Contando com a versão nunca
lançada oficialmente dirigida por Roger Corman, o Quarteto Fantástico já tinha
recebido quatro filmes sem que nenhum deles de fato acertasse o clima de
aventura da primeira família da Marvel. Só agora com este Quarteto Fantástico: Primeiros Passos que finalmente recebemos uma
produção que demonstra entender quem são esses personagens.
Família incrível
A trama se passa fora do universo
regular dos filmes da Marvel, em uma Terra na qual o Quarteto Fantástico são os
únicos heróis em atividade. Eles já atuam há anos e além de serem celebridades,
também tem uma ação filantrópica que transformou o mundo deles para melhor. Um
novo desafio se impõe a Reed (Pedro Pascal) e Sue (Vanessa Kirby) quando ela
descobre estar grávida. Com a ajuda de Johnny (Joseph Quinn) e Ben (Ebon Moss
Bachrach), Reed se prepara para a chegada do filho, mas o surgimento de uma
nova ameaça traz novas prioridades. A Surfista Prateada (Julia Garner) chega a
Terra avisando que em poucos meses o planeta será consumido por Galactus (Ralph
Ineson), o devorador de mundos.
Em Amores Materialistas a diretora Celine Song tenta expandir algumas
ideias sobre relacionamentos amorosos que trabalhou no excelente Vidas Passadas (2023). Lá ela
desconstruía a ideia de que existe uma alma gêmea para cada pessoa, pensando
que essa noção de pessoa ideal tem muito a ver com oportunidade e conveniência.
Aqui em Amores Materialistas ela
pondera sobre a natureza transacional dos relacionamentos.
Material girl
A narrativa gira em torno de Lucy
(Dakota Jonhson), que trabalha numa agência de relacionamentos voltada para
clientes de alta classe. Seu trabalho consiste em encontrar os pares ideais
para seus clientes, homens e mulheres, que buscam alguém para casar. Em seu cotidiano
ela pesa preferências de cada um, nível de renda e o que cada cliente exige de
um par ideal. É um trabalho que pensa em relacionamentos quase como produtos,
nos quais alguém busca um objeto com certas características e ela procura outra
pessoa que se encaixe nas exigências e que cumpra as da outra pessoa. No
casamento de uma cliente, Lucy conhece Harry (Pedro Pascal), um rico e charmoso
investidor que reúne a beleza e dinheiro que ela espera de um par. Lucy também se
reencontra com seu ex, John (Chris Evans), um ator de teatro cuja carreira
nunca decolou e ainda vive de pequenos bicos mesmo próximo dos quarenta anos de
idade. Apesar de não ter nada de material a oferecer, Lucy tem uma forte
conexão afetiva com John e constantemente desabafa com ele.
A primeira cena do filme, com um
homem das cavernas se aproximando de uma mulher levando flores e ferramentas
feitas de osso e ela cede aos avanços do homem. É uma cena que ilustra como
relacionamentos podem se construir a partir do interesse no que a outra pessoa
tem a lhe oferecer, seja conforto material, status social que vem de riqueza ou
aparência física, seja do prazer sexual que a outra pessoa lhe dá. Casamentos,
afinal, são contratos e como qualquer contrato depende do interesse de ambas as
partes. Esse componente materialista e até mesmo primitivo dos relacionamentos
se verifica no presente nas reuniões que Lucy tem com os clientes nas quais
homens e mulheres elencam o que buscam no parceiro, desde faixa de renda,
passando por idade, altura ou medidas do corpo. Lucy encara tudo com um
pragmatismo extremo, indagando aos clientes que elementos eles estariam
dispostos a abrir mão na busca por um par e quais não são negociáveis, partindo
da ideia de que nos relacionamos com alguém na medida em que percebemos que a
outra pessoa nos agrega valor, mesmo que seja um valor sentimental, intangível.
Assim, ela é colocada em um
triângulo amoroso no qual suas convicções serão testadas. De um lado Harry é
tudo que sua mente materialista sempre desejou, ele atende a todos os seus
critérios e ela os dele, já que ele é tão pragmático em sua visão de
relacionamentos quanto ela. Por outro lado, John é alguém que está sempre
presente, alguém que ela sabe que pode depender para suporte emocional e que
consegue saber que Lucy não está bem pelas mínimas nuances de voz ou rosto.
