Quando foi anunciado, esperei o
pior da série It: Bem-Vindos a Derry.
Era o tipo de projeto que soava como mais um prelúdio caça-níqueis feito para
capitalizar em cima de uma produção conhecida em uma Hollywood cada vez mais
aversa a riscos e nem mesmo a presença de Andy Muschietti, responsável pelos doisIt: A Coisa, no comando da série
me empolgava. Fui conferir a estreia por pura curiosidade e fui imediatamente
fisgado. Claro, a aversão a riscos e explorar o sucesso de um nome conhecido
pode de fato ter sido o gatilho para que o projeto fosse aprovado, mas o
resultado final é muito bom.
Cidade do Medo
A narrativa se passa na Derry da
década de 60. O major Leroy Hanlon (Jovan Adepo) chega na cidade para uma
missão secreta na base militar do local. Lá ele conhece Dick Halloran (Chris
Chalk), um aviador com dons sobrenaturais que aparentemente está ajudando os
militares a encontrar algo nos subterrâneos da cidade. Ao mesmo tempo um grupo
de crianças liderados por Lilly (Clara Stack) tenta investigar a morte de um
garoto local, mas esbarram em Pennywise (Bill Skarsgard) como o responsável
pelo desaparecimento de crianças na cidade. Will (Blake Cameron James), filho
de Leroy eventualmente se juntando ao grupo, conectando os dois núcleos.
O primeiro Entre Facas e Segredos(2019) é um divertido suspense que brincava
com os clichês da era de ouro do romance policial e nos apresentava a um
interessante protagonista no excêntrico detetive Benoit Blanc. O segundo filme,
Glass Onion (2022), dobrou a aposta
na sátira apresentando um mistério que fazia piada em cima dos excessos
barrocos desse tipo de narrativa e como esse encadeamento de reviravoltas
grandiloquentes muitas vezes é feito para parecer mais inteligente do que se é,
dando a impressão de algo complexo quando na verdade é simples, como a “cebola
de vidro” que dá título ao filme. Já este Vivo
ou Morto: Um Mistério Knives Out é o mais sério dos três, ainda que muito
autoconsciente dos clichês com os quais trabalha e faça graça com ele.
Os crimes do padre Jud
A trama acompanha o jovem padre
Jud (Josh O’Connor, de Rivais) que é
enviado para uma paróquia remota chefiada pelo amargo monsenhor Wicks (Josh
Brolin), um sacerdote conservador que tem prazer em constranger os membros da
congregação. Quando Wicks é assassinado durante uma missa, sendo encontrado no
pequeno armário ao lado do altar, as autoridades tem dificuldade de resolver
crime, já que ele estava em um espaço fechado e ninguém tinha acesso a ele.
Nesse momento chega o detetive Benoit Blanc (Daniel Craig) para ajudar o padre
a resolver o mistério.
A todo o momento em nossas vidas
estamos adequando nosso comportamento ao contexto nos quais nos inserimos,
adotando diferentes posturas nos diferentes espaços. Na prática, construímos
diferentes performances do nosso “eu”. Novo filme de Noah Baumbach, Jay Kelly examina como o nosso senso de
si pode se perder em meio a essas performances constantes.
O cara interpretando um cara
Jay Kelly (George Clooney) é um
bem-sucedido astro do cinema. Ele é famoso, ele é bem reconhecido, mas seu
trabalho já não lhe dá a mesma satisfação de antes. Ele também sente que os
anos dedicados à carreira o afastaram das filhas Jessica (Riley Keough), com
quem tem uma relação conturbada, e a caçula Daisy (Grace Edwards) que está
prestes a sair de casa. A crise de Jay se agrava quando ele reencontra Timothy
(Billy Crudup), um antigo colega de teatro e amigo. O papel que catapultou Jay
ao estrelato veio por acaso, quando ele acompanhou Timothy em um teste e o
diretor ignorou Timothy e se interessou por Jay. No reencontro Timothy ainda
revela um ressentimento por Jay ter obtido um sucesso que acreditava pertencer
a ele. Tudo isso faz Jay repensar seu lugar na indústria e ele abandona o set
do seu mais recente projeto para ir ficar com Grace que viajou para a Europa
com amigas. O agente de Jay, Ron (Adam Sandler), resolve acompanhar o cliente
para que ele não se meta em problemas.
