A produção britânica Os Radley tenta fazer algo diferente com
histórias de vampiros ao contar a história de uma família vampírica que tenta
viver uma vida normal em sua vizinhança pacata, abdicando do consumo de sangue.
Os problemas que se impõem a eles no cotidiano, no entanto, ampliam a vontade
de morder pessoas.
Fome de viver
Os jovens Rowan (Harry Baxendale)
e Clara (Bo Bragason) Radley são adolescentes aparentemente comuns, embora se
sintam diferentes e deslocados dos demais. A confirmação de que eles são de
fato diferentes vem quando Clara reage a um colega de escola que tenta abusar
dela, criando presas e mordendo seu pescoço para devorar seu sangue. É então
que seus pais Peter (Damian Lewis) e Helen (Kelly Macdonald) revelam a verdade:
eles são vampiros, mas optaram por uma vida abstêmia por não quererem ter que
matar pessoas. Para lidar com o cadáver do colega morto, Helen chama o cunhado
Will (também Damian Lewis), que ao contrário deles não tem qualquer questão
moral em devorar sangue.
Em Amores Materialistas a diretora Celine Song tenta expandir algumas
ideias sobre relacionamentos amorosos que trabalhou no excelente Vidas Passadas (2023). Lá ela
desconstruía a ideia de que existe uma alma gêmea para cada pessoa, pensando
que essa noção de pessoa ideal tem muito a ver com oportunidade e conveniência.
Aqui em Amores Materialistas ela
pondera sobre a natureza transacional dos relacionamentos.
Material girl
A narrativa gira em torno de Lucy
(Dakota Jonhson), que trabalha numa agência de relacionamentos voltada para
clientes de alta classe. Seu trabalho consiste em encontrar os pares ideais
para seus clientes, homens e mulheres, que buscam alguém para casar. Em seu cotidiano
ela pesa preferências de cada um, nível de renda e o que cada cliente exige de
um par ideal. É um trabalho que pensa em relacionamentos quase como produtos,
nos quais alguém busca um objeto com certas características e ela procura outra
pessoa que se encaixe nas exigências e que cumpra as da outra pessoa. No
casamento de uma cliente, Lucy conhece Harry (Pedro Pascal), um rico e charmoso
investidor que reúne a beleza e dinheiro que ela espera de um par. Lucy também se
reencontra com seu ex, John (Chris Evans), um ator de teatro cuja carreira
nunca decolou e ainda vive de pequenos bicos mesmo próximo dos quarenta anos de
idade. Apesar de não ter nada de material a oferecer, Lucy tem uma forte
conexão afetiva com John e constantemente desabafa com ele.
A primeira cena do filme, com um
homem das cavernas se aproximando de uma mulher levando flores e ferramentas
feitas de osso e ela cede aos avanços do homem. É uma cena que ilustra como
relacionamentos podem se construir a partir do interesse no que a outra pessoa
tem a lhe oferecer, seja conforto material, status social que vem de riqueza ou
aparência física, seja do prazer sexual que a outra pessoa lhe dá. Casamentos,
afinal, são contratos e como qualquer contrato depende do interesse de ambas as
partes. Esse componente materialista e até mesmo primitivo dos relacionamentos
se verifica no presente nas reuniões que Lucy tem com os clientes nas quais
homens e mulheres elencam o que buscam no parceiro, desde faixa de renda,
passando por idade, altura ou medidas do corpo. Lucy encara tudo com um
pragmatismo extremo, indagando aos clientes que elementos eles estariam
dispostos a abrir mão na busca por um par e quais não são negociáveis, partindo
da ideia de que nos relacionamos com alguém na medida em que percebemos que a
outra pessoa nos agrega valor, mesmo que seja um valor sentimental, intangível.