Johnson, Pascal e Evans formam um trio charmoso, com Evans e Pascal dotando
seus personagens de uma medida de vulnerabilidade emocional que ajuda a dar aos
dois personagens mais camadas. A dinâmica que o trio de atores estabelece entre
si torna crível o dilema da protagonista mesmo quando o texto deixa pistas
muito explícitas a respeito de quem ela irá escolher.
Relações abusivas
O principal problema do filme nem
é a previsibilidade do triângulo amoroso, já que Evans e Pascal são
pretendentes atraentes e carismáticos o bastante para manter nosso interesse,
mas a maneira desajeitada com a qual a narrativa insere uma subtrama de abuso
sexual envolvendo Sophie (Zoe Winters), uma das clientes de Lucy. A primeira
coisa que chama atenção é o modo pouco crível pelo qual a situação é
construída. Lógico, Lucy ou qualquer pessoa da empresa não tem como ter certeza
total que os homens que participam do serviço não são agressores em potencial,
mas considerando que é um serviço para pessoas de alta classe e os tempos em
que estamos vivendo é difícil crer que a empresa de Lucy não possua qualquer
protocolo para lidar com isso, como um botão de pânico ou um serviço de
emergência.
Também incomoda que toda a trama
de Sophie não discuta o abuso, a falta de punição para os homens que cometem
isso ou outras variáveis sociais da questão. O abuso de sofrido pela personagem
existe apenas para avançar a história de Lucy, já que a violência que Sophie
passa e o confronto entre ela e Lucy lembram a protagonista dos perigos de
tratar pessoas como objetos. O abuso de Sophie é um mero motivador para Lucy
repensar suas convicções e as escolhas que faz em relação a John e Harry,
lembrando que por mais transacional que um relacionamento seja, é difícil
funcionar ou durar sem alguma medida de afeto.
O clímax é igualmente pouco
crível, já que é difícil de acreditar que Sophie não tinham mais ninguém para
ligar além de Lucy, mesmo tendo aberto um processo contra a empresa dela. Sim,
ela pode ser uma pessoa tão focada na carreira que não tem amigas, mas se ela é
essa figura bem sucedida ela provavelmente teria uma colega de trabalho, uma
secretária, uma estagiária, alguém que pudesse chamar. Do jeito que está tudo
soa forçado para fazer a redenção de Lucy, mesmo que o texto não a tenha feito
merecer essa redenção.
Assim, a diretora Celine Song
continua a trazer reflexões instigantes sobre a natureza dos relacionamentos,
pensando em sua dimensão de transação a partir de um romance que se sustenta
pelo charme de seu trio principal, já que a trama tropeça em algumas escolhas
problemáticas.
O diretor Wes Anderson se tornou
famoso por seu estilo peculiar facilmente identificável e que a essa altura já
foi bastante parodiado. Em O Esquema
Fenício ele continua a exercitar seu jeito particular de conduzir tramas
permeadas por personagens excêntricos, mas dessa vez soa como uma repetição de
ideias que ele já fez antes.
Bilionário em fuga
A narrativa acompanha Zsa-zsa
Korda (Benício Del Toro), um excêntrico e ardiloso bilionário que desenvolveu
um esquema para enriquecer com um grande projeto de infraestrutura em um país
remoto. Seus planos, porém, o tornam alvo de governos ao redor do mundo que tem
interesses na região. Assim, Korda é constantemente alvo de tentativas de
assassinato. Temendo que seus inimigos o peguem, Korda entra em contato com
Liesl (Mia Threapleton, filha de Kate Winslet), sua filha mais velha de quem
está afastado há anos. Liesl quer ser freira, mas Korda a convence a viajar com
ele e ser a herdeira de seus empreendimentos caso ele sucumba aos ataques dos
inimigos. Dessa forma, os dois viajam pelo país remoto tentando convencer os
investidores de Korda a honrarem o esquema ao mesmo tempo em que tentam reparar
o relacionamento problemático entre eles.
Considerando que o quarto filme
do John Wick encerrou a história do personagem de maneira relativamente
definitiva, a única maneira de contar histórias sobre esse universo seria
através de outros personagens. É exatamente isso que Bailarina faz ao tentar expandir o mundo criado nos filmes do John
Wick com uma nova personagem.
