Querida menina
Depois de uma perda pessoal severa, Kate (Julianne Moore) passa a viver reclusa em sua fazenda de cavalos. O cotidiano solitário dela é interrompido pelo retorno Claire (Sydney Sweeney), sua filha viciada em drogas. De início parece que Claire está disposta a se reestruturar, mas logo fica evidente que ela está ali só para conseguir dinheiro e outros recursos antes de voltar para as ruas. Kate tenta ajudá-la, mas logo se vê enredada nos crimes da filha.
Os primeiros minutos tentam estabelecer a dinâmica entre mãe e filha, com Kate, a despeito de seus problemas pessoais, se esforçando para acolher a filha e tentar apontar novos caminhos para ela, contente com a presença dela na fazenda. Sydney Sweeney, por sua vez, é eficiente em mostrar como Claire pode ser dissimulada e manipuladora, rapidamente abandonando a fachada de boa menina no instante em que a mãe não lhe dá o que ela quer e partindo para ameaças e agressões físicas na tentativa de conseguir dinheiro para sustentar seus vícios. A impressão é que o foco será essa tentativa da mãe em reabilitar a filha e dos desafios de lidar com um familiar afundado no vício, quase como uma versão feminina da dinâmica de pai e filho vista em Querido Menino (2019).
Considerando o quanto Moore e Sweeney são boas em retratar o afeto e o atrito entre suas personagens, o drama familiar entre elas seria uma narrativa promissora, mas lá pela metade a trama decide abandonar o ângulo de drama familiar para se tornar um thriller conforme Kate passa a ser chantageada por Jackie (Domnhall Gleeson), traficante local a quem Claire devia dinheiro. A esse ponto Claire é praticamente esquecida pelo filme, que passa a focar na presença de Jackie na vida de Kate.
Suspense sem surpresas
A partir do momento que a narrativa dá a guinada que coloca Jackie no centro na narrativa o filme se transforma naquele tipo de suspense genérico de uma mulher oprimida por um invasor doméstico que já foi repetido à exaustão no Supercine da Globo nas madrugadas de sábado. Boa parte da tensão se constrói em cima de situações pouco críveis, sendo estranho que Kate, que mora sozinha em uma fazenda isolada com animais de valor alto que poderiam ser alvo de ladrões ou de animais selvagens, não tenha uma arma. O motivo, provavelmente, é que o filme acabaria instantaneamente se ela tivesse, já que bastaria ela matar Jackie por invadir sua propriedade e lhe fazer ameaças que as autoridades acreditariam nela ao invés de ter que fazer todo o esquema rocambolesco que acaba fazendo.
Boa parte das reviravoltas não tem qualquer impacto. Muitas delas, como a revelação que Jackie agiu em conluio com Claire e o namorado, são bastante previsíveis. Outras, como a virada de mesa que Kate dá em cima do vilão ao final, sofrem pela má construção desse desenvolvimento. A revelação que Kate armou para Jackie deveria ser um grande arremate no qual a esperteza da protagonista supera a de seu inimigo. O problema é que não há inteligência a ser superada por Jackie age como um idiota, intimidando clientes de Kate, se deixando ser visto na propriedade e deixando registros de sua interação com a vítima.
Assim, o que deveria ser uma surpreendente inversão de expectativa na prática é só um bandidinho pé de chinelo sofrendo as consequências da própria estupidez. As tentativas de amarrar essa vitória de Kate sobre o adversário também como um meio dela sair do luto pela morte da esposa são mal construídas, já que a trama não dá o devido espaço para explorar esse sentimento na personagem. Do mesmo modo o eventual retorno de Claire não soa merecido, já que ela some por metade do filme e simplesmente volta no fim, como que por uma imposição do roteiro e não por uma atitude orgânica e desenvolvida pela personagem com alguma motivação convincente.
Apesar de um começo promissor e
de interpretações esforçadas de Julianne Moore e Sydney Sweeney, Echo Valley desmorona em uma narrativa
sem foco, que se joga em múltiplas direções sem executar bem nenhuma e que não
parece saber o que quer dizer sobre suas protagonistas.
Nota: 4/10
Trailer
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