terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Crítica – Adoráveis Mulheres

Análise Crítica – Adoráveis Mulheres


Review – Adoráveis Mulheres
Eu não estava lá muito empolgado por essa nova versão de Adoráveis Mulheres. A versão de 1994 protagonizada por Winona Ryder continua a se sustentar muito bem hoje e a única coisa que dava a impressão de que não seria um produto caça-níqueis era a presença de Greta Gerwig, responsável pelo ótimo Lady Bird (2018), como diretora e roteirista do longa.

A trama acompanha a saga da família March durante a Guerra de Secessão dos Estados Unidos. A filha mais velha, Jo (Saiorse Ronan), serve como a narradora da história contando os percalços dela, de suas irmãs e da mãe depois que o pai vai servir na guerra. Nesta versão Gerwig opta por desenvolver a trama de maneira não linear, o que inicialmente parece um mero floreio feito para diferenciar esta versão das demais, mas conforme o filme avança consegue justificar o seu uso.

Considerando que é uma adaptação de uma obra literária que já recebeu várias adaptações em filme e série, logicamente há pouco a ser dito aqui que outras versões já não tenham dito sobre esta história, mas é tudo tão bem conduzido que é difícil não se deixar envolver mais uma vez pelas March.

O elenco consegue tornar crível a ligação fraternal entre as irmãs Jo, Meg (Emma Watson), Amy (Florence Pugh) e Beth (Eliza Scanlan), nos convencendo de que essas pessoas se conhecem desde sempre e são capazes de dizer muito uma para outra apenas com um olhar ou um gesto, como na cena em que Jo deduz que foi Amy quem roubou o manuscrito de seu livro. Além das quatro irmãs, o resto do elenco coadjuvante é igualmente competente, de Meryl Streep como uma tia sem papas na língua passando por Laura Dern como a matriarca March em um papel mais discreto do que as personagens que ela tem feito nos últimos anos, mas que traz em si a natureza resignada, empática e cheia de afeto.

Afeto, aliás, é a força motriz da trama, na qual são esses laços de afeto e sororidade que fazem as personagens aguentarem os desafios que se impõem a elas constantemente. Desafios que nascem, em grande medida, apenas pelo fato de serem mulheres em uma sociedade que lhes relega apenas ao papel de esposas e lhes tira a possibilidade de escolher por conta própria o que fazer da própria vida. A vida dessas personagens não é só sofrimento, no entanto, e o texto injeta uma boa dose de humor e sentimento nas trajetórias das protagonistas.

Nesse sentido, a trama se torna até mais atual, já que esses temas de igualdade e da necessidade de olharmos o mundo sob uma perspectiva feminina estão ainda mais em voga hoje do que na década de noventa quanto a versão anterior foi lançada e a maneira com a qual Gerwig conta sua história nos faz ver o quanto avançamos pouco da época em que a trama se passa aos dias de hoje.

Falando em estrutura narrativa, a escolha por narrar a trama de maneira não linear consegue construir através da montagem paralelismos ou contraposições impactantes entre o passado e o presente das personagens. Um exemplo é a cena que mostra Jo acordando depois de passar a noite cuidando de Beth. No passado a cena é tomada por tons alaranjados e saturados, cores quentes que ajudam a transmitir o afeto e calor humano daquela família em uma manhã de Natal, enquanto que no presente a cena é cheia de tons azuis em baixa saturação, cores frias que ajudam a construir o sentimento de tristeza pelo falecimento da irmã (e não, isso não é spoiler, afinal trata-se da adaptação de uma obra literária de mais de 100 anos).

Deste modo, mesmo não sendo nada radicalmente diferente de outras versões Adoráveis Mulheres ainda é uma trama deliciosa e envolvente, cheio de afeto, emoção e personagens carismáticas.

Nota: 8/10

Trailer


2 comentários:

TakashiB disse...

Vai ter critica de CATS? vulgo melhor filme dos últimos 50 anos

Lucas Ravazzano disse...

Como Cats não foi exibido para a imprensa em Salvador e eu não estou disposto a pagar ingresso pra assistir, ainda deve demorar um pouco para sair, mas eventualmente farei.