Considerado por muito tempo como
o pior diretor do mundo, os filmes de Ed Wood são lembrados por sua tosqueira,
uso de imagens de arquivo e narrativas insólitas. Ele é uma figura singular no
cinema dos EUA, vivendo às margens dessa indústria a despeito de seu desejo de
ser parte dela. Talvez seja essa vida de pária que atraiu Tim Burton, sempre
interessado em personagens solitários ou excluídos, a contar a história do
diretor em Ed Wood, lançado em 1994.
Cinema nas bordas
A narrativa é toda filmada em
preto e branco, acompanhando Ed (Johnny Depp) desde seus esforços para filmar
seu primeiro longa-metragem, Glen or
Glenda (1953), passando por sua amizade com o ator Bela Lugosi (Martin
Landau), suas tentativas de se estabelecer na indústria e a culminância de sua
carreira em Plan 9 From Outer Space (1959),
produção que lhe deu fama, ou melhor, infâmia internacional.
Primeiro longa-metragem do
diretor Pat Boonnitipat, a produção tailandesa Como Ganhar Milhões Antes que a Avó Morra parte de uma premissa
inusitada para contar uma afetuosa história sobre família, luto e legado. Às
vezes é um pouco previsível, mas tem charme e emoção o suficiente para nos
manter interessados.
Esquema afetivo
A narrativa é centrada em M (Putthipong
Assaratanakul), um jovem sem perspectiva de futuro que passa seu tempo com
jogos online. Ele vê a prima Mui (Tontawan Tantivejakul) tomar conta de um tio
idoso e saltar para a prioridade em seu testamento, ficando com a casa dele
quando ele morre. Percebendo como a herança permitiu que a prima subisse na
vida, M enxerga a notícia que sua avó, Amah (Usha Seamkhum), está com câncer e
provavelmente só tem um ano de vida, como uma possibilidade de ganhar a
preferência da avó e ficar no topo das prioridades por herança.
Lançado em 2016, o primeiro O Contadorchamava atenção pelo
protagonista neurodivergente vivido por Ben Affleck, mas além disso era um
suspense moroso, com poucos elementos marcantes. Não era um filme que me
deixava curioso por mais, nem parecia ter sucesso ou fãs pedindo por uma
continuação. Ainda assim esse O Contador
2 é lançado quase dez anos depois do original e continua sendo um suspense
meia boca impedido de mergulhar no completo tédio por conta do protagonista.
Identificando padrões
A trama começa com o assassinato
de King (J.K Simmons) durante a investigação a um esquema de tráfico de
pessoas. A agente Marybeth (Cynthia Addai-Robinson) relutantemente pede ajuda a
Christian (Ben Affleck) para ajudar a descobrir o que aconteceu, já que o nome
dele estava nos arquivos de King. No percurso, Christian também é auxiliado
pelo irmão Braxton (Jon Bernthal) de quem tenta se reaproximar.
Um dos gêneros mais marcantes do
cinema hollywoodiano, o faroeste foi marcado durante muito tempo por ideais
tradicionais de masculinidade. Para sobreviver nos ermos do oeste selvagem seus
protagonistas eram homens duros, brutos e violentos que não tinham muito tempo
para ternura ou falar sobre sentimentos. A produção brasileira Oeste Outra Vez remete ao faroeste
justamente para pensar a respeito de masculinidade e como certos padrões de
comportamento podem ser destrutivos para os próprios homens.
Todo mundo tem problemas sentimentais
A trama se passa no interior de
Goiás e acompanha Totó (Ângelo Antônio). Ele foi deixado pela mulher que amava
e que o trocou por Durval (Babu Santana). Totó e Durval brigam, com Totó saindo
machucado e jurando vingança. Ele contrata um jagunço para matar Durval e o
atentado dá errado. A esse ponto Durval contrata uma dupla de matadores para
dar cabo de Totó e seu jagunço que fugiram para áreas ainda mais remotas para
se esconderem.