Assim, ela é colocada em um
triângulo amoroso no qual suas convicções serão testadas. De um lado Harry é
tudo que sua mente materialista sempre desejou, ele atende a todos os seus
critérios e ela os dele, já que ele é tão pragmático em sua visão de
relacionamentos quanto ela. Por outro lado, John é alguém que está sempre
presente, alguém que ela sabe que pode depender para suporte emocional e que
consegue saber que Lucy não está bem pelas mínimas nuances de voz ou rosto.
Johnson, Pascal e Evans formam um trio charmoso, com Evans e Pascal dotando
seus personagens de uma medida de vulnerabilidade emocional que ajuda a dar aos
dois personagens mais camadas. A dinâmica que o trio de atores estabelece entre
si torna crível o dilema da protagonista mesmo quando o texto deixa pistas
muito explícitas a respeito de quem ela irá escolher.
Relações abusivas
O principal problema do filme nem
é a previsibilidade do triângulo amoroso, já que Evans e Pascal são
pretendentes atraentes e carismáticos o bastante para manter nosso interesse,
mas a maneira desajeitada com a qual a narrativa insere uma subtrama de abuso
sexual envolvendo Sophie (Zoe Winters), uma das clientes de Lucy. A primeira
coisa que chama atenção é o modo pouco crível pelo qual a situação é
construída. Lógico, Lucy ou qualquer pessoa da empresa não tem como ter certeza
total que os homens que participam do serviço não são agressores em potencial,
mas considerando que é um serviço para pessoas de alta classe e os tempos em
que estamos vivendo é difícil crer que a empresa de Lucy não possua qualquer
protocolo para lidar com isso, como um botão de pânico ou um serviço de
emergência.
Também incomoda que toda a trama
de Sophie não discuta o abuso, a falta de punição para os homens que cometem
isso ou outras variáveis sociais da questão. O abuso de sofrido pela personagem
existe apenas para avançar a história de Lucy, já que a violência que Sophie
passa e o confronto entre ela e Lucy lembram a protagonista dos perigos de
tratar pessoas como objetos. O abuso de Sophie é um mero motivador para Lucy
repensar suas convicções e as escolhas que faz em relação a John e Harry,
lembrando que por mais transacional que um relacionamento seja, é difícil
funcionar ou durar sem alguma medida de afeto.
O clímax é igualmente pouco
crível, já que é difícil de acreditar que Sophie não tinham mais ninguém para
ligar além de Lucy, mesmo tendo aberto um processo contra a empresa dela. Sim,
ela pode ser uma pessoa tão focada na carreira que não tem amigas, mas se ela é
essa figura bem sucedida ela provavelmente teria uma colega de trabalho, uma
secretária, uma estagiária, alguém que pudesse chamar. Do jeito que está tudo
soa forçado para fazer a redenção de Lucy, mesmo que o texto não a tenha feito
merecer essa redenção.
Assim, a diretora Celine Song
continua a trazer reflexões instigantes sobre a natureza dos relacionamentos,
pensando em sua dimensão de transação a partir de um romance que se sustenta
pelo charme de seu trio principal, já que a trama tropeça em algumas escolhas
problemáticas.
No papel The Alto Knights: Máfia e Poder soa como um filme promissor. A
história real de uma rivalidade entre dois grandes mafiosos estrelada por
Robert De Niro e dirigida pelo renomado Barry Levinson parece um filme com
tudo para dar certo. Infelizmente, no entanto, o que parece se conduzir como se
fosse um novo Os Bons Companheiros
(1990)termina mais próximo de um
desastre como Gotti: O Chefe da Máfia(2018).
Dupla explosiva
A narrativa se baseia na história
real da rivalidade entre Frank Costello (Robert De Niro) e Vito Genovese
(também Robert De Niro), dois imigrantes italianos que trabalharam juntos em
organizações mafiosas nos Estados Unidos da metade século XX e se tornaram
rivais disputando pelo controle. Suas personalidades são opostas, com Costello
sendo um sujeito mais suave, mais político, enquanto Vito é cabeça quente,
irascível e propenso a resolver tudo na base da violência. Quando um atentado à
vida de Frank fracassa, ele resolve se aposentar do comando da organização
passando tudo para Vito, mas a ambição e paranoia de Vito colocam tudo em
risco.
