sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Crítica - Riverdale: Primeira Temporada


Análise Crítica - Riverdale: Primeira Temporada


Review - Riverdale: Primeira Temporada
Os quadrinhos do Archie sempre tiveram uma clima de aventura juvenil ingênua e colorida. A ideia de adaptar esse universo para uma série na qual os personagens estariam envolvidos na investigação de um assassinato e a idílica cidade seria um local cheio de segredos e corrupção, parecia mais uma estratégia comercial de seguir a atual tendência de criar versões "sombrias e sisudas" de qualquer coisa. Felizmente, porém, essa primeira temporada de Riverdale tem algo a dizer sobre esse universo e personagens além de meramente observá-los sob um prisma mais sério e é graças a isso que a série funciona.

A trama começa quando o assassinato do estudante Jason Blossom (Trevor Stines) choca toda a cidade de Riverdale. O jovem Archie (KJ Apa) ouviu um tiro ser disparado próximo ao local em que Jason foi visto pela última vez, mas teme ir à polícia porque ele estava acompanhado de sua professora, Geraldine Grundy (Sarah Habel), com quem tem um romance secreto. Simultaneamente, a vizinha de Archie, Betty Cooper (Lili Reinhart), e o melhor amigo dele, Jughead (Cole Sprouse), decidem investigar o crime para o jornal da escola. Ao curso da investigação o grupo descobrirá que muitos habitantes da aparentemente pacata Riverdale escondem terríveis segredos.

Há um esforço genuíno por parte da série em tentar subverter os arquétipos sobre os quais esses personagens foram construídos nos quadrinhos. Ao invés de um herói ingênuo, Archie tem um romance proibido com uma professora, algo fruto do mal resolvido Complexo de Édipo que o personagem tem em relação à mãe que o abandonou. Betty demonstra um lado sombrio por baixo da fachada da típica "garota da casa ao lado" e seu hábito de ferir as próprias mãos quando fica nervosa, bem como a relação complicada que ela tem com a mãe ultra controladora, revelam uma inesperada vulnerabilidade emocional. O cinismo e o aspecto "trevoso" de Jughead não são mera rebeldia adolescente e tem relação com as inúmeras dificuldades que ele viu sua família experimentar ao longo dos anos. Veronica (Camila Mendes), podia ser uma típica patricinha, mas a série lhe dá um arco dramático no qual ela é obrigada a confrontar as consequências dos golpes financeiros aplicados por seu pai, fazendo-a repensar sua conduta.

A narrativa ainda consegue falar de temas importantes como bullying, machismo, preconceito e abuso sexual de maneira natural e orgânica à trama, sem parecer que os personagens estão dando uma videoaula sobre o tema. Por outro lado, toda a parte das intrigas adolescentes, trocas de casais e brigas para quem vai ser capitã das líderes de torcida soam incomodamente clichê e fazem pouco para ir além dos lugares-comuns que já vimos em inúmeras narrativas adolescentes. A série também apresenta números musicais recorrentes envolvendo Archie ou as integrantes da banda Josie e as Gatinhas, mas estes, embora corretos e relativamente bem produzidos, não chegam a encantar e deslumbrar como deveriam.

A construção da trama investigativa envolvendo Jason Blossom se sai um pouco melhor. Há um hábil manejo da intriga, com cada episódio apresentando informações importantes e nos dando razões para suspeitar de diferentes personagens, criando um mistério instigante no qual qualquer um pode ser o culpado. A investigação dos personagens também serve para mostrar como Riverdale está longe de ser essa cidadezinha pacata e idealizada, revelando relações familiares incestuosas e negócios sombrios da elite da cidade.

Essa ideia de uma cidade idílica que esconde segredos sombrios também é percebida nas escolhas estéticas envolvendo a cidade e os figurinos. As roupas e ambientes usam cores intensas e bem marcantes, além de luzes neon coloridas, conferindo um certo ar cartunesco aos espaços e figurinos. No entanto, a fotografia constantemente contrasta essas cores fortes e luzes neon com espaços com pouca luz ou tomados por névoa, conferindo um ar sinistro e surreal ao que inicialmente parece um colorido infantilizado. É interessante também o modo como os figurinos conseguem remeter a elementos dos quadrinhos sem abrir mão do realismo, como o fato da touca de Jughead apresentar um design idêntico ao chapéu/coroa que o personagem usa nos quadrinhos.

A escolha do elenco adulto também tem muito a dizer sobre o esforço da série em desconstruir uma imagem ingênua e idealizada da juventude. Não é acidente que Luke Perry e Molly Ringwald tenham sido escalados para viver os pais de Archie. Para quem não lembra (ou é jovem demais), Perry interpretou o galã Dylan da série Barrados no Baile, enquanto Ringwald foi a queridinha dos romances adolescentes na década de 80 em filmes como Gatinhas e Gatões (1984), O Clube dos Cinco (1985) ou A Garota de Rosa-Shocking (1986). Seus personagens, no entanto, são pessoas cheias de falhas, que tentam fazer a coisa certa, mas cometem erros e decepcionam os filhos, enfim, estão longe de remeter à imagem romantizada de juventude que esses atores um dia representaram.

O mesmo pode ser dito da escolha de Skeet Ulrich como líder da gangue de motoqueiros local e pai de Jughead. Nos anos 90, Ulrich viveu bad boys em filmes como Pânico (1996) ou Jovens Bruxas (1996), mas aqui, embora seu personagem claramente não seja um bom sujeito, seu personagem é menos maniqueísta e tem mais nuance. Há uma certa melancolia nele, como se lamentasse o caminho que sua vida tomou, e ele exibe um afeto genuíno pelo filho, temendo que Jughead cometa os mesmos erros que ele.

Embora ocasionalmente se renda a clichês pouco interessantes, a primeira temporada de Riverdale acerta no desenvolvimento de seus personagens e na construção envolvente da investigação que serve como trama principal.


Nota: 7/10

Trailer

Um comentário:

Unknown disse...

Após assistir Riverdade 1 e 2 temporada, assisti Twin Peaks e só posso dizer o seguinte: Éramos felizes e não sabíamos. Série fraquíssima, com a maioria dos atores de péssima atuação, confusão no roteiro, ideias chupadas de outras séries. História sem pé nem cabeça apenas para entreter as novas gerações com pouca coisa na cabeça.