Dança mortal
A narrativa se passa entre o
terceiro e o quarto filme do John Wick, tendo Eve (Ana de Armas) como
protagonista. Eve viu o pai ser morto na frente dela ainda pequena e depois
desse evento é acolhida pela Diretora (Angelica Houston) da Ruska Roma, o mesmo
clã mafioso no qual John Wick cresceu. Treinada desde jovem para ser uma
assassina, Eve começa a ascender nesse mundo de mercenários, mas logo reencontra
membros do grupo que matou seu pai e decide buscar vingança.
No papel The Alto Knights: Máfia e Poder soa como um filme promissor. A
história real de uma rivalidade entre dois grandes mafiosos estrelada por
Robert De Niro e dirigida pelo renomado Barry Levinson parece um filme com
tudo para dar certo. Infelizmente, no entanto, o que parece se conduzir como se
fosse um novo Os Bons Companheiros
(1990)termina mais próximo de um
desastre como Gotti: O Chefe da Máfia(2018).
Dupla explosiva
A narrativa se baseia na história
real da rivalidade entre Frank Costello (Robert De Niro) e Vito Genovese
(também Robert De Niro), dois imigrantes italianos que trabalharam juntos em
organizações mafiosas nos Estados Unidos da metade século XX e se tornaram
rivais disputando pelo controle. Suas personalidades são opostas, com Costello
sendo um sujeito mais suave, mais político, enquanto Vito é cabeça quente,
irascível e propenso a resolver tudo na base da violência. Quando um atentado à
vida de Frank fracassa, ele resolve se aposentar do comando da organização
passando tudo para Vito, mas a ambição e paranoia de Vito colocam tudo em
risco.
Comédia é inversão da ordem, é
subverter expectativas. Se você sabe exatamente o que vai acontecer em uma
piada ou situação cômica é difícil rir porque não houve essa quebra. A
previsibilidade sabota o humor. Isso é bem visível neste Família, Pero no Mucho estrelado por Leandro Hassum, que se apoia
em estereótipos manjados sobre argentinos para tentar fazer rir.
Entrando numa Fria
A trama é protagonizada por
Otávio (Leandro Hassum), cuja filha, Mariana (Julia Svaccina), está para
conseguir uma bolsa para estudar música na Europa, mas Otávio não aprova que a
filha vá para longe e a deixe sozinho cuidando do restaurante da família. Eles
brigam, mas ela vai mesmo assim. Anos depois, já formada, Mariana retorna e
traz consigo a novidade de que irá casar com um rapaz que conheceu na Europa. O
jovem, no entanto, não é europeu, mas argentino e Mariana organiza uma viagem
de sua família para Bariloche para conhecer a família do noivo. Logicamente
Otávio não aprova a união e isso causará muitas confusões.
Realizado por Orlando
Senna e Jorge Bodanzky e lançado em 1975 Iracema: Uma
Transa Amazônica chegou a ser proibido pela ditadura militar por muitos
anos e só foi lançado no Brasil em 1981. Hoje o filme recebe uma restauração em
4K para voltar aos cinemas e revisitá-lo agora traz a constatação melancólica
de que muito pouco mudou no país entre os cinquenta anos que separam
sua produção do seu retorno às salas de cinema.
Mitos desconstruídos
A narrativa acompanha o
caminhoneiro Tião Brasil Grande (Paulo César Peréio) que vai para o norte do
Brasil por conta da promessa de progresso e riqueza que a rodovia
Transamazônica (oficialmente a BR-230) supostamente traria. Chegando lá ele
conhece Iracema (Edna de Cássia), uma adolescente indígena que sobrevive de
prostituição, e a leva consigo em suas viagens pelo norte. É um filme que
mistura atores e cenas encenadas com personagens reais, colocando Peréio para
interagir com pessoas da região enquanto dialoga sobre o suposto progresso que
o governo militar diz estar acontecendo por conta da obra da rodovia.
Em Democracia em Vertigem (2019) a diretora Petra Costa narra a queda
de Dilma Roussef da presidência com grande vigor arquivístico, mas que se
acomodava em fazer de sua narrativa uma grande bricolagem de vários momentos
chave que foram narrados continuamente no noticiário político brasileiro sem
oferecer muito em termos de uma nova perspectiva ou de uma grande sacada
interpretativa que contribuísse para uma compreensão mais aprofundada dos fatos.
Neste Apocalipse nos Trópicos a
diretora se propõe a fazer um mergulho no ambiente da direita conservadora,
principalmente àquela ligada a igrejas neopentecostais, para melhor entender a ascensão
desse grupo na política brasileira.