Realizado por Orlando
Senna e Jorge Bodanzky e lançado em 1975 Iracema: Uma
Transa Amazônica chegou a ser proibido pela ditadura militar por muitos
anos e só foi lançado no Brasil em 1981. Hoje o filme recebe uma restauração em
4K para voltar aos cinemas e revisitá-lo agora traz a constatação melancólica
de que muito pouco mudou no país entre os cinquenta anos que separam
sua produção do seu retorno às salas de cinema.
Mitos desconstruídos
A narrativa acompanha o
caminhoneiro Tião Brasil Grande (Paulo César Peréio) que vai para o norte do
Brasil por conta da promessa de progresso e riqueza que a rodovia
Transamazônica (oficialmente a BR-230) supostamente traria. Chegando lá ele
conhece Iracema (Edna de Cássia), uma adolescente indígena que sobrevive de
prostituição, e a leva consigo em suas viagens pelo norte. É um filme que
mistura atores e cenas encenadas com personagens reais, colocando Peréio para
interagir com pessoas da região enquanto dialoga sobre o suposto progresso que
o governo militar diz estar acontecendo por conta da obra da rodovia.
Sendo um dos programas de
televisão mais longevos dos Estados Unidos, tendo completado 50 anos neste ano,
Saturday Night Live faz parte da
história da comédia e do entretenimento no país. Dirigido por Jason Reitman, Saturday Night: A Noite que Mudou a Comédia
tenta honrar o legado do programa ao narrar a origem do programa e como ele
marcou por fazer algo muito diferente da comédia televisiva de então.
Embalos de sábado à noite
A narrativa é centrada no
produtor Lorne Michaels (Gabriel LaBelle, de Os Fabelmans) e sua esposa Rosie Shuster (Rachel Sennott) horas
antes do primeiro Saturday Night ir
ao ar ao vivo. Lorne corre contra o tempo para ajeitar os últimos detalhes,
conciliar os egos dos membros dos elencos e roteiristas conforme lida com os
executivos da emissora e uma desconfiança de que esse programa enorme, ao vivo,
feito por comediantes desconhecidos, pode ser um grande fracasso.
De certa forma Tempo de Guerra passa por questões
similares a Falcão Negro em Perigo (2001).
Ambas são produções tecnicamente bem feitas nas suas reconstruções de situações
de guerra, mas que é míope demais no contexto ao redor desse conflito para que
seu efeito seja qualquer outra coisa que não uma celebração maniqueísta da
resiliência das tropas retratadas.
Guerra interior
A trama conta a história real de
uma tropa de fuzileiros durante a Guerra do Iraque que ficou acuada em dentro
de uma casa enquanto tentavam dar suporte a outra unidade. Sem ter como sair e
com soldados feridos, eles tentam resistir aos ataques externos enquanto buscam
um modo de cuidar dos feridos e evacuar em segurança. A narrativa se passa em
tempo real, acompanhando a situação conforme ela se desenrola e busca um
registro mais realista de uma operação de guerra.
Desde o início dos anos 2000 as
cinebiografias musicais se tornaram um filão comercial no cinema brasileiro. Nem
todas estão no mesmo nível de qualidade, com algumas, como Tim Maia (2014), se destacando enquanto outras, como a biografia
dos Mamonas Assassinas, ficando aquém de seus biografados. Homem Com H, por sua vez, é uma das melhores produções dos últimos
anos ao acompanhar a trajetória de Ney Matogrosso.
Sangue Latino
A narrativa acompanha Ney
(Jesuíta Barbosa) desde sua juventude até cerca dos anos 90 quando ele perde
seu companheiro, Marco (Bruno Montaleone), por complicações relativas à AIDS.
Ao longo de sua vida, vemos Ney Matogrosso lidou com o preconceito desde cedo
por conta de seu pai (Rômulo Braga), militar severo que batia no filho por
conta do comportamento afeminado, além de desafiar a ditadura militar com seus
figurinos e performances musicais.
