segunda-feira, 30 de junho de 2025

Crítica – Saturday Night: A Noite que Mudou a Comédia

 

Análise Crítica – Saturday Night: A Noite que Mudou a Comédia

Review – Saturday Night: A Noite que Mudou a Comédia
Sendo um dos programas de televisão mais longevos dos Estados Unidos, tendo completado 50 anos neste ano, Saturday Night Live faz parte da história da comédia e do entretenimento no país. Dirigido por Jason Reitman, Saturday Night: A Noite que Mudou a Comédia tenta honrar o legado do programa ao narrar a origem do programa e como ele marcou por fazer algo muito diferente da comédia televisiva de então.

Embalos de sábado à noite

A narrativa é centrada no produtor Lorne Michaels (Gabriel LaBelle, de Os Fabelmans) e sua esposa Rosie Shuster (Rachel Sennott) horas antes do primeiro Saturday Night ir ao ar ao vivo. Lorne corre contra o tempo para ajeitar os últimos detalhes, conciliar os egos dos membros dos elencos e roteiristas conforme lida com os executivos da emissora e uma desconfiança de que esse programa enorme, ao vivo, feito por comediantes desconhecidos, pode ser um grande fracasso.

Reitman usa planos longos com câmera na mão conforme Lorne percorre os corredores do estúdio tentando conciliar as múltiplas demandas e incertezas que se impõem a ele horas antes do programa estrear. O modo como tudo é filmado contribui para o senso de caos, de movimento constante e de tensões que o protagonista vivencia. Isso é amplificado pela trilha musical com constantes batidas percussivas reiterando a tensão pulsando na mente do protagonista e pela montagem, que por vezes insere cortes rápidos com imagens de outros problemas que Lorne ainda tem para resolver, como se fossem todas essas demandas rapidamente pipocando em sua mente.

No geral o filme faz uma reconstrução competente da época e o amplo elenco é muito bom em capturar a excentricidade das personalidades que marcaram o início do SNL. Embora não pareça fisicamente com Dan Aykroyd, Dylan O’Brien capta muito bem a voz e cadência de fala peculiar do comediante. Cory Michael Smith (que fez o recente Mountainhead) acerta no magnetismo pessoal e carisma pedante de Chevy Chase, um sujeito que obviamente tem talento, mas cuja personalidade abrasiva e ego inflado prejudicam suas relações com os demais.

Não a toa que em uma conversa com o roteirista Herb (Tracy Letts), Chase ouve dele a previsão de que apesar de alcançar o estrelato, terminará seus dias sozinho e amargurado, exatamente o que aconteceu com o Chase real que praticamente se alienou da indústria. Nicholas Braun (o primo Greg de Succession) se sai bem em um papel duplo, interpretando o imprevisível comediante Andy Kaufman (que já foi interpretado pro Jim Carrey na biografia O Mundo de Andy) e Jim Henson, criador dos Muppets que se vê horrorizado com o espírito subversivo dos comediantes do SNL.

Fora com o que é velho

Apesar da preocupação com a reconstrução da época, é visível que a narrativa de Reitman está menos interessada em acuidade histórica e mais em captar o clima do momento, tanto pelas tensões de criar algo diferente do que era até então feito na televisão quanto pelo que representava ter um programa construído quase que inteiramente por pessoas vinculadas a contracultura estadunidense do período e de como isso mexia com as sensibilidades do status quo.

Nesse sentido, o filme cria situações que não aconteceram durante a estreia do programa, mas que ilustram esses temas. Não houve, por exemplo, atrito entre Lorne e executivos da emissora tentando tirar o programa do ar como acontece aqui na figura do executivo Dave Tebet (Willem Dafoe), que queria cancelar SNL para colocar reprises de Johnny Carson. Na verdade a presidência da emissora defendia bastante o programa.

O mesmo acontece com o conflito envolvendo o comediante Milton Berle (J.K Simmons, como sempre muito bom em fazer uma figura mais velha e opressiva), Lorne e o elenco do SNL. Berle é a primeira grande estrela da televisão dos Estados Unidos, tendo saído do rádio e ganhado um programa de auditório televisivo em 1948, uma época em que não havia muita concorrência e na qual ele prosperou com recordes de audiência. Em 1975 quando o SNL estreia, no entanto, Berle está bem longe do seu auge e a presença dele aqui é usada para ilustrar essas tensões entre formas antigas de humor televisivo e o espírito jovem e questionador que o SNL trouxe.

Berle de fato fez uma participação no programa, mas não na sua estreia e sim em 1979 quando o programa já estava consolidada e muitos integrantes do elenco já eram grandes estrelas, então a discussão entre Berle e Chevy Chase na qual Berle o humilha por ser um ninguém provavelmente nunca aconteceu já que em 1979 Chase era um astro da comédia. O contato entre o lendário comediante e a equipe do SNL foi, de fato, problemático, com o episódio no qual Berle aparece como host do programa sendo considerado o pior da fase do elenco original e Lorne Michaels tendo vetado sua reprise por mais de 30 anos por conta dos vários atritos entre Berle e o programa.

Todas essas liberdades fazem sentido dentro da história que Reitman quer contar para marcar esse conflito entre diferentes momentos da produção televisiva e são também uma tentativa de adicionar drama e um senso maior de risco, de que há algo em jogo, para a narrativa. Isso em si não é um demérito. O problema é que toda essa tensão efervescente nunca explode em um conflito real, com tudo se dissipando de maneira muito fácil nos momentos finais quando Tebet muda de ideia sobre cancelar o programa e toda a equipe imediatamente deixa de lado seus conflitos e passa a cooperar como que por pura exigência do roteiro. Nenhuma dessas guinadas soa devidamente construída ou desdobramentos conquistados pelo desenvolvimento dos personagens até então, fazendo o que deveria ser uma grande apoteose de todos os esforços até aquele momento perderem o impacto.

A impressão é que o filme tenta dar conta de tantos elementos, personagens e conflitos que não dá tempo para que tudo seja desenvolvido a contento e talvez o material pudesse funcionar melhor como minissérie do que como longa-metragem.

 

Nota: 7/10


Trailer

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