Primeiro trabalho de Jesse
Armstrong depois de encerrar a aclamada série Succession, o longa-metragem Mountainhead
é praticamente o oposto de sua série e não digo isso como um elogio. Se Successionapresentava uma ácida sátira
das elites financeiras que através de sua riqueza e plataformas midiáticas
ditavam os rumos da sociedade ao mesmo tempo em que construía personagens
complexos que nos atraíam para seus dramas, mesmo que nós soubéssemos o quanto
são moralmente repulsivos, nada disso, porém, está presente aqui. O que
Armstrong entrega é uma tentativa de sátira desprovida de qualquer qualidade
mordaz e que se acomoda em apontar o óbvio sem refletir ou analisar nada.
Elite do atraso
A trama acompanha uma reunião de
quatro bilionários de tecnologia. Souper (Jason Schwartzman) traz os amigos
Randall (Steve Carell), Venis (Corey Michael Smith) e Jeff (Ramy Youssef) para passar
um final de semana em sua mansão na montanha. Ao longo do dia eles veem
instabilidade política e econômica tomarem o planeta conforme uma atualização
da IA criada por Venis permite fazer conteúdo quase que indistinto da
realidade, o que obviamente começa a ser usado para fins espúrios. O quarteto
começa a ver isso como uma oportunidade e passam a discutir maneiras de tomar
proveito da situação e ficarem ainda mais ricos.
A minissérie Sereias é um novelão. Digo isso não em um sentido perjorativo, já
que sua abordagem novelesca, cheia de excessos e histrionismos é parte do que a
torna divertida, no entanto, sei que muita gente não se atrai por esse tipo de
produto. Por isso aviso logo que se algo com uma pegada novelesca não é a sua
praia, você talvez não se atraia pela série. Aviso que o texto contem SPOILERS
da série.
O canto da sereia
A trama é centrada em Devon
(Meghann Fahy), uma mulher que abriu mão de muita coisa na vida para cuidar da
irmã mais nova depois do falecimento da mãe e agora tem que cuidar do pai que
está em estado avançado de demência. Não conseguindo lidar sozinha com a
responsabilidade, ela tenta contato com a irmã mais nova, Simone (Milly
Alcock), que a ignora. Devon decide então ir até onde a irmã está, uma luxuosa
casa de veraneio em uma ilha habitada por ricaços na qual Simone trabalha como
assistente pessoal de Michaela (Julianne Moore), a esposa filantropa do
bilionário Peter Kell (Kevin Bacon). Lá vê uma estranha relação de
co-dependência entre Michaela e Simone, decidindo tirar a irmã dali, mas logo a
própria Devon é puxada para a órbita de Michaela.
Dirigido por Paul Schrader, Oh, Canadá é sobre como nenhum registro
é capaz de dar conta de um indivíduo. Tentar contar a história de alguém envolve
escolhas, envolve fabulação, e nesse processo o sujeito é transformado em um
ser de linguagem, um personagem, que por mais que se tente nunca refletirá
completamente a complexidade de uma pessoa real. É uma análise de como se constrói
um discurso mitificado sobre alguém e as fissuras nesse discurso, embora nem
chegue a executar suas ideias com a contundência que acredita estar exercendo.
Multidões dentro de si
A narrativa adapta o romance Foregone, de Russell Banks, e é centrada
em Leo Fife (Richard Gere), um renomado documentarista que nos anos 60 teria
fugido dos Estados Unidos para o Canadá por se recusar a servir na Guerra do
Vietnã. Agora, com um câncer em estado avançado, ele aceita falar para o documentário
que um antigo estudante, Malcolm (Michael Imperioli), está fazendo a seu
respeito. Ao longo da conversa, Leo revisita sua juventude (na qual passa a ser
interpretado por Jacob Elordi) e, sabendo que seus dias estão contados, reconta
sem reservas a sua vida, oferecendo um olhar sobre si que vai além da visão
construída de um cineasta engajado.
Em seus primeiros filmes, Guy
Ritchie era um diretor promissor com um estilo singular, mas com o tempo a
impressão é que muito disso se perdeu e suas produções se tornaram cada vez
mais genéricas, soando como trabalhos que poderiam ser feitos por qualquer peão
de estúdio hollywoodiano. Mencionei isso quando escrevi sobre Guerra Sem Regras(2024), O Pacto(2023) ou Esquema de Risco(2023) e essas observações continuam valendo neste A Fonte da Juventude.
