segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Crítica - A Bailarina

Análise A Bailarina


Review A Bailarina
Animações sobre jovens que partem de seus locais de origem em busca de um sonho e aprendem sobre a importância da persistência e humildade existem aos montes. A Bailarina é mais uma dessas histórias infantis e se algumas tentam ir além do molde ou oferecer algo mais, esta animação faz muito pouco para evitar os lugares-comuns que sua trama inevitavelmente a leva.

A narrativa acompanha Felicie (voz de Elle Fanning), uma jovem orfã que sonha em ser uma bailarina. Um dia ela decide fugir do orfanato onde mora junto com o amigo Victor (voz de Dane DeHaan) e ambos partem para Paris. Lá ele irá tentar se tornar um grande inventor enquanto que ela irá tentar se tornar uma bailarina do teatro de Paris, mas no seu caminho está a aristocrática e perfeccionista Camille (voz de Maddie Ziegler), que logo se torna sua rival.

Felicie é a típica mocinha sonhadora, Camille é a rival invejosa e Odette (voz de Carly Rae Jepsen), a "tutora" de Felicie, é a típica mestra com trauma do passado. No instante que vemos Odette pela primeira vez com sua bengala, já é possível antever a revelação sobre seu passado. Do mesmo modo, cada movimento da narrativa é telegrafado com extrema antecedência tornando tudo aborrecidamente previsível.

Em sua jornada para se tornar uma bailarina, Felicie irá aprender com Odette, que é adepta à "pedagogia Sr. Myiagi" de ensino, que consiste de colocar a aluna para realizar tarefas aparentemente banais para depois revelar como aquilo a ajudou a melhorar sua técnica. A disputa entre uma protagonista de origem humilde e cheia de força de vontade contra uma rival de classe alta e técnica perfeita, mas sem paixão, também é outro lugar comum. O filme até pontua isso em uma montagem de treinamento estilo Rocky, com a protagonista treinando com aparelhos rústicos e improvisados enquanto a rival usa métodos muito mais rígidos. Como muitos filmes infantis traz uma importante mensagem sobre acreditar eu seus sonhos e fazer aquilo que se ama, mas o faz com uma excessiva adesão aos clichês e sem a mesma criatividade e vibração de outras animações infantis, como o recente Moana: Um Mar de Aventuras.

A vilã, a mãe de Camille, exagera tanto na maldade que chega a destoar do restante do filme, parecendo algo saído de uma outra obra. Isso atinge o ápice no clímax quando a trama a transforma numa espécie de exterminador do futuro homicida conforme ela corre enlouquecidamente atrás de Felicie com uma marreta gigante (é sério) numa cena que sequer precisava existir, visto que o conflito principal já tinha sido resolvido. As tentativas de usar Victor para gerar humor nem sempre funcionam, principalmente quando o filme resolve repetir algumas gags cômicas que já não eram muito engraçadas da primeira vez. Se tem algo que redime o filme são os números de dança, muitos inspirados em coreografias reais de balé clássico de peças como O Lago dos Cisnes ou O Quebra-Nozes, que transmitem o fascínio e o encantamento que as personagens tem pela dança, mas é uma pena que sejam breves demais para conseguir tirar o filme da mesmice.

A Bailarina certamente pode agradar as crianças, em especial quem gostar de balé, mas os adultos terão muito pouco a apreciar nesta trama lotada de clichês e ocasionais exageros.


Nota: 5/10


Trailer

Um comentário:

Pau Kuri disse...

Eu achei a música muito agradável! Norman McLaren afirmava que o cinema de animação não era a arte dos desenhos em movimento, mas a arte do movimento que é desenhado. A Bailarina é um filme de texturas luxuosas e grandiloquentes movimentos da câmera virtual, criados para realçar a grandiosidade dos cenários. O enredo possui alguns detalhes inesperados que passam por certa amoralidade nas ações de sua heroína, capaz de fingir ser outra pessoa para atingir os objetivos que ela acha que são negados por pura questão de classe. As profundas debilidades do filme aparecem quando os personagens se movem e, especialmente, quando dançam, sujeitos a movimentos que pouco lembram a leveza graciosa dos corpos na dança clássica e que, em vez disso, mostram as limitações de certa animação digital quando amarra às cadeias do algoritmo a liberdade do traço do artista artesão.