A citação a Sylvia Plath que
inicia o filme deixa evidente que o foco da narrativa é a dificuldade de ser
você mesmo e encarar quem se é quando é muito mais fácil ser outra pessoa
(criando uma performance de si) ou vivendo em fuga de si. Jay, com toda sua
aura de astro, é alguém que passou tantos anos performando uma identidade,
agindo como o grande astro que todos esperam que ele seja, que perdeu de vista
quem ele realmente é por trás de todo esse comportamento construído ao longo de
vários anos.
George Clooney é uma escolha
precisa para interpretar um astro carismático e respeitado, convencendo desde o
início do magnetismo pessoal de Jay e como ele seria capaz de se tornar uma
grande estrela. Além do carisma, Clooney traz ao personagem uma melancolia e
vulnerabilidade que certamente vem de suas próprias experiências em Hollywood e
como o topo pode ser um lugar solitário. Ao lado dele está um eficiente Adam
Sandler que evoca o mesmo tipo de sujeito neurótico e cheio de raiva contida
que costuma interpretar em suas comédias, mas se lá ele normalmente descamba
para a caricatura, aqui o texto e a condução de Baumbach dão ao personagem
elementos para que ele tenha mais camadas. Alguém que é tão devotado ao seu
principal cliente e tão focado em fazer o que ele demanda que as linhas entre o
pessoal e o profissional se borraram e ambos perderam a capacidade de separar
as coisas.
Viagem interior
Ao longo da viagem pela Europa,
Jay rememora a juventude, lembrando os momentos marcantes da carreira, mas
também seus fracassos, em especial a relação distante com Jessica, que ressente
o pai por preferir suas famílias da ficção do que com sua filha real. A dor
dela é sentida principalmente na cena em que ela diz ter se emocionado mais com
pai vendo ele interpretar um pai de família no cinema do que em qualquer uma
das poucas interações reais que teve com ele. A escolha de colocar Jay para
caminhar em meio aos próprios flashbacks,
como se assistisse alguém encenar sua vida e fosse um espectador da própria
história ajuda a comunicar a dissociação que há entre quem ele é de fato e a
sua persona midiática.
Por mais que o texto e o elenco
construa bem o dilema dos personagens, o material não afasta a sensação de que
o drama existencial de Jay nunca soa como uma grande crise que vai trazer
mudanças ou riscos severos para o personagem. Mesmo que ele de fato abandone o
filme e desista de atuar, ele ainda vai ser um milionário com uma vida bastante
confortável, então profissionalmente não há nada em risco. No plano pessoal é a
mesma coisa. Por mais ele tenha sido um pai ausente, não se reconectar com as
filhas nesse momento específico não soa como algo que o fará perdê-las para
sempre, principalmente por ele ter meios e recursos para contatá-las quando bem
entender. Assim, a narrativa nunca consegue transmitir que essa crise é o ponto
de virada irreversível do personagem que o texto tenta nos convencer que é.
Mesmo com essa sensação de que
falta drama, Jay Kelly se sustenta
pelo carisma de George Clooney e pelo modo como pensa sobre a natureza
performática da identidade.
Sempre achei a franquia Tron mal aproveitada. É um universo
muito interessante, mas como os filmes sempre rendem abaixo do esperado, esse
universo nunca decolou de fato. O primeiro filme, lançado em 1982, inovava com
cenários e personagens completamente digitais, algo muito novo para época, mas
os avanços tecnológicos fizeram um filme envelhecer mal. Uma continuação só
viria quase trinta anos depois com o bacana, mas subestimado, Tron: O Legado (2010), que atualizou
como esse universo computadorizado seria em um mundo ainda mais digital, mas
também não teve o resultado esperado na bilheteria. Agora, quinze anos depois,
temos mais um filme da franquia com este Tron:
Ares, que infelizmente não fez valer o tempo de espera.