Aventura familiar
A narrativa gira em torno de Luke
(John Krasinski), um arqueólogo e ladrão de artefatos que é contratado pelo
ricaço Owen (Domhnall Gleeson) para encontrar a mítica fonte da juventude. Como
algumas pistas estão além de seu entendimento, Luke recruta a irmã, Charlotte
(Natalie Portman), que relutantemente se junta à equipe. A busca não será
fácil, já que eles estão sendo caçados tanto pelas autoridades quanto por uma
cabala de protetores do segredo da fonte liderada por Esme (Eiza Gonzalez).
Uma das coisas mais engraçadas
que já li na internet foi o fio que o ator Paulo Vieira fez no finado Twitter
contando as histórias de sua família, em especial as desventuras de seu pai,
Luís, e o melhor amigo dele, Pablo. No longo fio, Paulo Vieira narrava como
Pablo e Luisão sempre se metiam em roubadas ao tentarem inventar novos
empreendimentos ou formas de economizar dinheiro.
Algumas situações eram tão
absurdas que eu só acreditava porque Vieira colocava fotos e vídeos nos
relatos. Eram coisas que pareciam ter saído diretamente de uma sitcom, então
não foi surpresa quando foi anunciado que Pablo
& Luisão viraria uma série. Por mais empolgado que estivesse, no
entanto, também estava receoso, já que a última vez que a Globoplay tentou
transformar um fio cômico de internet em série o resultado foi a péssima Eu, a Vó e a Boi(2019). Felizmente esse
não é o caso e Pablo & Luisão é
uma das melhores comédias dos últimos anos.
Refazendo o suspense argentino 4x4 (2019), este Confinado soa como mais um remake
hollywoodiano voltado para o público estadunidense com preguiça de ler
legendas considerando que o original argentino não é tão antigo. É uma
tentativa de mesclar thriller com uma
reflexão sobre classe social e desigualdades da vida urbana, mas não executa
bem nenhuma dessas ideias.
Confinamento veicular
A narrativa é centrada em Eddie
(Bill Skarsgard) um criminoso pé de chinelo que está tentando juntar dinheiro
para pagar suas dívidas e tentar rever a filha, cujos direitos de visitação
perdeu por conta de seus problemas legais. Um dia ele vê uma SUV de luxo parada
em um estacionamento deserto e tenta abri-la na esperança de encontrar algo de
valor. Ao entrar ele se vê trancado no carro e uma voz vinda do computador de
bordo se anuncia como William (Anthony Hopkins), um homem que transformou o
carro em uma armadilha para criminosos. Transformando o veículo em uma câmara
de tortura digna do Jigsaw de Jogos
Mortais, William tenta punir Eddie enquanto ele tenta pensar em um meio de
sair dali.
Depois de uma excelente primeira
temporada que manteve a essência do primeiro game ao mesmo tempo em que
expandiu alguns elementos do seu universo, The Last of Uschega a sua segunda temporada com um desafio ainda maior. O
segundo game não é apenas mais longo e mais moralmente ambíguo, ele depende de
muitos elementos específicos da linguagem dos games para construir sua reflexão
sobre violência de maneira impactante.
Consequências violentas
A trama se passa alguns anos
depois da temporada anterior. Ellie (Bella Ramsay) e Joel (Pedro Pascal) agora
vivem na comunidade liderada por Tommy (Gabriel Luna). Apesar de seguros, Ellie
e Joel estão distantes um do outro. Porém quando Joel é morto por Abby (Kaitlyn
Dever) como vingança pelo que aconteceu no hospital dos Vaga-Lumes, Ellie
decide partir em uma jornada de vingança, mesmo que isso contrarie os conselho
da comunidade.
Continuando de onde Missão Impossível: Acerto de Contas(2023)
parou, este Missão Impossível: O Acerto
Final não é apenas uma finalização da história iniciada na aventura de
2023, mas também uma culminância de toda a franquia até aqui. Tal como
aconteceu em Vingadores: Ultimato(2019),
outro filme que também era a culminação de toda uma série de filmes, esta que se
pretende a ser a aventura derradeira de Ethan Hunt sofre por querer ser mais do
que um filme, funcionando como uma grande “volta olímpica” da franquia
celebrando a si mesma resultando em algo que por vezes soa demasiadamente
inchado, cedendo sob o peso da própria megalomania.