Existem dois filmes dentro de Echo Valley e, infelizmente, a produção
escolhe por priorizar o menos interessante deles. Apesar de um começo promissor
e de um elenco competente, a produção acaba degringolando em um suspense B que sequer
consegue executar bem suas principais reviravoltas.
Querida menina
Depois de uma perda pessoal
severa, Kate (Julianne Moore) passa a viver reclusa em sua fazenda de cavalos.
O cotidiano solitário dela é interrompido pelo retorno Claire (Sydney Sweeney),
sua filha viciada em drogas. De início parece que Claire está disposta a se
reestruturar, mas logo fica evidente que ela está ali só para conseguir
dinheiro e outros recursos antes de voltar para as ruas. Kate tenta ajudá-la,
mas logo se vê enredada nos crimes da filha.
Considerado por muito tempo como
o pior diretor do mundo, os filmes de Ed Wood são lembrados por sua tosqueira,
uso de imagens de arquivo e narrativas insólitas. Ele é uma figura singular no
cinema dos EUA, vivendo às margens dessa indústria a despeito de seu desejo de
ser parte dela. Talvez seja essa vida de pária que atraiu Tim Burton, sempre
interessado em personagens solitários ou excluídos, a contar a história do
diretor em Ed Wood, lançado em 1994.
Cinema nas bordas
A narrativa é toda filmada em
preto e branco, acompanhando Ed (Johnny Depp) desde seus esforços para filmar
seu primeiro longa-metragem, Glen or
Glenda (1953), passando por sua amizade com o ator Bela Lugosi (Martin
Landau), suas tentativas de se estabelecer na indústria e a culminância de sua
carreira em Plan 9 From Outer Space (1959),
produção que lhe deu fama, ou melhor, infâmia internacional.
Primeiro longa-metragem do
diretor Pat Boonnitipat, a produção tailandesa Como Ganhar Milhões Antes que a Avó Morra parte de uma premissa
inusitada para contar uma afetuosa história sobre família, luto e legado. Às
vezes é um pouco previsível, mas tem charme e emoção o suficiente para nos
manter interessados.
Esquema afetivo
A narrativa é centrada em M (Putthipong
Assaratanakul), um jovem sem perspectiva de futuro que passa seu tempo com
jogos online. Ele vê a prima Mui (Tontawan Tantivejakul) tomar conta de um tio
idoso e saltar para a prioridade em seu testamento, ficando com a casa dele
quando ele morre. Percebendo como a herança permitiu que a prima subisse na
vida, M enxerga a notícia que sua avó, Amah (Usha Seamkhum), está com câncer e
provavelmente só tem um ano de vida, como uma possibilidade de ganhar a
preferência da avó e ficar no topo das prioridades por herança.
Um dos gêneros mais marcantes do
cinema hollywoodiano, o faroeste foi marcado durante muito tempo por ideais
tradicionais de masculinidade. Para sobreviver nos ermos do oeste selvagem seus
protagonistas eram homens duros, brutos e violentos que não tinham muito tempo
para ternura ou falar sobre sentimentos. A produção brasileira Oeste Outra Vez remete ao faroeste
justamente para pensar a respeito de masculinidade e como certos padrões de
comportamento podem ser destrutivos para os próprios homens.
Todo mundo tem problemas sentimentais
A trama se passa no interior de
Goiás e acompanha Totó (Ângelo Antônio). Ele foi deixado pela mulher que amava
e que o trocou por Durval (Babu Santana). Totó e Durval brigam, com Totó saindo
machucado e jurando vingança. Ele contrata um jagunço para matar Durval e o
atentado dá errado. A esse ponto Durval contrata uma dupla de matadores para
dar cabo de Totó e seu jagunço que fugiram para áreas ainda mais remotas para
se esconderem.