Guerreiros digitais
Na trama, a tecnologia evoluiu
para ser possível trazer elementos do mundo digital para o nosso mundo. Há uma
espécie de corrida tecnológica entre a Encom, empresa criada por Kevin Flynn
(Jeff Bridges) e hoje chefiada por Eve Kim (Greta Lee, de Vidas Passadase The Morning
Show) e a Dillinger Systems, criada pelo rival de Flynn na época do
primeiro filme e hoje liderada por Julian Dillinger (Evan Peters). As duas
empresas buscam um meio de trazer permanentemente recursos digitais para o
mundo real, já que qualquer elemento trazido para o nosso mundo dura apenas
cerca de meia hora. Quando Eve descobre elementos para criar o “código da
permanência” em meio a antigos arquivos de Kevin Flynn, Julian traz para o
mundo real seu programa de segurança Ares (Jared Leto) para caçar Eve e
recuperar o código. O contato com Eve, no entanto, faz Ares questionar sua
programação.
Na renascença de beat’em ups que estamos vivendo já
tivemos novos games das Tartarugas Ninja,
Power Rangers, Streets of Ragee Double Dragon. Era questão de tempo até
que o universo Marvel também tentasse capitalizar com isso e é exatamente o que
faz este Marvel Cosmic Invasion,
claramente inspirado nos beat’em ups de
outrora, em especial o antigo game dos X-Men,
e também nos games de luta Marvel vs Capcom. O resultado é um game de ação que consegue remeter à época de ouro
do gênero, mas também soa bastante contemporâneo.
Guardiões da Galáxia
A trama envolve o vilão
Aniquilador, que consegue capturar o poderoso Galactus e absorver seu poder cósmico,
lançando um ataque em escala universal com seu exército de insetos. Agora cabe
aos vários heróis da galáxia se unirem para conter a ameaça. Narrativa não é
exatamente o motivo pelo qual jogamos beat’em
ups, mas as cutscenes entre cada fase, por mais que a arte seja muito boa,
fazem tudo soa fragmentado e sem coesão. O vilão Aniquilador permanece
distante, só aparecendo na batalha final, nunca dando a sensação de que ele é
essa ameaça imediata e poderosa. A bela pixel
art não se resume às cutscenes, com os sprites de personagem e cenários
sendo bem coloridos e detalhados, em um estilo que lembra animações e games da
década de 90. Alguns personagens tem animações e movimentos que remetem
diretamente aos games da franquia Marvel vs Capcom, como Venom, Tempestade ou
Homem-Aranha.
Novo filme do diretor grego
Yorgos Lanthimos, Bugonia declara já
em seu título sua temática de morte e renovação da vida. O termo bugonia viria
de uma expressão grega que postulava que abelhas e outros insetos nasciam das
carcaças de boi. Essas ideias, no entanto, permanecem subjacentes ao longo de
boa parte do filme, que parece priorizar outros temas.
Teoria da conspiração
A narrativa gira em torno de
Michelle (Emma Stone), presidente de uma grande empresa que é sequestrada por
Teddy (Jesse Plemons). Ele acredita que a executiva é na verdade uma alienígena
que está na Terra para matar as abelhas e destruir nosso ecossistema, com uma
ação grande planejada para um eclipse que acontecerá em poucos dias. Teddy e o
primo, Don (Aidan Delbis) matem Michelle no porão e tentam forçá-la a admitir o
plano dos alienígenas.
Baseado em um romance escrito por
Denis Johnson, Sonhos de Trem tem um
quê de Terrence Malick no modo como o diretor Clint Bentley filma o cotidiano
de seu protagonista. Digo isso tanto pelas escolhas estilísticas quanto
narrativas, já que esta também é uma história sobre um sujeito comum vivendo em
graça e plenitude a despeito de uma existência simples e marcada por tragédias,
similar ao que Malick fez em produções como Uma Vida Oculta(2020) ou A Árvore da
Vida (2011).
Vida natural
A narrativa é protagonizada por
Robert (Joel Edgerton) um lenhador vivendo no oeste dos Estados Unidos no
início do século XX. Ele consegue um trabalho que paga bem, mas que o deixa
distante da esposa, Gladys (Felicity Jones), e da filha pequena. Acompanhamos
Robert ao longo dos anos conforme ele lida com as tragédias que acometem a sua
vida e com a passagem do tempo.