A soma de todas as escolhas
Não que seja ruim, longe disso,
mas o filme anterior conseguia ser grandiloquente e refletir sobre o percurso
de Ethan Hunt (Tom Cruise) até aqui sem parecer tão explicitamente fanservice, oferecendo uma aventura que
colocava o pé no acelerador desde o primeiro momento e só parava quando os
créditos subiam. Aqui a trama começa com Ethan precisando descobrir o que a
chave cruciforme que obteve no final do filme anterior é capaz de abrir. A
chave representa a última chance de parar a Entidade, uma perigosa IA que
começou a atacar os sistemas dos arsenais nucleares do mundo e, caso tome o
controle deles, pode eliminar toda humanidade. Com poucos dias e poucas pistas
antes do iminente apocalipse, a única chance de Ethan é rastrear Gabriel (Esai
Morales).
Quando Shrek foi lançado em 2001 sacudiu o meio da animação de Hollywood
ao apresentar um filme acessível para todas as idades com um protagonista que
estava bem distante do tipo de personagem típico das animações da Disney, a
principal referência no meio. Nesse sentido, não parece coincidência que pouco
tempo depois a Disney lança uma animação que, como o ogro Shrek, era
protagonizada por uma criatura bruta, destrutiva, mau-humorada e de caráter
duvidoso, quase como uma resposta à Dreamworks. Até a publicidade do filme era
focada em mostrar como o monstrinho Stitch era uma antítese de tudo que a
Disney tinha feito até então, deixando evidente que a Casa do Mickey queria
chamar atenção do público que gostou de Shrek por ser “anti-Disney”.
Ohana significa família
A trama acompanha Lilo, uma
menina de cinco anos que perdeu os pais e é criada pela irmã mais velha, Nani.
Lilo é bem solitária e Nani luta para manter um emprego sob o risco de perder a
guarda da irmã. Depois que Lilo cria problemas na escola, Nani decide levá-la
para adotar um cachorro, pensando que um animal de estimação aplacaria a
solidão da menina. É aí que Lilo encontra Stitch, uma criatura alienígena fruto
de experimentos genéticos que veio fugida para a Terra e está sendo caçado por
forças intergalácticas. Agora, Lilo deve ajudar Stitch a ser parte de sua
família, ao mesmo tempo em que a criatura tenta encontrar um meio de evadir
seus perseguidores.
Há uma contradição fundamental
entre o regime estético e a narrativa de O
Estúdio. De um lado temos uma série de escolhas estéticas altamente
sofisticadas, com longos planos sequência conforme os personagens caminham em
sets de filmagem ou grandes eventos construindo um senso de constante movimento
e unidade espacial para as cenas. Por outro lado, por mais que haja uma encenação
cuidadosamente planejada que reflete bastante atenção na linguagem do cinema, a
série é fundamentalmente sobre um grupo de pessoas vulgares, estúpidas e que
podem até pensar que se importam com a arte, mas na prática produzem o mesmo
lixo corporativo de sempre.
Indústria caótica
Essa contradição não é um
equívoco ou uma escolha impensada. Na verdade soa como uma decisão bem
deliberada de construir um regime visual que tenta evocar como esses
personagens, em especial o chefe de estúdio Matt Remick (Seth Rogen), pensam
sobre si mesmos e faz o estilo chocar com a realidade estúpida do que eles de
fato são, desnudando de maneira ainda mais escancarada o cinismo, a estupidez e
a visão mercantilizada, utilitarista e imatura que eles tem do cinema enquanto
arte. A dissonância entre estética e narrativa é, na prática, uma maneira de
ilustrar a dissonância cognitiva de seu protagonista.
Nos últimos anos a Capcom vem
trabalhando bastante para tornar disponíveis seus sucessos de outrora que não
era possível mais jogar oficialmente em praticamente nenhuma plataforma. A
primeira Capcom Fighting Collection
era uma coletânea de games de luta que trazia de volta franquias como Darkstalkers e Cyberbots. Ano passado foi a vez dos jogos de luta em parceria com
a Marvel na Marvel vs Capcom Fighting Collection. Agora é a vez de jogos de luta lançados no início dos anos 2000
com esta Capcom Fighting Collection 2,
trazendo de volta para múltiplas plataformas games que não estavam mais disponíveis há tempos, cujas
últimas versões caseiras foram em consoles como PSP ou Dreamcast.
