segunda-feira, 15 de julho de 2019

Crítica – London Fields




Em desenvolvimento desde 2013, este London Fields teve uma produção conturbada passando por diretores como David Cronenberg e Michael Winterbottom até chegar a Matthew Cullen, responsável pelo videoclipe California Gurls de Katy Perry. Filmado em 2015, o filme ficou um tempo na gaveta até ser exibido em alguns festivais de cinema em 2018 com uma recepção majoritariamente negativa (merecidamente, por sinal).

A trama, baseada em um romance escrito por Martin Amis na década de 80 (que não li), se passa em Londres em 1999. A cidade está em um momento de convulsão social por motivos que o roteiro não se dá ao trabalho de explicar e nunca tem muito impacto na trama. Um escritor com bloqueio criativo, Samson (Billy Bob Thornton), chega a Londres em busca de uma nova fonte de inspiração e os desejos dele são atendidos quando conhece a misteriosa Nicola (Amber Heard), uma mulher fatal que diz ter tido uma visão da própria morte. Crendo na veracidade da clarividência de Nicola, Samson decide acompanhá-la para escrever sobre ela.


Em dado momento do filme Samson diz que sua história não existiria sem Nicola. Ela é, de fato, a personagem mais central do filme e aderir a ela é essencial para embarcar na narrativa. O problema é que, a despeito de seus esquemas para manipular o banqueiro Guy (Theo James) ou o bandido pé de chinelo Keith (Jim Sturgess), Nicola é uma personagem vazia, sem qualquer motivação para fazer nada do que faz. Afinal, porque ela não tenta impedir seu destino iminente? Qual a razão dela se envolver com Guy ou Keith? Só para reproduzir suas visões futuras? Enganá-los e destruir suas vidas serve a qual propósito ou objetivo? Nada disso é explicado ou definido, deixando a personagem a esmo.

Claro, talvez o intento fosse fazer dela uma predadora, uma força da natureza que passa destruindo tudo ao seu redor, a questão é que falta presença e personalidade a Nicola para que ela funcione como tal. Ao invés de uma dama fatal, dissimulada e manipulativa, a personagem se comporta e é filmada o tempo todo come se estivesse em um comercial de lingerie. Por outro lado, seria injusto dizer que o fracasso do filme é culpa de Heard, já que nenhum personagem surge como particularmente interessante e muitas escolhas de interpretação se mostram equivocadas.

O melhor exemplo é o Keith de Jim Sturgess. Sempre com a boca arreganhada de modo a mostrar os dentes podres, o personagem é meramente uma coleção de cacoetes exagerados que o tornam uma caricatura irritante ao invés de alguém pitoresco ou carismático. O Guy de Theo James é incapaz de despertar qualquer reação, enquanto que Samson também sofre com motivações mal construídas, já que a decisão final de Samson soa gratuita e não merecida, acontecendo apenas para chocar. O filme ainda desperdiça Jamie Alexander (a Jane de Blindspot) e Cara Delevigne em papeis “piscou, perdeu” que não tem nenhuma relevância ou impacto na trama.

É possível perceber uma tentativa de usar a relação entre Samson e Nicola para fazer um meta-comentário sobre o processo criativo, sobre como um autor lida com a própria criação e como esses personagens criam uma vida própria ao ponto em que eles escapam ao controle do autor. Tudo isso poderia render boas reflexões sobre o processo criativo, mas é tudo supercial e pontual para render algo consistente que sirva como horizonte temático e unificador da obra, que poderia até justificar a decisão final de Samson se fosse satisfatoriamente construído.

Apesar do esforço do roteiro em apresentar um plantel de personagens pitorescos, tudo é filmado de maneira pouco imaginativa e com uma fotografia monocromática com tons predominantemente marrons que não combinam com os contrastes e sentimentos exacerbados que a trama apresenta, tornando tudo entediante de olhar tanto em termos estéticos quanto narrativos, visto que a trama caminha sem qualquer senso de urgência apenas colando uma cena na outra sem coesão ou unidade. É o tipo de bagunça narrativa que deixa evidente a produção conturbada que o filme teve, assim como aconteceu com Quarteto Fantástico (2015), parecendo uma colcha de retalhos costurada sem qualquer critério.

Com personagens vazios, visual sem personalidade e trama arrastada, London Fields é daqueles filmes que não fazem nada pelo espectador além de desperdiçar nosso tempo.


Nota: 2/10

Trailer

2 comentários:

Gui disse...

Assisti hoje e concordo com a crítica. Assisti pela Amber, vou ser bem sincero, acho ela sensual a beça, mas nem isso salva o roteiro, ela parece uma prostituta na trama, literalmente, vc pensa que vai acabar de um jeito e termina de outro, mas no pior estilo.

Unknown disse...

acabei de ver esse filme e me decepcionei demais, nenhuma motivação é dada pra nada, nenhum personagem tem alguma profundidade, todos os personagens tem potencial a ser explorado, principalmente a principal que pra mim tinha muito detalhe a ser explorado, já que desde criança ela sente essas coisas, mas isso fica de lado, é tudo tratado de maneira tão superficial, e o final é o ápice de falta de criatividade, não faz sentido algum, realmente obedece bem a fala de que, quando alguém começa algo é impossível parar, a única motivação é que tinha que acontecer e ponto, sem nexo