Repetição histórica
Digo que o filme propõe esse mergulho
porque ele fica na proposta apenas. A ideia de um debate para tentar
compreender a ascensão da direita evangélica e sua adesão ao bolsonarismo é
logo abandonada para que a diretora basicamente repita os mesmos procedimentos
de Democracia em Vertigem, um
apanhado de imagens de arquivo e outras registradas pela diretora que recapitulam
momentos chave da vida política brasileira que tiveram bastante exposição midiática
nos últimos anos, tudo embalado por uma narração sussurrante, lamuriosa que fala
através de platitudes que explicitam o óbvio das imagens.
Quem viveu o final dos anos 90 se
lembra do pânico sobre o bug do milênio. O temor de que quando os sistemas de
computadores fizessem a passagem do 99 para o 00 do 2000 geraria uma pane nos
sistemas que poderia causar uma série de problemas. O filme Y2K: O Bug do Milênio tenta falar desse
medo em uma trama que mistura terror e comédia, mas não sai bem sucedido nesses
esforços.
Rebelião das máquinas
A narrativa é centrada em Eli
(Jaeden Martell) que junto com o melhor amigo Danny (Julian Dennison) pensam em
como pegar garotas na festa de ano novo da escola que vai marcar a virada para
o ano 2000. Eli pensa em se aproximar de Laura (Rachel Zegler), a garota
popular por quem é apaixonado, mas assim que chega a meia-noite os computadores
ganham autonomia e começam a matar pessoas. Agora eles precisam sobreviver.
É curioso como às vezes ideias
similares são produzidas quase que ao mesmo tempo em Hollywood. Meses atrás a
Amazon lançou G20, filme que trazia
Viola Davis como presidente enfrentando uma ameaça terrorista. Agora, a mesma Amazon
lança outro filme com líderes mundiais partindo para a ação neste Chefes de Estado.
Relacionamento especial
Assim como G20, a trama de Chefes de
Estado é muito idiota e não se preocupa muito em ser crível ou realista. A
diferença é que aqui ao invés de se levar à sério como G20fez, o filme tem plena consciência de sua idiotice e assume o
compromisso com a diversão sem noção. O filme acompanha Will (John Cena), astro
de cinema recém eleito presidente dos Estados Unidos, e Sam (Idris Elba),
primeiro ministro britânico. Quando os dois são atacados em uma viagem
diplomática, precisam se unir para sobreviver a despeito de suas personalidades
conflitantes e desvendar quem está por trás da conspiração. Ao longo do
percurso eles terão ajuda da agente Noel (Priyanka Chopra).
A série Cobra Kaiconseguiu ressuscitar a franquia Karate Kid quando ela parecia morta, já que mesmo uma tentativa de remake estrelada por Jackie Chan
(inexplicavelmente trocando caratê por kung fu a despeito do título se manter)
não chegou a decolar embora não tenha sido um fracasso. Com Cobra Kai se encerrando depois de se
alongar demais, a franquia volta aos cinemas neste Karate Kid: Lendas, que reúne o Sr. Han (Jackie Chan) do remake com
Daniel Larusso (Ralph Macchio).
Novo protagonista, mesma história
A narrativa é encabeçada por Li
Fong (Ben Wang), estudante e sobrinho do Sr. Han que se muda da China para os
Estados Unidos depois que sua mãe consegue um emprego em um hospital em Nova
Iorque. Lá ele se aproxima da garota Mia (Sadie Stanley) e do pai dela, Victor
(Joshua Jackson), dono de uma pizzaria no bairro. Quando Li descobre que Victor
está devendo para pessoas perigosas e vai tentar recuperar o dinheiro em uma
luta de boxe, Li decide ajudar Victor a treinar com seu conhecimento de Kung
Fu. Ao mesmo tempo, ele disputa a atenção de Mia com o valentão Conor (Aramis
Knight).
Parte do selo Desastre Total da Netflix, que
compreende documentários sobre catástrofes ou eventos controversos, Cruzeiro do Cocô narra um desastre
marítimo ocorrido em 2013 que mobilizou a imprensa dos Estados Unidos.
Viagem de merda
O documentário conta a história
do navio de cruzeiro Carnival Triumph que em 2013 sofreu um incêndio na casa de
máquinas que destruiu os geradores de energia da embarcação e a deixou sem
energia. Como até mesmo a descarga das privadas dependiam de geradores para
funcionar, os passageiros sequer conseguiam usar o banheiro direito. Soma-se
isso a uma demora da empresa que gerenciava o cruzeiro em mandar um reboque
para trazer a embarcação de volta a um porto próximo, temos um grande desastre
que colocou a vida de todos em risco.