Estrelado por Jason Statham, Resgate Implacável soa como um filme de
ação diretamente saído da década de 80 e não digo isso como um elogio. Traz
consigo vários clichês e visões de mundo que soam extremamente datados hoje e não
consegue sequer entregar algum senso de espetáculo com suas cenas de ação.
Guerreiro do proletariado
A trama é centrada Levon (Jason
Statham) militar veterano que tenta reconstruir a vida trabalhando para uma
pequena empresa de construção. Quando a filha dos patrões é sequestrada, ele se
compromete a ajudar a encontrá-la por gratidão à família o ter acolhido. A
partir daí a trama se desenvolve como se espera, com o protagonista eliminando
um a um os membros da quadrilha de tráfico de pessoas até encontrar a filha do
chefe.
Lançado em 2019, Devorar trabalha o horror corporal de
uma maneira diferente do que estamos acostumados a ver em produções como as do
Cronenberg ou da Julia Ducournau. Ao invés de transformações bizarras e bastante
explicitas que despertam nossa angústia e até repulsa, o desconforto causado
aqui é mais pelo temor das consequências do que a protagonista faz com o
próprio corpo do que pela criatividade de modificações corporais insólitas.
Fome de viver
Não que as ações da protagonista
Hunter (Haley Bennet) não sejam bizarras. Recém-casada, Hunter vai morar com o
marido em uma remota mansão que seu sogro lhes deu de presente de casamento.
Ela agora é uma dona de casa que vive isolada, recebendo visitas apenas dos
sogros e de amigos do marido. Hunter se torna totalmente do cônjuge, que passa
a exercer muito controle sobre a sua vida. Isso se agrava depois que ela
engravida e a família do marido para a controla-la ainda mais, como se ela
deixasse de ser uma pessoa para apenas ser um veículo para o filho nascituro. É
aí que ela começa a desenvolver o hábito de comer estranhos objetos,
inicialmente com coisas como bolas de gude, mas logo ingerindo coisas mais
perigosas como pilhas ou tachinhas.
O ator Josh Hartnett tem
experimentado um retorno em sua carreira nos últimos anos, se encontrando novamente sob os holofotes a partir de produções como Oppenheimer(2023) ou Armadilha(2024) e
agora ganha uma oportunidade de estrelar um filme de ação neste Fight or Flight. É uma produção que
remete às comédias de ação ultraviolentas do início dos anos 2000 como Adrenalina (2006) e Mandando Bala (2007) embora aqui o filme não traga consigo nada de
muito marcante.
Voo perigoso
A trama acompanha Lucas Reyes
(Josh Hartnett), um ex-agente de inteligência que virou mercenário e vive na
clandestinidade, sendo caçado pelas autoridades dos Estados Unidos. Ele tem a
chance de limpar seu passado ao aceitar a missão de se infiltrar em um voo
transcontinental para localizar uma perigosa hacker e levá-la com vida aos EUA.
O problema é que o avião está cheio de mercenários contratados para matar a
pessoa que ele foi designado para proteger.
Em um mundo pós apocalíptico em
que os recursos são escassos e há um grande controle populacional por parte do
governo, qualquer casal que deseje ter filhos precisa se submeter a um processo
no qual são avaliados por alguns dias para analisar se eles tem condições de
criar filhos. A Avaliação parte desse
conceito para pensar sobre relacionamentos afetivos, controle populacional e
totalitarismo estatal.
Teste despadronizado
A narrativa foca no casal Mia
(Elizabeth Olsen) e Aaryan (Himesh Patel), dois cientistas que se submetem ao
processo de avaliação para tentarem ter um filho. Eles são avaliados por
Virginia (Alicia Vikander) que irá ficar com eles por sete dias observando
diferentes aspectos da vida do casal para determinar se eles estariam aptos a
terem filhos ou não. De início Virginia age de forma bastante protocolar,
perguntando sobre o trabalho do casal ou a relação deles, mas a partir do
segundo dia, os testes passam a ser menos ortodoxos, incluindo Virginia se
comportando como criança para testar as reações deles ou tentando seduzi-los.
