segunda-feira, 9 de junho de 2025

Crítica – Oeste Outra Vez

 

Análise Crítica – Oeste Outra Vez

Review – Oeste Outra Vez
Um dos gêneros mais marcantes do cinema hollywoodiano, o faroeste foi marcado durante muito tempo por ideais tradicionais de masculinidade. Para sobreviver nos ermos do oeste selvagem seus protagonistas eram homens duros, brutos e violentos que não tinham muito tempo para ternura ou falar sobre sentimentos. A produção brasileira Oeste Outra Vez remete ao faroeste justamente para pensar a respeito de masculinidade e como certos padrões de comportamento podem ser destrutivos para os próprios homens.

Todo mundo tem problemas sentimentais

A trama se passa no interior de Goiás e acompanha Totó (Ângelo Antônio). Ele foi deixado pela mulher que amava e que o trocou por Durval (Babu Santana). Totó e Durval brigam, com Totó saindo machucado e jurando vingança. Ele contrata um jagunço para matar Durval e o atentado dá errado. A esse ponto Durval contrata uma dupla de matadores para dar cabo de Totó e seu jagunço que fugiram para áreas ainda mais remotas para se esconderem.

A narrativa progride em um crescente de situações insólitas e chifres mal resolvidos que vão aos poucos minando a imagem de machões dos personagens e até mesmo os jagunços contratados por eles se mostram homens solitários, pesarosos por relacionamentos que deram errados e incapazes de lidar com os próprios sentimentos, sempre recorrendo à violência para resolver questões emocionais. Assim, a trama reflete como esse ideal tradicional de masculinidade, do homem que defende a própria “honra”, que não leva desaforo e resolve as coisas na base da agressividade na prática cria homens solitários, incapazes de lidar com os próprios sentimentos e que essa incapacidade é o que provavelmente afasta suas companheiras.

Há uma boa dose de comicidade com a qual o filme observa essas performances de masculinidade que não faz nada por esses sujeitos além de deixados ainda mais isolados, em situações ainda mais precárias e se sentindo pior a respeito de si mesmos. Isso está presente desde o bizarro atentado contra Durval que dá errado ainda no início do filme e segue conforme o jagunço contratado por Totó o leva a uma cabana de madeira no meio do nada onde mora um “primo” (Antonio Pitanga) seu que responde estoicamente ao pedido do jagunço de permitir que ele e Totó se escondam ali por uns meses como se isso fosse a coisa mais normal do mundo.

Tempos e espaços dilatados

O ritmo do filme tem uma cadência bem próxima à do western com planos longos e amplos que ressaltam o vazio daqueles espaços e acompanham as conversas entre os personagens quase que em tempo real, deixando as longas pausas e silêncios que há entre eles como um elemento que reflete a dificuldade desses homens em falarem sobre si ou sobre os próprios sentimentos.

Esses planos mais longos também servem para construir tensão, já que em muitas conversas ficam evidente as intenções dos envolvidos e sabemos que a violência pode irromper a qualquer momento. A qualquer momento esses personagens podem ser encontrados por um adversário e as coisas podem rapidamente sair do controle tendo consequências imprevisíveis. O melhor exemplo talvez seja quando a dupla de matadores enviados por Durval encontra Totó e o tiroteio que explode dentro de uma pequena casa termina de modo inesperado. Nesses momentos o filme não se furta em mostrar as consequências duras que a conduta violenta daquelas pessoas causam e como ninguém extrai qualquer senso de catarse ou redenção dessa violência.

Na verdade, a catarse parece vir justamente quando os personagens finalmente conseguem dar vazão aos sentimentos através da música, o que vemos na cena do bar em que um dos clientes põe Tudo Passará de Nelson Ned para tocar em uma jukebox e todos congregam em cumplicidade ao exorcizarem seus sofrimentos amorosos através da canção. Aliás, a música “brega” é uma constante na trilha musical do filme, com outras faixas de Nelson Ned e de outros cantores associados a esse tipo de música sendo utilizadas ao longo do filme. É como se a produção reconhecesse que essas canções são o único meio que as figuras masculinas do filme tem para extravasar seus sentimentos de uma maneira não violenta e que, talvez, sentar no bar e chorar as mágoas ao som de canções sobre sentimento amoroso seja uma maneira mais saudável (ou menos danosa) de lidar com o fato de ter sido trocado por outro homem do que tiroteios ou brigas.


Nota: 8/10


Trailer

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