os eventos da trajetória do cantor do que realizar
qualquer tipo de estudo de personagem ou chegar a um entendimento maior de quem
é Dylan e o que movia a construção de sua arte, se limitando a dizer que Dylan não gostava de ficar estagnado.
Olhar para o passado pode nos
permitir analisar o presente. É isso que A
Ordem faz ao contar a história real da investigação do FBI que desbaratou
um grupo neonazista que estava acumulando fundos para tentar fomentar um golpe
de estado na década de 80. Por mais que seja uma trama sobre eventos que
aconteceram há quarenta anos, o filme não deixa também de pensar em como isso
impacta na contemporaneidade.
Guerras secretas
A trama se passa em 1983 e
acompanha o agente do FBI Terry Husk (Jude Law), que é enviado para
reestruturar um escritório do FBI no interior de Idaho. É aparentemente um
posto vazio, sem muita ação, algo que Husk deseja para poder ter a chance de se
reconectar com a esposa e a filha. As coisas, no entanto, não continuarão
tranquilas. Um policial local, Jamie (Tye Sheridan), avisa Husk de suas
suspeitas de que a onda de assaltos a banco e roubos de carro forte que assolam
a região podem estar conectadas a grupos neonazistas que estão acumulando
recursos para planejar alguma grande ação.
Conheço muito pouco da trajetória
do cantor Robbie Williams, então não estava particularmente curioso para este Better Man: A História de Robbie Williams. Como
foi feito com a participação direta do cantor, que inclusive interpreta a si
mesmo, temi que fosse aquele tipo de biografia chapa branca que existe só para
divulgar as músicas do artista e foge de polêmicas como I Wanna Dance With Somebody: A História de Whitney Houston(2022).
Felizmente não é esse o caso e o filme abraça as contradições e problemas de
seu protagonista com uma autoanálise bem consciente que me remeteu a Rocketman(2019).
Trajetória selvagem
A trama segue a trajetória de
Robbie desde sua infância, passando pelo início da fama com a boy band Take That, sua carreira solo e
seus problemas pessoais com drogas, além da relação complicada que tem com o
pai. Robbie interpreta a si mesmo, mas não está exatamente em cena, já que ao
invés do corpo do cantor temos um macaco antropomórfico. A ideia de colocar
Williams como macaco é uma tentativa de ilustrar a insegurança e senso de
deslocamento do artista, que sempre se viu como um pária, alguém que não
pertencia ao lugar onde estava, inseguro do próprio valor e se vendo como uma
criatura mais primitiva.
De certa forma Nickel Boys se conecta bastante a outro
filme indicado ao Oscar esse ano, o documentário Sugarcane: Sombras de um Colégio Interno(2024). Os dois falam de
instituições de ensino cujo objetivo deveria ser reformar ou integrar seus
internos, mas que serviram apenas de instrumento de opressão e genocídio contra
membros de minorias, indígenas em Sugarcane
e negros aqui. São dois filmes que lembram como os Estados Unidos tratam essas
minorias como cidadãos de segunda classe cujas vidas não importam.
Olhar em perspectiva
A trama adapta o romance homônimo
de Colson Whitehead e se passa na Flórida da década de 1960. Elwood (Ethan
Herisse) é um promissor jovem negro que está a caminho de um programa de
estudos avançados. Na viagem ele pega carona com um desconhecido que é parado
pela polícia e descobre que o carro é roubado. Preso como cúmplice Elwood é
enviado para o Reformatório Nickel onde conhece Turner (Brandon Wilson). Os
dois se tornam amigos e tentam sobreviver à crueldade do local, no qual
castigos físicos e torturas são elementos do cotidiano. O reformatório foi
baseado na Escola Dozier que operou por mais de um século na Flórida com um
amplo histórico de abuso.