Estrelado por Vince Vaughn, Nonnas é aquele tipo de “filme conforto”
que a gente sabe que é extremamente clichê, não tem nada que nos instigue ou
desafie enquanto espectadores, mas apreciamos pela familiaridade e pela emoção
genuína que oferece dentro de um esquema já conhecido de narrativa sobre
relações familiares e realização de sonhos.
Comida de vó
A narrativa se baseia em uma
história real e é centrada em Joe (Vince Vaughn). Depois de perder a mãe, Joe
tenta se reconectar com a memória dela refazendo suas antigas receitas. Daí ele
tem a ideia de usar o dinheiro que sua mãe lhe deixou para abrir um restaurante
focado em celebrar essa comida italiana caseira, trazendo “nonas” italianas
para cozinharem com ele. Assim ele recruta um time formado por Gia (Susan
Sarandon), Teresa (Talia Shire, a eterna Adrian da franquia Rocky), Antonella (Brenda Vaccaro) e
Roberta (Lorraine Bracco).
Apesar de boas cozinheiras, a
personalidade forte dessas senhoras as coloca em conflito, criando problemas no
restaurante. As dificuldades também vem do lado financeiro, já que Joe não tem
muita experiência com negócios e mesmo com o auxílio do melhor amigo, Bruno
(Joe Manganiello), as contas do restaurante não fecham. É tudo bem típico desse
tipo de história, sendo bem previsível que as senhoras irão eventualmente
dialogar e perceber as dificuldades que cada uma teve que superar e vão
cooperar umas com as outras.
O que conquista é o peso
emocional que cada uma das atrizes consegue dar a suas personagens, nos fazendo
sentir como elas são um produto de tudo com que tiveram de lidar ao longo de
suas trajetórias e no senso verdadeiro de amizade que se desenvolve entre elas.
É também um retrato bem sincero e afetuoso de comunidades de ítalo-descendentes
(diferente de estereótipos presentes em filmes como Amor em Little Italy) e de como o ato de cozinhar não tem apenas a
ver com comer e sim com um senso de comunidade e afeto. Como alguém que vem de
uma família de descendentes de italianos, acompanhar um ambiente de cozinha
repleto de senhoras italianas idosas berrando umas com as outras me fez sentir
em casa.
Empreendedorismo performático
O arco de Joe e os desafios do
restaurante, bem como sua tentativa de se reaproximar de sua antiga paixão de
infância, Olivia (Linda Cardellini), por outro lado, é bem menos interessante.
A trama romântica com Olivia se desenvolve de maneira muito fácil e sem muito
drama. Já a narrativa do restaurante segue a fórmula desse tipo de história de
superação, fazendo parecer que tudo é uma questão de força de vontade a
acreditar no próprio negócio, como isso por si só fizesse qualquer obstáculo
sumir.
Não importa qual o problema que
apareça, ele vai ser rapidamente resolvido por algum deus ex machina do roteiro como que conjurado pelo simples fato de
que Joe quer que o negócio dê certo. Em muitos casos a própria narrativa deixa
explícito que Joe sequer sabe o mínimo de como gerir um restaurante (incluindo
conhecimento de códigos ou regulamentos) e faz parecer que esses problemas são
culpa dos outros e não do sujeito que não se preparou para gerir um negócio que
abriu por vontade própria.
Felizmente, o elenco de atrizes
veteranas dá suficiente alma e coração a Nonnas
que a produção consegue trazer o conforto de um almoço de domingo na casa da
avó mesmo que seja uma refeição que já consumimos inúmeras vezes.
Fui assistir Caos e Destruição por ter sido dirigido por Gareth Evans,
realizador responsável pelos dois Operação
Invasão. Ainda que o filme até tenha bons momentos de adrenalina, o
restante é derivativo demais para oferecer algo digno de nota.
Metrópole corrompida
A trama gira em torno de Walker
(Tom Hardy), um policial corrupto que tenta se reaproximar da filha pequena
depois que suas ações o afastaram da família. As coisas se complicam quando ele
recebe a incumbência de resgatar Charlie (Justin Cornwell), filho de um
importante e corrupto político da cidade, Lawrence (Forest Whitaker), a quem
Walker costumava servir. Depois de um roubo que deu errado, Charlie
acidentalmente iniciou uma guerra de gangues, estando na mira de vários grupos
criminosos e da polícia.