O prospecto de uma comédia
romântica estrelada por Keanu Reeves e Winona Ryder parecia promissor. Eles já
tinham sido um casal em Drácula de Bram
Stoker (1992) do Francis Ford Coppola, mas neste Com Quem Será? teriam a chance de construir um outro tipo de
relacionamento, mais próximo de filmes românticos. O resultado, no entanto, é
decepcionante mesmo que não seja culpa da dupla principal.
Afeto estático
A trama acompanha Frank (Keanu
Reeves) e Lindsay (Winona Ryder). Eles se conhecem durante um voo e se
desentendem durante o trajeto. Chegando ao destino os dois descobrem que vão
para o mesmo lugar, o casamento do irmão de Frank. Ele não tem um bom
relacionamento e só foi para o casamento por insistência da família. Já Lindsey
tinha sido noiva do irmão de Frank, mas foi largada por ele há seis anos e
resolveu ir para mostrar que o tinha superado. Incialmente os dois se conectam
pelo seu desdém do noivo, mas logo veem que tem mais coisas em comum e também
bastante divergências.
Certas decisões são impossíveis
de determinar de antemão que são péssimas escolhas. Em outras, porém, sabemos
na hora que fizemos uma péssima opção. Dar play em Plano em Família 2 foi uma dessas escolhas. Eu já não tinha achado
o primeiro Plano em Família grande coisa e não tinha como esperar algo muito melhor desse, mas
ainda assim resolvi assistir. Talvez eu seja masoquista.
Família internacional
Depois dos eventos do filme
anterior, a família liderada por Dan (Mark Wahlberg) e Jessica (Michelle
Monaghan) viajam para Londres para passarem o Natal com a filha mais velha,
Nina (Zoe Coletti), que foi morar lá para estudar. Lá Dan se vê enredado em uma
trama de roubo arquitetada por Finn (Kit Harington), um antigo conhecido da
época em que Dan trabalhava com o pai, o vilão do primeiro filme. Com a família
novamente alvo de criminosos internacionais, Dan precisa encontrar um meio de
deter Finn.
Fui assistir este Love Me sem saber absolutamente nada
além dele ser estrelado por Kristen Stewart e Steven Yeun. Nada me preparou
para a natureza aloprada da narrativa, ainda que sinta que a produção não
consegue sustentar todas as ambições que tem.
Amor digital
A narrativa se passa milênios no
futuro quando a humanidade foi extinta e a Terra ficou desabitada. Um satélite
vaga na órbita do nosso planeta contendo todo o acervo digital da humanidade
para que outras formas de vida o encontrem. A única outra forma de vida
inteligente, porém, é uma boia marítima criada para analisar os níveis de
salinização da água. Ela entra em contato com o satélite e ao acessar seu
acervo se torna fixada em um casal de influencers (interpretados por Stewart e
Yeun) e decide experimentar a vida humana. Para isso tenta fazer a amizade com
o satélite e juntos tentam construir uma simulação de como era a vida desse
casal para reproduzir a experiência humana. Logicamente, viver um
relacionamento humano é bem mais complexo do que imitar algumas centenas de reels de influencers e logo o casal
começa a ter problemas.
A arte muitas vezes nasce do
diálogo com o mundo real. Alguém olhou para alguma coisa no mundo, sentiu algo
e resolveu transformar isso em arte. A arte, no entanto, não tem qualquer
obrigação de reproduzir o mundo real, nem uma representação realista, próxima
de como as coisas funcionam no mundo real, torna uma peça artística
automaticamente boa. Digo isso porque reconheço como Depois da Caçada, novo filme do diretor Luca Guadagnino (de Rivaise Me Chame Pelo Seu Nome), é uma representação fiel do universo que
representa, mas, ao mesmo tempo, ser fiel à realidade não significa que isso
rende um bom drama.