A minissérie Sereias é um novelão. Digo isso não em um sentido perjorativo, já
que sua abordagem novelesca, cheia de excessos e histrionismos é parte do que a
torna divertida, no entanto, sei que muita gente não se atrai por esse tipo de
produto. Por isso aviso logo que se algo com uma pegada novelesca não é a sua
praia, você talvez não se atraia pela série. Aviso que o texto contem SPOILERS
da série.
O canto da sereia
A trama é centrada em Devon
(Meghann Fahy), uma mulher que abriu mão de muita coisa na vida para cuidar da
irmã mais nova depois do falecimento da mãe e agora tem que cuidar do pai que
está em estado avançado de demência. Não conseguindo lidar sozinha com a
responsabilidade, ela tenta contato com a irmã mais nova, Simone (Milly
Alcock), que a ignora. Devon decide então ir até onde a irmã está, uma luxuosa
casa de veraneio em uma ilha habitada por ricaços na qual Simone trabalha como
assistente pessoal de Michaela (Julianne Moore), a esposa filantropa do
bilionário Peter Kell (Kevin Bacon). Lá vê uma estranha relação de
co-dependência entre Michaela e Simone, decidindo tirar a irmã dali, mas logo a
própria Devon é puxada para a órbita de Michaela.
Dirigido por Paul Schrader, Oh, Canadá é sobre como nenhum registro
é capaz de dar conta de um indivíduo. Tentar contar a história de alguém envolve
escolhas, envolve fabulação, e nesse processo o sujeito é transformado em um
ser de linguagem, um personagem, que por mais que se tente nunca refletirá
completamente a complexidade de uma pessoa real. É uma análise de como se constrói
um discurso mitificado sobre alguém e as fissuras nesse discurso, embora nem
chegue a executar suas ideias com a contundência que acredita estar exercendo.
Multidões dentro de si
A narrativa adapta o romance Foregone, de Russell Banks, e é centrada
em Leo Fife (Richard Gere), um renomado documentarista que nos anos 60 teria
fugido dos Estados Unidos para o Canadá por se recusar a servir na Guerra do
Vietnã. Agora, com um câncer em estado avançado, ele aceita falar para o documentário
que um antigo estudante, Malcolm (Michael Imperioli), está fazendo a seu
respeito. Ao longo da conversa, Leo revisita sua juventude (na qual passa a ser
interpretado por Jacob Elordi) e, sabendo que seus dias estão contados, reconta
sem reservas a sua vida, oferecendo um olhar sobre si que vai além da visão
construída de um cineasta engajado.
Em um mundo pós apocalíptico em
que os recursos são escassos e há um grande controle populacional por parte do
governo, qualquer casal que deseje ter filhos precisa se submeter a um processo
no qual são avaliados por alguns dias para analisar se eles tem condições de
criar filhos. A Avaliação parte desse
conceito para pensar sobre relacionamentos afetivos, controle populacional e
totalitarismo estatal.
Teste despadronizado
A narrativa foca no casal Mia
(Elizabeth Olsen) e Aaryan (Himesh Patel), dois cientistas que se submetem ao
processo de avaliação para tentarem ter um filho. Eles são avaliados por
Virginia (Alicia Vikander) que irá ficar com eles por sete dias observando
diferentes aspectos da vida do casal para determinar se eles estariam aptos a
terem filhos ou não. De início Virginia age de forma bastante protocolar,
perguntando sobre o trabalho do casal ou a relação deles, mas a partir do
segundo dia, os testes passam a ser menos ortodoxos, incluindo Virginia se
comportando como criança para testar as reações deles ou tentando seduzi-los.
Estrelado por Vince Vaughn, Nonnas é aquele tipo de “filme conforto”
que a gente sabe que é extremamente clichê, não tem nada que nos instigue ou
desafie enquanto espectadores, mas apreciamos pela familiaridade e pela emoção
genuína que oferece dentro de um esquema já conhecido de narrativa sobre
relações familiares e realização de sonhos.
