terça-feira, 29 de julho de 2025

Crítica – Quarteto Fantástico: Primeiros Passos

 

Análise Crítica – Quarteto Fantástico: Primeiros Passos

Review – Quarteto Fantástico: Primeiros Passos
Contando com a versão nunca lançada oficialmente dirigida por Roger Corman, o Quarteto Fantástico já tinha recebido quatro filmes sem que nenhum deles de fato acertasse o clima de aventura da primeira família da Marvel. Só agora com este Quarteto Fantástico: Primeiros Passos que finalmente recebemos uma produção que demonstra entender quem são esses personagens.

Família incrível

A trama se passa fora do universo regular dos filmes da Marvel, em uma Terra na qual o Quarteto Fantástico são os únicos heróis em atividade. Eles já atuam há anos e além de serem celebridades, também tem uma ação filantrópica que transformou o mundo deles para melhor. Um novo desafio se impõe a Reed (Pedro Pascal) e Sue (Vanessa Kirby) quando ela descobre estar grávida. Com a ajuda de Johnny (Joseph Quinn) e Ben (Ebon Moss Bachrach), Reed se prepara para a chegada do filho, mas o surgimento de uma nova ameaça traz novas prioridades. A Surfista Prateada (Julia Garner) chega a Terra avisando que em poucos meses o planeta será consumido por Galactus (Ralph Ineson), o devorador de mundos.

É difícil não pensar que a chegada de Galactus serve aqui como uma metáfora para a ansiedade com a chegada de um filho para pais de primeira viagem. Afinal, estamos falando de algo que avisa com meses de antecedência que um ser com fome irrefreável virá para destruir nosso mundo como conhecemos e temos pouco tempo para nos preparar para esse evento que irá irremediavelmente transformar nossas vidas, não muito diferente da chegada de uma criança.

O elenco é convincente em nos apresentar a afinidade que essas pessoas tem e como elas se conhecem muito bem após anos de convivência. Pedro Pascal encontra bem as diferentes facetas de Reed, de como ele pode ser um nerd desajeitado e também um sujeito tão inteligente e de raciocínio tão avançado que suas análises por vezes soam frias ou desumanas demais. Johnny é o mesmo sujeito vaidoso e impulsivo de sempre, mas sua subtrama envolvendo a Surfista e a tradução de um idioma alienígena nos lembra como todos os membros do Quarteto são indivíduos de intelecto acima da média. Ben segue como o sujeito mais comum é meio a várias pessoas extraordinárias, mas é justamente por sua normalidade (em oposição à sua aparência) que ele mantem os demais com os pés no chão. É um tipo de personagem que Ebon Moss já tinha feito muito bem em The Bear e continua a se sair bem aqui.

O destaque, no entanto, fica por conta de Vanessa Kirby como Sue Storm. Se nos dois filmes dirigidos por Tim Story a Mulher Invisível era muitas vezes reduzida a um interesse amoroso e no malfadado reboot dirigido por Josh Trank a atriz Kate Mara tinha um material inane para trabalhar, aqui Kirby finalmente faz jus à personagem. Sua Sue é feroz, resoluta, a força motriz da família, mas também há uma ternura, um afeto que contrabalança inclusive a frieza racional de Reed. Essas várias camadas ficam bem visíveis no discurso que Sue faz à população às portas do Edifício Baxter, no qual se solidariza com o desespero das pessoas com a vinda de Galactus, demonstra o amor pelo filho recém-nascido e reafirma seu comprometimento em proteger tanto o planeta quanto a própria família.

Devorador de mundos

A voz cavernosa de Ralph Ineson dá a medida da intensidade e grandiloquência de Galactus, um ser ancestral que devora planetas não por crueldade, mas porque precisa fazer isso para sobreviver. Há algo de trágico no vilão, refém de uma fome que nunca cessa e disposto a mudar sua sina, no entanto, a narrativa nunca explora isso de maneira a dar mais contornos a ele, o que é uma pena.

Toda a sequência em que o Quarteto viaja ao espaço para confrontar Galactus e a perseguição na qual se envolvem com a Surfista Prateada evocam muito bem a psicodelia visual dos quadrinhos de Jack Kirby. Na Terra, a estética retrofuturista do mundo habitado pelos personagens contribui para uma estética bem singular. Igualmente marcante é a música composta por Michael Giacchino. Em geral as trilhas musicais compostas para os filmes da Marvel falham em ter qualquer elemento que as torne memorável (talvez a única exceção seja o tema dos Vingadores composto por Alan Silvestri). Em geral o que se destaca na paisagem musical de filmes da Marvel são o uso de canções não originais (como nos dois primeiros Homem de Ferro ou na trilogia dos Guardiões da Galáxia) ou a reutilização de temas clássicos desses personagens, como o do Homem Aranha ou o uso do tema da animação dos X-Men sempre que algum mutante aparece.

Aqui a música de Giacchino casa muito bem com o clima retrofuturista do filme e também com a ambientação de uma aventura de ficção científica. Ela é grandiosa, triunfante, cheia de esperança, mas com elementos que soam como se a composição tivesse saído de um sci-fi da metade do século XX. O que o compositor faz aqui é a trilha musical original mais marcante da Marvel até agora.

Heroísmo em segundo plano

Se o filme acerta em mostrar esses personagens tanto como uma família quanto como exploradores e cientistas, a faceta de super-heróis acaba ficando um pouco de lado. Não deixa de ser curioso que a maioria das cenas de ação aconteça em sequências de montagem que sintetizam a história do grupo derrotando diferentes vilões, como o Homem Toupeira (Paul Walter Hauser), raramente dando espaço para explorar criativamente as habilidades que eles tem. Mesmo a luta contra Galactus no final raramente apresenta boas ideias de como esses heróis geniais usariam seus poderes, como no momento em que Sue cria uma barreira de energia que funciona como uma lente, ampliando o jato de fogo lançado por Johnny.

Não há nada errado com as cenas de ação em si, mas considerando os poderes dos personagens, não há nada nelas que salte aos olhos. Isso, porém, não significa que a ação seja completamente insossa. Como os personagens e seus dramas são bem construídos, sentimos bem o perigo e a urgência da situação, entendemos o que está em jogo para os personagens e o peso do que pode acontecer caso eles fracassam. Mais uma vez é Vanessa Kirby que se destaca. A cena em que Sue usa seus poderes para tentar segurar Galactus é intensa justamente porque a atriz consegue nos convencer do esforço monumental que a heroína está fazendo para conter um inimigo tão poderoso e o sentimento que impele a forçar tanto as próprias capacidades para detê-lo.

Assim, Quarteto Fantástico: Primeiros Passos é uma boa introdução para a primeira família da Marvel, entendendo o que move esses personagens, ainda que fique devendo em alguns aspectos.

 

Nota: 7/10


Trailer

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