Lançado em 2011 e dirigido por Nanni
Moretti, Temos Papa (Habemus Papam no original)reflete sobre o peso de ocupar um cargo
tão poderoso e influente como o de Papa. O filme traz consigo uma tentativa de
lembrar que por mais solene que seja o processo de eleição de um novo pontífice,
aqueles envolvidos e o próprio escolhido são pessoas com seus próprios problemas
dúvidas e inseguranças.
Papa em pânico
A trama começa com o falecimento do
atual Papa e a necessidade de um conclave para eleger um novo líder da Igreja
Católica. Durante a eleição o cardeal Melville (Michel Piccoli) é escolhido
como Papa apesar de não estar entre os mais cotados. No momento em que ele está
prestes a ser apresentado ao mundo, no entanto, o novo Papa tem um ataque de pânico
e não consegue sair na sacada. Sem um novo papa, o processo do conclave não é
concluído e os cardeais são obrigados a continuarem isolados.
Misturando comédia e thriller, a produção Um Pequeno Favor(2018) foi uma
divertida surpresa por conta da interessante dupla de protagonistas. Era, no
entanto, uma história que não pedia continuações e que provavelmente,
considerando o desfecho rocambolesco do filme, não teria muito a ganhar
expandindo a história. Ainda assim o filme recebeu uma sequência neste Outro Pequeno Favor e o resultado é
exatamente o que eu temia.
True crime suburbano
Depois dos eventos do primeiro
filme, Stephanie (Anna Kendrick) lançou um livro narrando toda sua experiência
que viveu com Emily e transformou seu canal sobre maternidade em um canal de true crime, embora não tenha obtido o
sucesso esperado. Tudo muda quando Emily (Blake Lively) reaparece em sua vida,
chamando Stephanie para seu casamento na Itália. De início Stephanie reluta,
mas aceita o convite quando Emily ameaça processá-la pelo uso indevido de seu
nome e imagem no livro. Chegando na Itália, Stephanie descobre que o noivo de
Emily, Dante (Michele Morrone), é membro de uma poderosa família mafiosa. As
coisas se complicam quando corpos começam a aparecer na festa de casamento.
Depois de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (2022) o público redescobriu o
carisma de Ke Huy Quan. Após o sucesso e as premiações que vieram com o filme,
Quan apareceu em projetos de visibilidade como a segunda temporada de Loki. Este Amor Bandido, porém, é o primeiro trabalho do ator como
protagonista depois de sua renascença e, infelizmente, é uma produção aquém do
seu astro.
Paixão perigosa
A trama gira em torno de Marvin
(Ke Huy Quan), um pacato corretor de imóveis que parece feliz com sua vida. No
dia dos namorados ele recebe uma mensagem de uma antiga paixão, Rose (Ariana
DeBose), que o lembra de sua vida pregressa. O contato de Rose coloca Marvin na
mira dos criminosos para os quais ele trabalhava e agora ele precisa lutar para
sobreviver. De certa forma é uma mistura de John Wick com comédia romântica e
personagens excêntricos a la Tarantino e Guy Richie. O problema é que nenhuma
dessas é bem executada.
Depois do fraco Capitão América: Admirável Mundo Novoeu
não estava particularmente empolgado para este Thunderbolts*, mas o resultado é bacana pelo modo como tenta
explorar os traumas de seus personagens, ainda que sofra com um certo
desequilíbrio tonal.
Bando à parte
A trama começa com um processo de
impeachment para remover Valentina
Allegra de Fontaine (Julia Louis Dreyfus) do controle da CIA. Para impedir o
processo ela despacha Yelena (Florence Pugh) para eliminar provas. No curso da ação
ela encontra John Walker (Wyatt Russell) e a Fantasma (Hannah John-Kamen),
também operativos trabalhando para Valentina e que agora foram despachados para
matar uns aos outros. Na batalha entre eles em um laboratório, eles acabam
acidentalmente despertando Bob (Lewis Pullman), a única cobaia que sobreviveu
do projeto Sentinela. Dotado de amplos poderes, mas mentalmente instável, Bob é
uma arma valiosa para Valentina, mas Yelena e os demais decidem detê-la, sendo
auxiliados por Bucky (Sebastian Stan), que estava fazendo sua própria
investigação em Valentina.