Comida de vó
A narrativa se baseia em uma
história real e é centrada em Joe (Vince Vaughn). Depois de perder a mãe, Joe
tenta se reconectar com a memória dela refazendo suas antigas receitas. Daí ele
tem a ideia de usar o dinheiro que sua mãe lhe deixou para abrir um restaurante
focado em celebrar essa comida italiana caseira, trazendo “nonas” italianas
para cozinharem com ele. Assim ele recruta um time formado por Gia (Susan
Sarandon), Teresa (Talia Shire, a eterna Adrian da franquia Rocky), Antonella (Brenda Vaccaro) e
Roberta (Lorraine Bracco).
Apesar de boas cozinheiras, a
personalidade forte dessas senhoras as coloca em conflito, criando problemas no
restaurante. As dificuldades também vem do lado financeiro, já que Joe não tem
muita experiência com negócios e mesmo com o auxílio do melhor amigo, Bruno
(Joe Manganiello), as contas do restaurante não fecham. É tudo bem típico desse
tipo de história, sendo bem previsível que as senhoras irão eventualmente
dialogar e perceber as dificuldades que cada uma teve que superar e vão
cooperar umas com as outras.
O que conquista é o peso
emocional que cada uma das atrizes consegue dar a suas personagens, nos fazendo
sentir como elas são um produto de tudo com que tiveram de lidar ao longo de
suas trajetórias e no senso verdadeiro de amizade que se desenvolve entre elas.
É também um retrato bem sincero e afetuoso de comunidades de ítalo-descendentes
(diferente de estereótipos presentes em filmes como Amor em Little Italy) e de como o ato de cozinhar não tem apenas a
ver com comer e sim com um senso de comunidade e afeto. Como alguém que vem de
uma família de descendentes de italianos, acompanhar um ambiente de cozinha
repleto de senhoras italianas idosas berrando umas com as outras me fez sentir
em casa.
Empreendedorismo performático
O arco de Joe e os desafios do
restaurante, bem como sua tentativa de se reaproximar de sua antiga paixão de
infância, Olivia (Linda Cardellini), por outro lado, é bem menos interessante.
A trama romântica com Olivia se desenvolve de maneira muito fácil e sem muito
drama. Já a narrativa do restaurante segue a fórmula desse tipo de história de
superação, fazendo parecer que tudo é uma questão de força de vontade a
acreditar no próprio negócio, como isso por si só fizesse qualquer obstáculo
sumir.
Não importa qual o problema que
apareça, ele vai ser rapidamente resolvido por algum deus ex machina do roteiro como que conjurado pelo simples fato de
que Joe quer que o negócio dê certo. Em muitos casos a própria narrativa deixa
explícito que Joe sequer sabe o mínimo de como gerir um restaurante (incluindo
conhecimento de códigos ou regulamentos) e faz parecer que esses problemas são
culpa dos outros e não do sujeito que não se preparou para gerir um negócio que
abriu por vontade própria.
Felizmente, o elenco de atrizes
veteranas dá suficiente alma e coração a Nonnas
que a produção consegue trazer o conforto de um almoço de domingo na casa da
avó mesmo que seja uma refeição que já consumimos inúmeras vezes.
Lançado em 2011 e dirigido por Nanni
Moretti, Temos Papa (Habemus Papam no original)reflete sobre o peso de ocupar um cargo
tão poderoso e influente como o de Papa. O filme traz consigo uma tentativa de
lembrar que por mais solene que seja o processo de eleição de um novo pontífice,
aqueles envolvidos e o próprio escolhido são pessoas com seus próprios problemas
dúvidas e inseguranças.
Papa em pânico
A trama começa com o falecimento do
atual Papa e a necessidade de um conclave para eleger um novo líder da Igreja
Católica. Durante a eleição o cardeal Melville (Michel Piccoli) é escolhido
como Papa apesar de não estar entre os mais cotados. No momento em que ele está
prestes a ser apresentado ao mundo, no entanto, o novo Papa tem um ataque de pânico
e não consegue sair na sacada. Sem um novo papa, o processo do conclave não é
concluído e os cardeais são obrigados a continuarem isolados.