Estrelado por Hunter Schafer, Cuckoo: O Medo Chama cria uma misteriosa
atmosfera de horror para sua história, mas conforme progride não consegue dar
conta dos múltiplos temas que tenta abordar. A narrativa é centrada em Gretchen
(Hunter Schafer), uma jovem que se muda para a Alemanha com o pai, Luis (Marton
Csokas), a madastra, Beth (Jessica Henwick), e a irmã caçula Alma (Mila Lieu),
que desde que nasceu nunca conseguiu falar. Luis vai para o país a trabalho,
para reformar o remoto resort nas montanhas de propriedade do excêntrico Konig
(Dan Stevens). Gretchen começa a trabalhar como recepcionista do remoto resort,
mas logo começa a notar estranhos fenômenos e a ser perseguida por uma bizarra
mulher encapuzada. Como ninguém mais vê a tal mulher, o pai e a madrasta acham
que Gretchen está tentando chamar atenção, já que eles estão focados nos
problemas de saúde de Alma.
Espécie invasora
A narrativa vai aos poucos
construindo um senso de tensão e estranheza conforme fenômenos bizarros vão
acontecendo ao redor de Gretchen, desde conduta esquisita dos hóspedes,
passando por estranhos sons e momentos de deja
vu que ela experimenta até as violentas perseguições da mulher encapuzada.
Há uma ambiguidade nesses momentos que nos deixa incertos se é tudo na mente de
Gretchen, que lida com o senso de isolamento e o falecimento inesperado de sua
mãe, ou se há de fato uma criatura à espreita que explica todos os fenômenos
estranhos.
Por outro lado, alguns segredos
são bem óbvios desde o início como o fato de Konig claramente estar escondendo
algo, o que mina parte da ambiguidade que a narrativa tenta construir. O que
era uma narrativa sobre o luto de Gretchen e o senso de não pertencimento dela
à nova família do pai vai se abrindo a outros temas a partir do momento em que
o filme decide explicar o que de fato está acontecendo e qual a natureza da
ameaça.
As experiências de Konig com
criaturas híbridas deslocam os temas do luto para falar de ética científica,
direitos reprodutivos da mulher e diferentes configurações de família, mas
nunca há tempo suficiente para desenvolver todas essas ideias. O filme se torna
um slasher competente, com bons
momentos de tensão graças aos visuais bizarros e senso de estranheza com o qual
tudo é conduzido, mas fica a impressão de que a narrativa levanta muitas
questões e não as trabalha a contento.
É impressionante como quase nada
funciona neste Shadow Force: Sentença de
Morte, misto de ação com comédia romântica que tenta fazer tanta coisa ao
mesmo tempo, misturando diferentes gêneros e propostas estéticas ou narrativas
que nada consegue operar conjuntamente com coesão. A impressão que fica é a de
um filme que parece brigar consigo mesmo o tempo todo.
Conflito interior
A trama acompanha o casal de
mercenários Issac (Omar Sy) e Kyrah (Kerry Washington). No passado eles
serviram juntos da Shadow Force, divisão secreta que realizada missões de
assassinato. Quando eles se apaixonaram e tiveram um filho decidiram abandonar
a divisão, mas isso os colocou na mira do líder, o ardiloso Jack Cinder (Mark Strong).
Eles vivem separados, com Issac cuidando do filho do casal, enquanto Kyrah caça
os remanescentes do grupo que estão atrás deles. As coisas mudam quando Issac
impede um assalto à banco, atraindo atenção da mídia e fazendo seu rosto
circular na mídia, chamando atenção de quem os caçava, obrigando ele e Kyrah a
se reunirem e eliminarem a ameaça de uma vez por todas.
Depois de uma tentativa de
construir um universo cinematográfico da DC que não engrenou por conta de
escolhas questionáveis e uma demora da Warner em corrigir o rumo este Superman tenta ser um recomeço tanto
para o personagem quanto para o universo DC. James Gunn já tinha colocado as
mãos em personagens com O Esquadrão Suicida (2021) e seus derivados e aqui assume tanto como diretor quanto
como a mente criativa por trás do recém criado DC Studios.