Politicagem acadêmica
A trama é centrada em Alma (Julia
Roberts), professora de filosofia em Yale. Ela tem um caso extraconjugal com
Hank (Andrew Garfield), também professor na universidade, e um relacionamento
distante com o marido, Frederik (Michael Stuhlbarg). Quando Maggie (Ayo
Edebiri), uma doutoranda orientada por Hank, o acusa de estupro, Alma fica no
meio da questão. Hank se defende dizendo que Maggie inventou a acusação depois
que confrontou a orientanda sobre a tese dela ser um plágio. Alma já tinha
noção que Maggie não era uma boa aluna e que seu trabalho poderia ser plágio,
mas ela também sabe que Hank é mulherengo e gosta de dar em cima das alunas.
Nova versão do suspense homônimo
de 1992 protagonizado por Rebecca De Mornay, o novo A Mão Que Balança o Berço sofre por não saber exatamente que
história quer contar e por não conseguir manejar a construção do suspense.
Ameaça na residência
A narrativa segue Caitlin (Mary
Elizabeth Winstead), uma advogada sobrecarregada com o trabalho e o cuidado com
as duas filhas que decide contratar a jovem Polly (Maika Monroe) para cuidar
das filhas depois de cuidar de um processo envolvendo o local em que Polly
mora. De início a jovem parece se integrar bem à família, se conectando com as
filhas de Caitlin, mas logo a advogada começa a sentir que Polly está
interferindo demais no cotidiano da casa. Preocupações que o marido dela,
Miguel (Raul Castillo), relativiza dizendo que ela pode estar próxima de um
episódio de burnout, algo que já tinha acometido Caitlin antes.
Estrelado por Benedict
Cumberbatch e Olivia Colman, Os Roses é
a mais nova adaptação para os cinemas do romance A Guerra dos Roses de Warren Adler que já tinha sido levado aos
cinemas 1989 em um filme homônimo ao livro dirigido por Danny DeVito. Nunca li
o livro e vi o filme do Danny DeVito, com Michael Douglas e Kathleen Turner nos
papéis principais, há muito tempo e não tenho muita memória, então vou analisar
essa nova versão sem fazer nenhuma comparação com outros materiais.
Inimigo íntimo
A trama acompanha o casal Theo
(Benedict Cumberbatch) e Ivy (Olivia Colman), cujo casamento vai erodindo ao
longo dos anos conforme a carreira de Theo vai piorando e a de Ivy deslancha.
As tensões entre os dois crescem ao ponto de se tornarem insustentáveis e eles
acabam se divorciando, mas a disputa pelos bens, em especial pela casa
construída por Theo e paga por Ivy, se torna tensa.
É curioso como a Blumhouse foi de
uma produtora referência no terror para uma produtora que parece dar sinal
verde para qualquer produção do gênero sem qualquer curadoria dos filmes que
seleciona ou se preocupar com a qualidade deles. A impressão é que de uns
tempos para cá o prestígio da produtora enfraqueceu um pouco conforme ela
lançava filmes cada vez mais distantes do padrão de qualidade que estabeleceu
para si. A Mulher no Jardim é mais
uma dessas produções que dá a impressão que os melhores dias da Blumhouse estão
no passado e não no presente.
Visitante sombria
A narrativa é protagonizada por
Ramona (Danielle Deadwyler) uma mulher devastada pelo luto depois de perder o
marido em um acidente de carro. Sozinha na fazenda que o marido comprou para a
família, ela sequer tem ânimo para levantar da cama, precisando que os filhos a
façam sair do quarto quando algum problema acontece na casa. Ela também está
com uma perna quebrada por conta do acidente, se locomovendo com o auxílio de
muletas. Um dia uma estranha mulher vestida de preto aparece sentada na frente
da casa dela. A mulher parece confusa, mas também faz várias ameaças a Ramona.
Ela tenta convencer os filhos de que está tudo bem, mas as crianças desconfiam
de que há algo muito errado.
Depois de dirigir filmes como Bom Comportamento(2017) e Joias Brutas(2019) ao lado do irmão
Josh, Coração de Lutador marca o
primeiro esforço de Benny Safdie dirigindo um filme sozinho. Se os trabalhos
com o irmão renderam resultados instigantes, esse primeiro trabalho solo de
Benny Safdie na cadeira de diretor entrega um resultado morno.
Máquina de esmagar
A trama conta a história real de
Mark Kerr (Dwayne “The Rock” Johnson), lutador que foi um dos pioneiros no UFC.