Dirigido por Ryan Coogler (responsável por Pantera Negra, Creed e Fruitvale Station), Pecadores lembra um pouco Um Drink no Inferno (1996) ao contar a
história de um grupo de pessoas presas em um bar na beira da estrada tomado por
vampiros enquanto eles tentam sobreviver até o amanhecer. As semelhanças, no
entanto, ficam só na premissa básica, já que Pecadores tem questões bem diferentes de como pensa os vampiros e
nas relações entre seus personagens.
A voz suprema do blues
A narrativa se passa nos Estados
Unidos da década de 1930. Os gêmeros Fumaça e Fuligem (ambos Michael B. Jordan)
retornam para sua pequena cidade no Mississipi para abrirem um clube de blues
usando o dinheiro que ganharam dos gângsteres de Chicago. Eles recrutam o primo
Sammie (Miles Catton) para tocar no clube por conta do talento do garoto,
apesar do pai de Sammie, um pastor de igreja não querer que ele se envolva com
música que não seja gospel. A música tocada por Sammie é tão poderosa que é
capaz de acessar o mundo espiritual e chama a atenção do vampiro Remmick (Jack
O’Connell), que decide atacar o local para devorar Sammie e absorver seu poder.
Nunca fui muito de acompanhar
séries médicas. No máximo acompanhei algumas temporadas de House por conta de sua estrutura de mistério e investigação que
remetia a uma dinâmica de histórias do Sherlock Holmes. The Pitt, no entanto, chamou minha atenção pela sua forma de contar
a história, acompanhando um plantão de emergência em tempo real, com cada
episódio cobrindo uma hora de plantão. O resultado é algo que soa como uma
mistura de Plantão Médico com 24 Horas, mas acaba sendo mais do que
uma mera combinação de elementos conhecidos.
Sob pressão
A série acompanha um turno do
plantão de emergência de um hospital em Pittsburgh que é liderado pelo Dr.
Michael “Robby” Robinavitch (Noah Wyle, veterano da série Plantão Médico). Robby comanda a equipe formada por médicos,
enfermeiros, residentes e estudantes de medicina, lidando não só com a urgência
de casos complicados, mas com os recursos limitados do hospital.
Não me lembro de outra produção
brasileira antes deste O Deserto de Akin
que tenha explorado o programa Mais Médicos e a vinda de médicos cubanos para o
Brasil. Apesar de ter sido um assunto que tomou a esfera pública por um bom
tempo, não tenho lembrança de muitas outras produções brasileiras sobre o tema.
Deserto particular
A trama é centrada em Akin
(Reynier Morales), um médico cubano trabalhando no interior do Espírito Santo
que vai aos poucos se conectando ao local e é afetado pela mudança no programa
e no governo brasileiro depois de 2018. Ele não tem muitas amizades fora do
trabalho, tendo em Érica (Ana Flávia Cavalcante) sua única conexão afetiva.
Logo a dupla também agrega Sérgio (Guga Patriota), cozinheiro pernambucano que,
assim como Akin, se sente solitário e deslocado no local.
O tabu em volta do aborto muitas
vezes reduz a discussão em torno dele como uma discussão meramente de cunho
moral. Isso impede que o problema seja visto como uma questão de saúde pública
ou que se discuta outras facetas do problema. Nesse sentido, a produção
pernambucana Ainda Não é Amanhã traz
uma reflexão mais ampla sobre o tema ao pensar no ambiente inseguro que a
proibição do aborto cria para as mulheres.
Alternativas limitadas
A narrativa é protagonizada por
Janaína (Mayara Santos), uma jovem que mora com a mãe e a avó na periferia de
Recife. Janaína é uma aplicada estudante de direito e namora com Jefferson
(Mário Victor), que vive de fazer entregas com sua bicicleta. Quando Janaína
descobre estar grávida de Jefferson ela começa a ver seus prospectos de futuro
diminuírem e começa a analisar as opções limitadas que tem para resolver a
questão.