Olhe para o céu
Na trama, Clark Kent (David
Corenswet) já é Superman há alguns anos e agora lida com uma crise da confiança
do público em si depois que ele impede uma guerra entre dois países distantes.
Lex Luthor (Nicholas Hoult) aproveita para minar ainda mais a credibilidade do
herói para mobilizar a opinião pública e o governo contra ele, convencendo as
autoridades a lhe darem carta branca para tratar o Superman como um inimigo do
Estado, ao mesmo tempo em que lucra com a guerra no exterior que o Superman
tentou impedir.
Ainda há uma espécie de senso
comum equivocado de que a repressão da ditadura militar brasileira foi algo
focado nos grandes centros urbanos e que quem estava à margem disso foi pouco
afetado. O sucesso de Ainda Estou Aquino
ano passado e certas reações a ele mostrou como esse senso comum ainda está
presente, falhando em entender como a ditadura também afetou populações fora
desses centros urbanos, como as populações indígenas. O documentário Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá, conta
exatamente uma dessas histórias de como comunidades indígenas foram impactadas
nesse período.
Diáspora indígena
O filme parte da busca de Sueli
Maxakali (uma das diretoras do filme) e sua irmã Maiza Maxakali, pelo pai
delas, Luiz Kaiowá, de quem foram separadas quando eram pequenas ainda no
período da ditadura militar. A narrativa conta como Luiz foi removido à força
de seu território natal no Mato Grosso do Sul pelo então governo, sendo
transportado por vários estados até chegar ao território dos Tikmũ’ũn (também
chamados de Maxakali) em Minas Gerais, onde conheceu a mãe de Sueli e Maiza.
Depois Luiz sofre um novo deslocamento forçado por parte do governo e perde o
contato com a família que constituiu em Minas Gerais.
Não esperava nada quando comecei
a assistir Improvisação Perigosa, mas
me surpreendi com uma comédia divertida que consegue aproveitar o potencial
absurdo da premissa que apresenta. A trama é centrada em Kat (Bryce Dallas
Howard), uma atriz vivendo em Londres cuja carreira não decolou e vive de dar
aulas de comédia de improviso. Marlon (Orlando Bloom) também é um ator cuja
carreira está estagnada e faz parte da turma de Kat. Hugh (Nick Mohammed) é um
sujeito tímido que entra na turma de Kat para aprender a socializar melhor. Os
três são recrutados pelo policial Billings (Sean Bean) para trabalharem em
operações disfarçadas, mas suas habilidades de improviso permitem que eles
consigam ir além da missão inicial.
Anunciada em 2020, mas só lançada
agora em 2025, Coração de Ferro foi
parte de um período conturbado da divisão de televisão da Marvel em que suas
produções foram reavaliadas e passaram por revisões, refilmagens, quando não
foram refeitas do zero. Séries como Ecoou
Demolidor: Renascido conseguiram sair
desse crisol ao menos como produtos coesos, com uma visão bem demarcada da
história que queriam contar. Coração de
Ferro, por outro lado, não tem a mesma sorte. Aviso que o texto contem spoilers da série.
Gênia indomável
A narrativa segue Riri Williams
(Dominique Thorne) depois dos eventos de Pantera Negra: Wakanda Para Sempre (2022). Riri continua tentando criar um novo
traje de ferro e uma IA similar à que encontrou em Wakanda, mas quando seus
experimentos causam mais um grande acidente na faculdade, ela termina expulsa.
Riri volta para Chicago, sua cidade natal, e para financiar sua pesquisa não encontra
outro meio senão colaborar com os esquemas criminosos da gangue liderada por Parker
(Anthony Ramos), que recebe a alcunha de Capuz por conta do capuz místico que
lhe confere estranhos poderes.
O documentário é capaz de
resgatar eventos que não ficaram na memória coletiva, nos abrir a realidades
que não conhecíamos. O Presidente Surdo faz
exatamente isso ao contar a história de uma mobilização estudantil da universidade
Gallaudet na década de oitenta.
O som do silêncio
O filme acompanha eventos
ocorridos em 1988 na Universidade Gallaudet, a primeira universidade dedicada à
educação de pessoas surdas criada nos Estados Unidos ainda no século XIX. Os
estudantes estavam mobilizados pela eleição de um presidente que fosse surdo,
mas quando o conselho gestor da universidade aponta uma presidente que não é
surda e se mostra insensível às demandas e questões do corpo discente, os
estudantes se organizam para exigir mudanças.