A narrativa acompanha a ascensão de Kerr nos primeiros anos da modalidade,
quando ela ainda era olhada com desconfiança pela população e os lutadores não
recebiam muito, seus problemas com narcóticos e sua relação atribulada com a
esposa, Dawn (Emily Blunt).
A despeito do título e do
material de divulgação focarem bastante em Kerr como lutador, o filme acaba
sendo mais sobre o processo de sobriedade dele do que sobre lutas em si. Não
que a narrativa não apresente cenas de luta e que elas não reflitam o quão
brutal era o UFC no final dos anos 90 com bem menos regras e segurança para os
lutadores, mas a trama foca menos nisso do que na recuperação de Mark.
Lançado depois de vinte anos do
original, Uma Sexta-Feira Mais Louca
Ainda soa como mais uma continuação tardia que visa apelar para a nostalgia
do filme original, Sexta-Feira Muito
Louca (2003), numa Hollywood que tem se tornado cada vez mais avessa a
riscos e que prefere requentar velhas propriedades que ninguém pedia
continuações do que fazer algo novo. Tendo visto o filme, ele é exatamente
isso, embora tenha sua graça.
Se eu fosse você...
Na trama, Anna (Lindsay Lohan)
agora tem uma boa relação com a mãe, Tess (Jamie Lee Curtis), e tem sua própria
filha adolescente, Harper (Julia Butters). Quando Anna conhece o viúvo Eric
(Manny Jacinto, de The Good Place e The Acolyte) acaba se apaixonando por
ele e planejam se casar. O problema é que Harper não se dá bem com Lily (Sophia
Hammons) e as brigas das duas ameaçam o relacionamento do casal. Quando elas
brigam durante a festa de noivado de Anna e Eric, uma cartomante apresenta uma
profecia para elas e na manhã seguinte Harper e Lily acordam respectivamente
nos corpos de Anna e Tess. Obviamente elas vão precisar aprender valiosas
lições de vida antes de retornarem a seus corpos.
Estrelado por Michael Cera e
Michael Angarano, que também escreveu e dirigiu o filme, Sacramento é um típico road
movie sobre pessoas em busca de si mesmas. A narrativa usa uma viagem como
catalisador para confrontar os problemas de seus personagens, mas nunca explora
isso de maneira consistente.
Viagem atribulada
Glenn (Michael Cera) é um homem
certinho, tenso por estar prestes a ser pai e preocupado em fazer tudo
corretamente pela esposa e filha que vai nascer. Rickey (Michael Angarano) é
seu melhor amigo desde a infância, mas eles estão há algum tempo sem se falar.
Quando Rickey pede que Glenn o acompanhe em uma viagem de Los Angeles até
Sacramento para que ele espalhe as cinzas do pai lá.
Se passando em um espaço contido,
Drop: Ameaça Anônima tenta construir
suspense nas limitações desse confinamento a partir de preocupações sobre
privacidade digital. A produção é até eficiente em criar tensão, mas não consegue
resolver tudo de modo satisfatório.
Ameaça invisível
A narrativa é protagonizada por
Violet (Meghann Fahy, da minissérie Sereias),
uma sobrevivente de violência doméstica que depois de anos resolve retomar a
sua vida amorosa e está saindo em um encontro com Henry (Brandon Sklenar). Ela
deixa o filho pequeno com a irmã e vai ao restaurante. Durante o encontro com
Henry a protagonista começa a receber mensagens anônimas no celular ameaçando
seu filho e dando ordens para que ela recupere um cartão de memória na posse de
Henry. Sem ter como avisar ninguém por medo que a figura anônima dê cabo da
ameaça, Violet tenta descobrir quem é o responsável sem despertar suspeitas.
Dirigido e estrelado por Aziz
Ansari, Quando o Céu Se Engana é uma
daquelas produções em que a ideia é melhor do que a execução em si. Se na série
Master of NoneAnsari conseguia fazer
um retrato simultaneamente cômico e sensível das agruras de um jovem adulto,
aqui tanto o humor quanto as críticas sociais construídas nunca ficam a altura
do potencial da premissa inicial.
Trocando as bolas
A narrativa acompanha Gabriel
(Keanu Reeves), um anjo da guarda cuja ocupação principal é proteger pessoas
que mandam mensagens de texto enquanto dirigem. Gabriel, no entanto, aspira
trabalhos mais nobres, em especial o de redimir almas perdidas e vê uma
oportunidade de fazer isso ao conhecer Arj (Aziz Ansari), um jovem aspirante a
documentarista desempregado, que vive de bicos e aceita um trabalho como
assistente pessoal do ricaço Jeff (Seth Rogen). Quando Arj é demitido e sente
que perdeu tudo, Gabriel se aproxima para ajudar Arj a perceber que sua vida é
mais significativa do que imagina. Para ensinar uma lição a Arj o anjo troca a
vida de Arj com a de Jeff para que Arj perceba que o dinheiro de Jeff não é o
que resolveria seus anseios. O problema é que Arj de fato consegue usar o dinheiro
de sua nova vida para lidar com a maioria de suas questões e não se mostra
disposto a voltar para sua antiga vida.
Se não me engano foi o crítico
Roger Ebert quem disse que um filme bom nunca é longo o bastante e um filme
ruim nunca é curto o suficiente. A segunda proposição se aplica perfeitamente a
este Um Dia Fora de Controle, que
apesar de enxutos noventa minutos parece durar uma eternidade de tão ruim.
Amizade perigosa
A trama é protagonizada por Brian
(Kevin James), um contador que fica desempregado e agora se vê casa cuidando do
enteado, Lucas (Benjamin Pajak), com quem tem pouca conexão. Um dia Brian
resolve levar Lucas ao parque e conhece Jeff (Alan Ritchson) e o filho CJ (Banks
Pierce), como eles são os únicos pais em um ambiente cheio de mães, os dois
tentam se aproximar, mas logo Brian descobre que há algo errado com Jeff e o
filho, pois ambos estão sendo perseguidos por pessoas perigosas. Arrastado para
a crise, Brian e o enteado precisam encontrar um meio de sobreviver.
Adaptando um dos primeiros romances de
Stephen King A Longa Marcha é uma
daquelas produções que pode soar derivativa não pelo seu conteúdo em si, mas
pelo momento em que foi lançada. Hoje cenários distópicos nos quais jovens são
forçados a competir entre si até a morte para distrair da dureza do regime ou
vida precária não são exatamente novidade embora não fosse o caso em 1979
quando a obra de King foi publicada. O próprio Francis Lawrence, que dirige
essa adaptação, já levou aos cinemas outra saga sobre jovens em competições
mortais ao conduzir as adaptações de Jogos Vorazes. Mesmo sendo um formato que Hollywood explorou à exaustão nos
últimos anos A Longa Marcha consegue
funcionar pelo cuidado que tem com seus personagens.
Marcha da morte
A trama se passa em um Estados
Unidos distópico que foi devastado por uma guerra civil e que agora vive sob um
governo autoritário liderado pelo truculento Major (Mark Hamill). A população
vive em um estado precário e periodicamente é realizado um evento chamado “a
longa marcha” no qual cinquenta jovens são sorteados para uma disputa. Eles
precisam caminhar mantendo uma velocidade constante de três milhas por hora,
quem ficar abaixo disso ou parar será morto. Vence o último que sobrar. O
grande prêmio em dinheiro e a realização de um pedido são o que motiva a
população a se envolver nesse jogo mortal, mas alguns participantes tem
motivações diferentes. Ray Garraty (Cooper Hoffman) se voluntariou para a
competição com o desejo de se vingar do Major que executou seu pai por ser um
dissidente. Ao longo da marcha Ray forma uma amizade com outro competidor,
Peter McVries (David Jonsson, de Alien Romulus). O laço que se forma entre eles os mantem resistindo às agruras da
competição.
Se tem um cineasta contemporâneo capaz
de entender a sensibilidade do romance Frankenstein
de Mary Shelley esse alguém é Guillermo del Toro. Seu Frankenstein, produzido em parceria com a Netflix, é uma competente
releitura do seminal texto de Shelley, se mantendo fiel ao seu espírito ao
mesmo tempo em que agrega uma visão bem particular do diretor.
Pessoas normais assustam
A narrativa é centrada em Victor
Frankenstein (Oscar Isaac), um nobre destituído que desde jovem se tornou
obcecado em ser capaz de reanimar os mortos e criar uma nova forma de vida. Sem
ser levado a sério pela comunidade científica, ele consegue financiar sua
pesquisa através do magnata comercial Harlander (Christoph Waltz). Com o
dinheiro Victor consegue montar um laboratório e começa seu processo de estudar
a reanimação. Quando ele finalmente consegue reconstruir um ser humano a partir
de partes de cadáveres e reanima seu construto, se decepciona com a Criatura
(Jacob Elordi) e decide destruir o experimento. A Criatura, no entanto,
sobrevive e passa a perseguir Victor.
Meses atrás o diretor Paul Thomas
Anderson produziu uma poderosa síntese das disputas políticas e sociais nos
Estados Unidos ao longo das últimas décadas com Uma Batalha Após a Outra. Com O
Agente Secreto o diretor Kleber Mendonça Filho faz algo semelhante para o
contexto brasileiro, uma síntese consistente, abrangente, por vezes
bem-humorada, de vários processos políticos e sociais em marcha no Brasil desde
a segunda metade do século XX.
O homem que sabia demais
A narrativa se passa em Recife em
1977 e acompanha Marcelo (Wagner Moura), um homem perseguido pela ditadura
militar brasileira que chega na cidade para reencontrar o filho enquanto espera
documentos para sair do país. Ele se abriga no edifício Ofir, lugar onde outros
“refugiados” se escondem sob a tutela de Dona Sebastiana (Tânia Maria). Ao
mesmo tempo, uma dupla de matadores de aluguel chega a Recife atrás de Marcelo.
De certa forma Balada de um Jogador é uma história de
vício e redenção similar a outras que já vimos. Por outro lado é um daqueles
filmes que importa mais o modo como ele conta a história do que a história
contada por si só.
Perdedor longe de casa
A narrativa é protagonizada por
Lorde Doyle (Colin Farrell), um jogador inveterado que vive em Macau apostando
alto nos cassinos. Ele vem numa maré de azar e suas dívidas estão se
acumulando. As coisas pioram quando a investigadora britânica Blithe (Tilda
Swinton) o encontra, trazendo consigo o passado do qual Doyle queria escapar.
Com dívidas sendo cobradas de várias direções e sem conseguir crédito em lugar
nenhum, ele acaba recorrendo à agiota Dao Ming (Fala Chen). Os dois se conectam
por serem pessoas cheias de arrependimento e em busca de redenção, mas talvez
essa conexão não seja suficiente para salvar nenhum deles.
Quando Pokémon Legends: Arceus foi lançado parecia que Pokémon estava indo
por caminhos diferentes, entregando algumas mudanças pedidas faz tempo pelos
fãs. Nem tudo funcionou, mas ao menos parecia que a Game Freak estava mais
disposta a arriscar. O game seguinte na série principal Pokémon Scarlet/Violet trazia o mundo aberto unificado que se
esperava, mas muitos problemas, tanto em performance quanto em jogabilidade e
soava como um passo para trás tanto em relação a Arceusquanto a Sword/Shield.
Agora Pokémon Legends: Z-A traz as
mudanças mais ousadas na jogabilidade vistas até aqui, então fiquei bastante
curioso para conferir.
Lenda urbana
A narrativa se passa na cidade de
Lumiose, na região de Kalos, e o jogador controla um jovem recém chegado na
cidade que se envolve na investigação de estranhos fenômenos que vem
acontecendo no local, em especial pelo modo como a mega energia vem fluindo
pela cidade e fazendo pokémons megaevoluírem mesmo sem um treinador. No percurso,
o jovem protagonista precisa também disputar a liga Z-A, buscando o topo do
ranking. A trama acontece cinco anos depois dos eventos de Pokémon X/Y, fazendo alusão aos eventos do game e quase funcionando
como uma continuação direta a ele. Em geral não me importo muito com história
nesses games, mas confesso que aqui fiquei investido na trama e nos
personagens.